16 de outubro de 2013

NA ISLÂNDIA, UMA EM CADA DEZ PESSOAS PUBLICARÁ UM LIVRO - Rosie Goldsmith


A Islândia está vivendo um boom literário. Esta ilha com um pouco mais de 300 mil habitantes tem mais escritores, mais livros publicados e mais livros lidos per capita do que qualquer outro lugar do mundo.

É difícil evitar o contato com escritores na capital Reykjavik.

Há uma frase em islandês que diz, "ad ganga med bok I maganum", todo mundo dá origem a um livro. Literalmente, todo mundo "tem um livro em seu estômago".

Um em cada dez islandeses irá publicar um livro.

"A competição é grande?", pergunto à jovem romancista Kristin Eirikskdottir.

"Sim. Especialmente porque eu moro com a minha mãe e o meu parceiro, que também são escritores em tempo integral. Mas tentamos publicar em anos alternados para não competirmos muito."
Histórias por toda parte

Datadas do século 13, as sagas islandesas contam histórias de colonos nórdicos que começaram a chegar à ilha no final do século 9.

Sagas são escritas em guardanapos e copos de café. Cada gêiser e cachoeira que visitamos serviu de inspiração para um conto de antigos heróis e heroínas.

Nosso guia se levanta no meio do passeio para recitar uma poesia de autoria própria. O pai e o avô do nosso motorista de táxi escrevem biografias.

Bancos de rua têm códigos de barras que permitem escutar uma história em no smartfone enquanto estiver sentado.

Estamos na época do festival literário, e Reykjavik está repleta de escritores.

A vencedora do Prêmio Man Booker, a indiana Kiran Desai, e o autor deGeração X, o canadense Douglas Coupland, estão lado a lado com as estrelas literárias islandesas Gerdur Kristny e Sjon.

Sjon também escreve letras de música para Bjork, a famosa cantora e compositora islandesa.
Romance policial

"Escritores são respeitados aqui", Agla Magnusdottir me diz. "Eles vivem bem. Alguns até recebem um salário."

Feira de livros em Reykjavík, Islândia

Magnusdottir é responsável pelo novo Centro de Literatura da Islândia, que oferece apoio estatal para a literatura e sua tradução.

"Eles escrevem tudo - sagas modernas, poesias, livros infantis, literatura e ficção erótica - mas o gênero que mais cresce é o romance policial", diz ela.

Essa, talvez, não seja nenhuma surpresa neste país nórdico. Mas a venda de romances policiais é impressionante - o dobro do que em qualquer um de seus vizinhos nórdicos.

Então, o que levou a esse boom literário?

Eu diria que é devido a uma safra de excelentes escritores, que escrevem contos fascinantes, com personagens fantásticos.

Os leitos de rios formados por lava negra, gêiseres, terras que borbulham, vulcões, e rios que lembram contos de fadas também tornam o cenário da Islândia perfeito para histórias.

Não é à toa que o britânico J.R.R. Tolkien, autor de Senhor dos Anéis, e o poeta irlandês Seamus Heaney se encantaram pelo país, e a Unesco designou Reykjavik como a Cidade da Literatura em 2011.
Nação de contadores de histórias

Solvi Bjorn Siggurdsson, um romancista islandês, diz que os escritores devem muito ao passado.

"Nós somos uma nação de contadores de histórias. Quando estava escuro e frio, não tínhamos mais nada para fazer", diz ele. "Graças aos Eddas poéticos (coleção de poemas em nórdico antigo) e sagas medievais, fomos sempre cercados por histórias. Após a independência da Dinamarca, em 1944, a literatura ajudou a definir nossa identidade."

Siggurdsson presta homenagem ao islandês ganhador do Nobel de Literatura, Halldór Laxness, cujos livros são vendidos em postos de gasolina e centros turísticos de toda a ilha.

Moradores dão o nome de Laxness a seus gatos, e fazem peregrinações a sua casa.

"Quando Laxness ganhou o prêmio Nobel em 1955, ele colocou a literatura islandesa moderna no mapa", Solvi me diz. "Ele nos deu confiança para escrever."

A nuvem de cinzas de um dos muitos vulcões ativos da Islândia que causou caos aéreo em 2010, e a crise financeira – ou "kreppa" – que ajudou a desencadear a crise econômica mundial de 2008, também colocaram a Islândia no mapa.

Hallgrimur Helgason - comediante, pintor e escritor – me diz que o kreppa trouxe os islandeses de volta à realidade.

A cantora islandesa Bjork esteve presente em vários eventos do festival

"A crise nos tornou menos complacentes e deu incentivo criativo aos artistas - como Thatcher fez na Grã-Bretanha", ele sorri. "Abordamos política também, não é tudo sobre sagas".
Crise literária

Mas alguns temem um kreppa literário. A Islândia tem tantos escritores que há enorme pressão sobre os editores.

Nesta época do ano acontece o que os islandeses chamam de "jolabokaflod", quando a maioria dos livros são publicados pensando nas vendas de Natal.

Cada família recebe um catálogo de livros. Todos ganham livros de presente de Natal – de capa dura e devidamente embalado.

"Mesmo agora, quando vou ao cabeleireiro, as mulheres não querem que eu conte fofocas de celebridades, mas recomendações de livros para o Natal", diz Kristin Vidarsdottir, gerente do projeto da Unesco Cidade da Literatura.

Mas é uma mecha de cabelo azul, que chama a minha atenção para a presença da celebridade mais famosa da Islândia. A cantora Bjork está presente em vários dos eventos do festival.

"É ótimo ver você apoiar escritores", eu digo à ela.

"É um lugar pequeno. Nós crescemos juntos", ela responde. "Nós apoiamos um ao outro."

Se a Bjork já foi algum dia a maior marca cultural da Islândia, ela é hoje acompanhada por uma enchente de autores.

Extraído do sítio BBC Brasil

REAL ACADEMIA ESPANHOLA, 300 ANOS E UMA INSPIRAÇÃO PARA A LÍNGUA PORTUGUESA INTERNACIONAL


A Língua Portuguesa, de grande uso internacional e de prestígio em seu valor literário, está ainda construindo mecanismos para garantir a sua coesão e unidade em âmbito mundial e precisa criar dispositivos para torná-la apta aos usos das tecnologias da atual “era da globalização”.

Esse desafio será o tema principal da II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, a ser realizada nos dias 29 e 30 de outubro, em Lisboa.

A missão da Língua “filha ilustre do Latim” pode receber inspiração no trabalho desempenhado no espanhol pela Real Academia Espanhola – que completou 300 anos de fundação em 2013 e que tutela pelos usos da língua de Cervantes em alcance mundial. Graças a ela, mantiveram-se as mesmas regras de ortografia em uma língua de 400 milhões de falantes, com uma diversidade de sotaques e vocábulos regionais.

Um dos mais recentes grandes marcos dos trabalhos da Real Academia em prol do espanhol foi a publicação da Nova Gramática da Língua Espanhola em 2009, bem como a constante atualização da versão em linha na Internet do seu Dicionário da Língua Espanhola.

Ventos da Lusofonia reproduz uma matéria do jornal argentino Los Andes, de Mendoza, em que faz referência aos 300 anos de criação da Real Academia Espanhola e do seu trabalho de promoção e tutela da língua espanhola para a sua aplicação nos mais variados usos, sobretudo no das Tecnologias da Informação. E como esse cuidado linguístico pela união pode ser inspirador para as grandes instituições da Língua Portuguesa.

A Real Academia Espanhola completou 300 anos a zelar pela língua espanhola 

Fundada em 1713, a Real Academia Espanhola tem como principal objetivo a tutela da língua espanhola, garantindo-lhe a coesão e a unidade em âmbito internacional.

A Real Academia Espanhola foi fundada há 300 anos por Juan Manuel Fernández Pacheco, marquês de Villena, que queria “assegurar de que os falantes de espanhol sempre estarão aptos a ler Cervantes”. A Academia em Madri surgiu com o propósito inicial de “fixar as vozes e os vocábulos da língua castelhana em sua maior propriedade, elegância e pureza”.

Os responsáveis pela instituição que zela pela língua espanhola no mundo creem que ela cumpriu esta meta, bem como de “garantir que as mudanças experimentadas pela língua espanhola em sua constante adaptação às necessidades dos seus falantes não quebrem a unidade essencial que mantém em todo o mundo hispânico”.

Membros acadêmicos da Real Academia Espanhola, instituição criada para “fixar as vozes e os vocábulos da língua castelhana em sua maior propriedade, elegância e pureza”.

“Limpa, fixa e dá esplendor”

A Real Academia foi fundada em Madri em 1713, com a proteção do rei Filipe V. O seu lema é “Limpia, fija y da esplendor” (“Limpa, fixa e dá esplendor”). “Foi criada imitando a Academia Francesa”, diz a professora María del Rosario de Perotti, diretora do Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional de Cuyo, de Mendoza. Ela analisa se a Academia cumpriu com o seu lema.

“‘Limpa’? Sim, porque determina, em defesa do espanhol, quais termos devem ser ditos em nossa língua e quais não têm adaptação para que sejam mantidos como ‘estrangeirismos em estado cru’. ‘Fixa’? Sim, porque revitaliza regras antigas, descarta outras por obsoletas e atualiza a escrita ao ritmo do dinamismo do idioma.

‘Dá esplendor’? Considerando a falta de perspectiva do facto contemporâneo de recorrermos aos académicos, podemos dizer que se trata de tornar esplêndido o uso do espanhol, defendendo os usos de prestígio e sendo rigorosos no respeito às normas e às etimologias, como visões de outros mundos e culturas, escondidas por trás de cada termo”, explicou.

Trabalho conjunto com a Associação de Academias de Língua Espanhola 


O trabalho de promoção do espanhol não é exercido apenas pela Real Academia: é feito em conjunto com as 21 Academias nacionais de língua espanhola, que formaram em 1951 a Asssociação de Academias de Língua Espanhola. Essa associação e a Real Academia lançaram juntas o Dicionário Pan-hispânico de Dúvidas em 2005 e a Nova Gramática da Língua Espanhola em 2009.

Quanto à Nova Gramática, explica Gabriela Azzoni, linguista da Universidade Nacional de Cuyo: “É um manual muito amplo e abrangente, com as diretrizes que formam a estrutura da nossa língua. Além disso, é um esforço acadêmico de refletir todas as variedades do espanhol, de forma a harmonizar a unidade e a diversidade”.

“A Real Academia prestou atenção especial ao falante americano e, para sistematizar os vários usos distintos da língua, baseou-se em textos atuais de natureza variada. Com isso, há uma abertura para a diversidade linguística, sem perder de vista o seu compromisso de garantir a unidade hispânica”, afirmou Azzoni.

E tanto a Associação quanto a Real Academia revisam o Dicionário da Real Academia Espanhola, publicado pela primeira vez em 1780, cuja versão em linha pode ser visitada na Internet e é atualizada permanentemente.


O Dicionário da Real Academia, editado desde 1780, e a Nova Gramática da Língua Espanhola, lançada em 2009, são obras de referência para a promoção do uso internacional da língua espanhola.

Para garantir a identidade no mundo das Tecnologias da Informação 

Língua de caráter internacional – assim como a Língua Portuguesa –, o espanhol tem cerca de 410 milhões de falantes, perdendo apenas em mesmo número de falantes para o inglês, dentre as línguas europeias. De cada dez falantes de espanhol, um vive na Europa e os outros nove no continente americano. Está presente com grande número de falantes nos Estados Unidos e no bloco da União Europeia, além de já ser língua oficial das Nações Unidas.

Exatamente como no português, o espanhol tem grande vitalidade na literatura, mas carece de mecanismos de desenvolvimento para o uso em áreas estratégicas da atual “era da globalização” como comércio, Tecnologias da Informação e investigação científica.

A mestre em Ciências da Linguagem, também da Universidade Nacional de Cuyo, María Julia Amadeo, declarou que a Real Academia tenta incluir a letra ñ nos procolos da Internet. “A letra ñ é distintiva da identidade da língua espanhola e poder teclá-la na Internet significa marcar presença em linha na Rede tal como somos.”

María Julia Amedeo explica que as sociedades sempre tiveram tendência à desagregação, tal como as línguas; por isso, várias instituições humanas foram criadas para manter a coesão: leis, Estados e instituições culturais, como as Academias de línguas.

“Na verdade, a Real Academia não é a única que sabe o caminho, mas é um fiel e paciente notário; a instituição registra os usos que nós falantes fazemos da língua.” E ela complementa: “A Real Academia soube reescrever-se no compasso das reconfigurações políticas da Espanha e talvez seja este um dos segredos de sua vitalidade.”

“Isso reflete o trabalho intenso realizado sobre a língua como uma estratégia para afirmar um projeto político”, diz ainda María Julia Amedeo. Para ela, portanto, “limpa, fixa e dá esplendor” pode hoje ainda soar para muitos como frase de uma propaganda antiga de sabões, mas foi esse o papel que a Real Academia Espanhola conseguiu cumprir com eficiência na língua de Cervantes nos últimos três séculos. :::

* Com base em ROMANELLO, Carla. La Real Academía cumplió 300 años en custodia del español. Extraído do jornal Los Andes – Mendoza, Argentina. Publicado em: 28 set. 2013.


Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

15 de outubro de 2013

A CARTA DE DESPEDIDA DE GABRIEL GARCÍA MARQUÉZ

A doença levou a que o Prémio Nobel da Literatura (1982) deixasse de escrever livros, mas não lhe retirou a força das palavras. Leia a carta de despedida do escritor colombiano.

O dom da escrita fez de Gabriel García Marquéz, Prémio Nobel da Literatura (1982), um dos autores de referência do século XX. No ano passado, Jaime García Marquéz, irmão do autor, anunciou ao Mundo que o escritor sofria de uma demência senil. Em jeito de despedida, o Nobel escreveu uma carta. Leia na íntegra.

“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jorgar-me-ia de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo das suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.

Aos homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer.”

Extraído do sítio Correio da Manhã

IMPOSTOS PAGOS NO BRASIL PESAM NA DISPUTA COM VINHOS IMPORTADOS - Júlia Pereira

Conforme Juarez Valduga, presidente da Casa Valduga e da Aprovale, a carga tributária ao setor chega a 57% do valor da garrafa.

As vendas dentro e fora do Brasil ainda são limitadas por deficiências na distribuição, reconhecem os produtores. Como a maioria das vinícolas são pequenas e dispõem de pouco capital, há dificuldade em levar produtos para mercados distantes ou abastecer grandes redes de supermercados no Sudeste, que concentra a grande massa de consumo.

Em muitos casos, as vinícolas menores, que plantam de 10 a 15 hectares, recorrem a importadores brasileiros para deslocar seus produtos até o centro do país. A exceção fica com vinícolas com amplas estruturas de distribuição, como Miolo, Casa Valduga, Aurora e Lídio Carraro. E as estantes remanescentes acabam recebendo vinhos chilenos e argentinos.

— Nos últimos anos, se investiu muito na produção. Agora, é preciso pensar no mercado, na distribuição — explica Felipe Bebber, enólogo da Casa Venturini, de Flores da Cunha.

A disputa com os importados também é prejudicada pelos impostos. Conforme Juarez Valduga, presidente da Casa Valduga e da Aprovale, a carga tributária ao setor chega a 57% do valor da garrafa. Já um vinho importado pode pagar uma taxa de apenas 4%, dependendo dos incentivos que recebe em seu país. No Chile, os vinhos praticamente não pagam impostos, pois há compensação na compra de máquinas.

— Em alguns países da Europa, o vinho é considerado alimento, e a carga tributária fica bem abaixo da brasileira — explica Valduga.

Outro entrave para desarrolhar as vendas é o consumo per capita do país. Enquanto na França e na Itália cada pessoa consome de 20 a 30 litros por ano, no Brasil esse número é de 2,5 litros. Sem mercado e na necessidade de esvaziar os estoques para a nova safra, muitas vinícolas freiam a produção ou acabam exportando vinho à granel ao Exterior, explica Valduga, faturando menos do que ganharia se vendessem em garrafas.

Extraído do sítio Mauro Negruni

XICO SÁ EM FINAL DE PRÊMIO


Já foram escolhidos os 20 livros e autores finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo para contemplar os melhores romances em língua portuguesa publicados em todo o País. São 10 escritores concorrendo ao prêmio de R$ 200 mil da categoria Melhor Livro do Ano, na qual concorre o cearense Xico Sá e seu "Big jato", e outros 10 na categoria Melhor Livro do Ano de Autor Estreante. Este ano, o Prêmio tem uma novidade para os estreantes: serão contemplados dois escritores, um com mais de quarenta anos e outro com até quarenta anos, cada um com valor de R$ 100 mil. Todos os livros finalistas foram publicados em 2012.

A mudança visa à ampliação o alcance do Prêmio, cujo objetivo é reconhecer e, principalmente, incentivar a criação literária em língua portuguesa. Criado em 2008 pela Secretaria de Estado da Cultura, o Prêmio São Paulo de Literatura é o que concede a maior premiação do País - R$ 400 mil no total.

Foram enviados 187 livros para inscrição, sendo que 168 obras de todo o País entraram na competição. Desses, são 80 de autores "veteranos", 38 de autores estreantes com até quarenta anos e 50 de estreantes com mais de quarenta. Todos são livros de ficção no gênero romance, escritos originalmente em língua portuguesa, com primeira edição mundial no Brasil e cuja comercialização da primeira edição tenha ocorrido no ano de 2012.

Os autores inscritos na categoria Melhor Livro do Ano podem ter publicado romances anteriormente. Já na categoria Melhor Livro do Ano - Autor Estreante, os escritores podem ter outras obras publicadas, desde que o livro inscrito seja o seu primeiro no gênero romance.

A ênfase no romance é uma característica do Prêmio São Paulo de Literatura desde sua criação, em 2008, inspirado no britânico Booker Prize. Atualmente, ele é executado em parceria com a organização social SP Leituras.

O anúncio do resultado final do Prêmio será feito no dia 25 de novembro, no auditório do Museu da Língua Portuguesa. Até a cerimônia, o público de todo o Estado terá a oportunidade de conhecer alguns dos finalistas, que serão convidados para participar debates promovidos pelo Prêmio tanto na Capital quanto no interior do Estado. Como nos anos anteriores, o júri inicial foi composto por 10 profissionais ligados à área do livro e da leitura, incluindo livreiros, editores, acadêmicos e críticos. Os jurados foram: Ana Lúcia Trevisan, Gênese Andrade da Silva, José Roberto Barreto Lins Filho, Marco Antonio de Moraes, Maria da Aparecida Saldanha, Ricardo Ramos Filho, Sandra Regina Ferro Espilotro, Silvio Lancellotti, Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite e Vera Sá.

Já os curadores do Prêmio têm, dentre outras, a responsabilidade de propor os membros do júri inicial do prêmio e avaliar se os livros inscritos cumpriam o regulamento do concurso. Os curadores desta edição do Prêmio são Lígia Fonseca Ferreira, Marcia Elisa Garcia de Grandi, Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan, Marisa Philbert Lajolo e Quartim de Moraes. O júri final, que escolherá os três vencedores, será formado por cinco profissionais do meio literário a serem escolhidos pela organização.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

MÁRIO VILALVA: "O BRASIL ESTÁ SOLIDAMENTE COMPROMETIDO COM O ACORDO ORTOGRÁFICO"

Mário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal: “O Brasil está solidamente comprometido com o Acordo Ortográfico”.

O Brasil está “solidamente comprometido” quanto à aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa assinado em Lisboa em 1990 por representantes dos governos de todos os Estados membros da CPLP – a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Quem fez esta declaração foi o embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, em opinião expressa publicada no dia 9 de setembro no Diário de Notícias, de Lisboa. O artigo é uma resposta à petição intitulada Pela Desvinculação de Portugal ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que obteve mais de 6 mil assinaturas e foi levada à Assembleia da República para discussão entre os parlamentares da República Portuguesa.

O embaixador brasileiro afirmou que, “para o Brasil, o Acordo Ortográfico é um avanço nas relações entre os países da CPLP”.

O embaixador destacou que a implementação do Acordo trará vantagens a todo o mundo de Língua Portuguesa, pois derrubará os custos no mercado editorial e facilitará o aprendizado da Língua com regras unificadas de escrita – sem que haja a diferenciação entre “português de Portugal” e “português do Brasil”.

A obrigatoriedade de uso das regras do Acordo Ortográfico entrará em vigor efetivo em 2015 tanto no Brasil quanto em Portugal. Inicialmente prevista para janeiro de 2013, o Brasil havia adiado a adoção integral do Acordo através de decreto presidencial, para “conceder mais tempo ao convívio entre as regras novas e antigas” aos brasileiros e também “para ajustar o ritmo de implementação” das novas regras de escrita “ao compasso dos demais países da CPLP”.

Ventos da Lusofonia reproduz a seguir o artigo de opinião do embaixador brasileiro em Lisboa, Mário Vilalva, intitulado O Brasil e o Acordo Ortográfico, publicado no Diário de Notícias, em que esclarece a posição brasileira quanto ao Acordo que unifica as regras de escrita da Língua Portuguesa em âmbito mundial.

O Brasil e o Acordo OrtográficoMário Vilalva


Constato que em Portugal há algumas resistências ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AOLP), firmado em Lisboa, em 1990, pelos países membros da CPLP. A petição pela desvinculação do País ao Acordo Ortográfico, submetida, segundo informou a imprensa, à Assembleia da República, é mais uma das manifestações dessa oposição, baseada, entre outros motivos, na interpretação equivocada de que o Governo brasileiro, por meio de recente ato legislativo, estaria expressando dúvidas quanto à implementação do Acordo. De modo a contribuir para o debate, e com vista a evitar percepções incorretas sobre o comprometimento de nossos governos, é essencial proceder a um esclarecimento dos factos.

Em 2012, o Brasil aprovou a prorrogação, até 2015, do prazo de transição para adoção integral do AOLP. A intenção do Governo correspondeu a uma adequação dos prazos para torná-los compatíveis com a tarefa de adaptar a grafia do português em um país com 200 milhões de habitantes e com dimensões continentais. Ademais, procurou o referido ato ajustar o ritmo de implementação do AOLP ao compasso dos demais países da CPLP.

Tratava-se de conceder mais tempo ao convívio entre as regras novas e antigas. O Governo brasileiro está solidamente comprometido com o Acordo Ortográfico, não cogita promover retrocessos e não admite a reabertura de negociações sobre o seu texto. As regras do Acordo Ortográfico já vigoram no Brasil, sendo amplamente utilizadas nos órgãos públicos, nas escolas, na imprensa e nas indústrias culturais.

Para o Brasil, o Acordo Ortográfico é um avanço nas relações entre os países da CPLP. No passado, houve uma indesejável bifurcação linguística entre as variantes portuguesa e brasileira do idioma – facto que levou à impossibilidade de interligarmos os nossos mercados editorais sem custos adicionais.

O AOLP representa a convergência entre as expressões orais e escritas da Língua Portuguesa, conferindo novas ferramentas à difusão e ao ensino do idioma – o que significa dizer que livros, materiais didáticos e programas de educação à distância poderão ser reproduzidos sem os custos de adaptação do idioma a públicos diferentes.

A força da Língua depende de sua difusão, de seu uso e de seu valor econômico. Hoje, a comunidade lusófona reúne cerca de 250 milhões de pessoas, e o português é uma das línguas mais faladas – a sexta no mundo, a terceira no Ocidente e a primeira no Hemisfério Sul. A unificação da grafia permitirá potenciar a economia dos países lusófonos, os quais já atraem um número crescente de agentes econômicos.

A Língua Portuguesa, tradicionalmente uma Língua das humanidades, vem-se tornando uma Língua de ciência e tecnologia. Isto é uma realidade nas relações Brasil-Portugal graças ao aumento da cooperação acadêmica e ao crescente intercâmbio em áreas de ponta como nanotecnologia, biotecnologia e energia. No campo industrial, destacam-se a cooperação em tecnologias aeronáuticas e na área da telefonia.

Porém, as diferenças linguísticas ainda criam entraves no ensino: aos alunos estrangeiros ora ensina-se o “português de Portugal”, ora o “português do Brasil”, com certificações de proficiência separadas, conferidas, respectivamente, pelo Instituto Camões, em Portugal, e pelo Ministério da Educação do Brasil. Com a unificação, será possível ampliar a cooperação no ensino da Língua e fortalecer ações conjuntas para torná-la um idioma oficial em mais organismos internacionais.

Por esses e outros motivos, o Acordo Ortográfico é inegavelmente mais benéfico aos países lusófonos e auspicioso ao futuro da Língua Portuguesa do que a perpetuação de divergências no campo linguístico. 

* VILALVA, Mário. O Brasil e o Acordo Ortográfico. Extraído do jornal Diário de Notícias – seção Opinião. Lisboa, Portugal. Publicado em: 09 out. 2013.

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

LAURENTINO GOMES: "O BIOGRAFADO NÃO É DONO DA SUA PRÓPRIA BIOGRAFIA" - Luisa Frey

Após discutir o tema biografias históricas na Feira de Frankfurt, o autor de "1808" e um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro falou à DW Brasil sobre as peculiaridades e o sucesso de seus livros.


Os dois primeiros livros de Laurentino Gomes – 1808, sobre a fuga da corte portuguesa de dom João 6º para o Rio de Janeiro, e 1822, sobre a Independência do Brasil – venderam juntos 1,5 milhão de exemplares. O terceiro livro da trilogia histórica, 1889, sobre a Proclamação da República, foi lançado em agosto e já vendeu outras centenas de milhares de cópias.

O jornalista paranaense de 57 anos conquistou o público com uma linguagem simples e direta e anedotas envolvendo personagens como "uma rainha louca", "um príncipe medroso" e "um marechal vaidoso". Recebeu quatro Prêmios Jabuti e o prêmio de Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras.

Na Feira de Frankfurt, Gomes integrou a comitiva de autores brasileiros e participou de uma discussão acalorada sobre biografias. Em conversa com a DW, o autor falou sobre seus livros e sobre seu trabalho, que ele salienta ser de jornalista e não de historiador.

DW Brasil: A que fatores você atribui a boa recepção de seus livros?

Laurentino Gomes: Um dos fatores é a linguagem. Sou jornalista, com mais de 30 anos de experiência, e o jornalista tem a missão de atingir um público muitas vezes leigo no assunto abordado. É o que faço com a História do Brasil.

Por isso uso títulos provocativos: "Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil". A linguagem também é acessível, misturando elementos pitorescos, curiosos e bem-humorados.

O segundo fator é o fato de o Brasil ser uma democracia há mais de 30 anos, sem ruptura. Os brasileiros estão olhando para o passado em busca de explicações para o presente. A melhor coisa que se pode fazer num ambiente democrático, em que se tem o objetivo de construir o futuro, é estudar história. Tudo isso somado resulta num fenômeno editorial, que confesso também ter me surpreendido.

Como surgiu a ideia de escrever sobre o Brasil do século 19?

Surgiu por acaso. Eu era editor da revista Veja e lá havia um projeto de fazer uma série de especiais sobre a História do Brasil. Um deles era sobre a ida da corte de dom João para o Rio de Janeiro, em 1808. Mas aí a série foi cancelada. Decidi transformá-la num projeto pessoal e fazer um livro-reportagem.

Eu já tinha começado a pesquisar sobre o assunto e estava fascinado com os personagens, como dom João, o rei que não tomava banho e comia quantidades monumentais de franguinho. Depois do sucesso do 1808, vieram o segundo e o terceiro livro. Virei refém da minha obra e deixei minha atividade nas redações.

Para o primeiro livro, 1808, foram necessários dez anos de pesquisa. Quais foram as principais fontes de informação usadas neste e nos outros livros da trilogia?

Faço uma consolidação da bibliografia já construída por historiadores. Não sou um historiador acadêmico que mergulha em arquivos em busca de fontes primárias. Para o 1808, li cerca de cem livros. Para o 1822, também. E para o último, 1889, foram 150 livros.

Você foi influenciado por algum autor? Conhece algum trabalho semelhante ao seu?

Sim. Leio muitos autores americanos, como Joseph Ellis. São historiadores que escrevem como bons jornalistas ou bons jornalistas que escrevem como bons historiadores. O mercado editorial francês e inglês é muito próspero nesse tipo de obra de divulgação científica, não só na área de história, mas também biologia, psicologia, economia.

Também há autores brasileiros, como Fernando Morais, Ruy Castro e Elio Gaspari, que são jornalistas convertidos em historiadores e escrevem numa linguagem muito fácil de entender.

Você se considera um jornalista convertido em historiador?

Não, sou um jornalista que circunstancialmente está escrevendo sobre História do Brasil.

Nos seus livros, você escreve uma espécie de biografia de personagens da história que já morreram. Recentemente, algumas personalidades brasileiras, ainda vivas, protestaram contra biografias escritas sobre elas. Você acredita que, se dom João, Carlota Joaquina ou o marechal Deodoro estivessem vivos, eles não iram gostar do que você escreve?

Certamente [risos]. Acho que se uma biografia, se for jornalística e equilibrada – ou seja, não for chapa-branca – sempre vai incomodar o biografado. Se alguém fizesse uma biografia minha, dificilmente eu não encontraria coisas que eu quisesse esconder ou mudar. Mas o biógrafo deve ter liberdade para interpretar os acontecimentos. O biografado não é dono da sua própria biografia.

Laurentino Gomes: "sou um jornalista que está escrevendo sobre história do Brasil"
No novo livro, 1889, sobre a Proclamação da República, quais são os personagens da vez?

Jogo foco no imperador Pedro 2º, que governou o Brasil por quase meio século. Era um amante das ciências e dos livros e governava um país dominado pelo analfabetismo, pela escravidão, pela pobreza, pelo latifúndio.

Há também personagens como o marechal Deodoro da Fonseca, que era monarquista e se tornou o líder do golpe republicano por força das circunstâncias. Tem ainda o Benjamin Constant, a princesa Isabel, o marechal Floriano Peixoto.

Esses personagens formam um painel do que foi a Proclamação da República no Brasil, um evento que ainda é muito controverso. Acho que é um assunto mais quente do que o dos meus dois livros anteriores.

Além da trilogia e de uma versão infanto-juvenil do seu primeiro livro, você acaba de publicar o 1808 nos EUA. Quais as expectativas para o livro em inglês? Acredita que haja interesse pela história brasileira fora do país?

Hoje existe um grande interesse pelo Brasil mundo afora. O Brasil é um país emergente, se candidatou a ter um novo papel na comunidade internacional e é relativamente desconhecido pelos estrangeiros. Existe muita curiosidade para entender que país é esse. Como meus livros narram a História do Brasil numa linguagem fácil de entender, acho que podem atrair essas pessoas.

E no Brasil? Quando você escreveu os livros, quem era seu público-alvo e quem eles realmente atingiram depois de publicados?

No começo, achei que seria um público parecido com o da Veja, na qual eu trabalhava, ou seja, de classe média, formador de opinião. Mas fui surpreendido. O público dos meus livros inclui gente de todas as faixas de renda e etárias.

Em sessões de autógrafo, encontro pessoas muito simples, que provavelmente não teriam dinheiro para comprar um livro, mas dizem: "estou comprando o seu livro porque meu filho precisa estudar a História do Brasil". Isso me deixa envaidecido, mas me dá também uma sensação de responsabilidade, de papel social.

Extraído do sítio Deutsche Welle

OBRAS DO BANKSY SÃO VENDIDAS POR R$ 130 EM BARRACA

Telas originais e assinadas pelo artista de rua britânico Banksy foram vendidas em uma barraca no Central Park, em Nova York, por US$ 60 (R$ 130) cada.

O artista postou um vídeo em seu site mostrando um homem vendendo o que parecia ser um conjunto de Banksys falsos.

Muitas das obras, estimadas em até R$ 69.700 cada, não foram vendidas.

Banksy está passando um mês em Nova York e prometeu produzir uma nova peça de arte de rua por dia durante o período.

Intitulada Better Out Than In, a mostra pública tem o seu próprio website, onde fotos e vídeos das obras de arte foram postados.

O vídeo mais recente foi acompanhado das palavras: "Ontem eu montei uma barraca no parque vendendo telas 100% autênticas e originais assinadas. Cada uma por US$ 60."

Poucos compradores

O vídeo mostra um homem mais velho, desconhecido, fazendo sua primeira venda no meio da tarde à uma mulher que compra duas pequenas telas para seus filhos após negociar um desconto de 50%.

Outra mulher da Nova Zelândia é vista comprando duas pinturas, antes de um homem de Chicago comprar quatro.

Ele diz ao homem que está cuidando da barraca que se mudou recentemente de casa e que precisa de algo para as paredes.

As vendas do dia chegaram a um total de US$ 420 (R$ 915).

Embaixo do vídeo, Banksy acrescentou: "Por favor, note: Este foi um acontecimento único. A barraca não estará lá hoje."

Obra sem preço anexado

Em uma entrevista recente, realizada via e-mail para a revista novaiorquina Village Voice, o artista - cuja identidade ainda é um segredo - revelou a ideia por trás de sua estadia de um mês na cidade.

"Eu sei que a arte de rua pode parecer cada vez mais parte do marketing de uma carreira artística, por isso eu queria fazer arte sem o preço anexado", disse ele.

"Não há mostra em galeria, livro ou filme. É inútil."

Todos os dias durante o mês de outubro uma nova peça que pode ser "graffiti, escultura, instalação de rua em larga escala, instalação de vídeo, ou uma obra padrão" será feita.

Entre as obras estão The Sirens of the Lambs, um caminhão de entrega de um matadouro cheio de animais de pelúcia que circulou pelo Meatpacking District, e obras de arte mais tradicionais, como um balão em forma de coração coberto de curativos em uma parede no Brooklyn.

Extraído do sítio BBC Brasil

14 de outubro de 2013

IMPEDIR BIOGRAFIA É CENSURA, DIZ RUY CASTRO - Ubiratan Brasil

Escritores encontraram-se com a ministra da Cultura, Marta Suplicy.

Heitor Ferraz conversa com Ruy Castro

As discussões entre artistas da música e da literatura sobre como regular a publicação de biografias de pessoas conhecidas ganhou um novo round. Em um encontro em que participou sozinho (Fernando Morais avisou, no início da semana, que não iria à Feira de Frankfurt), Ruy Castro manteve o tom acusatório levantado por Laurentino Gomes, na quarta-feira. “Os artistas da música propõem censura prévia. Se não for isso, já não entendo mais a língua portuguesa”, ironizou ele, em conversa com o mediador e poeta Heitor Ferraz Mello, no pavilhão brasileiro.

Autor de biografias clássicas, como Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova (1990) e Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha (1995), Ruy Castro definiu como seria o trabalho de um biógrafo segundo a vontade dos artistas da música: o interessado faz uma pesquisa detalhada, que deve consumir anos de trabalho; em seguida, escreve e, depois que julgar o texto finalizado, submete-o ao biografado. Este deve repassá-lo para um advogado, que, se encontrar algo desabonador, tem o poder de impedir a publicação. “E o biógrafo fica sem ganhar um tostão, mesmo com anos de trabalho realizado.”

O alvo de suas críticas é o grupo denominado Procure Saber, formado por Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Djavan e Roberto Carlos, entre outros, e que faz lobby contra biografias não autorizadas temendo ser alvo de trabalhos caluniosos. Na edição de ontem do Caderno 2, a empresária Paula Lavigne, que gerencia a carreira de Caetano e também responde pelo grupo, disse que os biógrafos é que estão agindo de forma antidemocrática e ditatorial. “É mentira que nós estamos querendo censurar ou proibir alguma coisa, nós só queremos discutir como vamos proteger nossa privacidade”, disse.

Ruy Castro, no entanto, sustenta que se trata de uma campanha antidemocrática e que vai atingir diretamente não apenas os biógrafos, mas também documentaristas e ensaístas. “As próximas gerações correm o risco de não conhecerem detalhes da vida e trajetória de importantes personagens da nossa história por conta do receio desses profissionais, que não pretendem se arriscar em projetos que correm o risco de não acontecer”, disse. “Podemos ter lacunas porque Roberto Carlos não quer que se fale de sua perna mecânica.”

Ele elencou exemplos que considera absurdos: “Recentemente, um artigo sobre um assunto qualquer trazia uma citação de Roberto Drummond como epígrafe. Somente uma citação para ilustrar o texto. Pois a viúva do escritor exigiu que se tirasse a frase do marido por não concordar com sua utilização”.

Alguns herdeiros, aliás, costumam dificultar acesso à vida de seus familiares, como acontece, enumera Castro, com os sobrinhos do poeta Manuel Bandeira e a filha do romancista Guimarães Rosa.

Ruy Castro relembrou o recente encontro que os escritores que representam o País na Alemanha tiveram com a ministra da Cultura, Marta Suplicy. Segundo ele, ela ficou feliz por conhecer o posicionamento dos biógrafos – até o momento, Marta só se informara sobre as reivindicações dos músicos. “Ela comentou que achava justa uma consideração deles sobre o recebimento de uma parte dos lucros gerados pela venda das biografias – como se vendêssemos milhões de cópias e fossemos milionários”, ironizou Castro. “Decidi falar e comentei que, com isso, teríamos de pagar dízimo aos músicos. O que é absurdo.”

Extraído do sítio O Estado de S. Paulo

FERNANDO SABINO MARCOU UM ENCONTRO DEFINITIVO COM A LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

Obra do autor, que sábado passado faria 90 anos, está viva e seu estilo ajudou a consagrar a crônica como gênero nacional.

 Fernando Sabino completaria neste sábado 90 anos. 

Uma idade e tanto para quem tinha como projeto de vida ser um menino e morreu, na véspera do Dia das Crianças, há nove anos. Sua obra é hoje um patrimônio da cultura brasileira, mas é sobretudo uma experiência de vida para milhões de pessoas. Poucos escritores partilharam com o público a sensação de amizade, de conversa entre iguais, de ler como quem divide um segredo. E ele sabia usar essa gentileza de muitas formas: pela aproximação ao mistério da vida que brota do banal, pela confissão de seus descaminhos de alma de forma sempre corajosa, ou, mais profundamente, como no romance 'O encontro marcado', mergulhando na difícil experiência humana do amadurecimento.

O escritor belo-horizontino começou cedo na literatura, tendo publicado o primeiro livro, 'Os grilos não cantam mais', aos 18 anos. O estreante recebe então carta elogiosa de Mário de Andrade, que passa a orientá-lo em correspondência depois reunida no livro 'Cartas a um jovem escritor', editado em 1982. Fernando assumiu ainda muito jovem responsabilidades convencionais, casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1944. De certa forma, parece ter pulado etapas, o que explicaria essa ambição lírica permanente pela recuperação da infância. Neste caminho, a publicação de 'O encontro marcado' ganha significação única em sua obra. Foi seu livro mais lido, passa das 100 edições, e é a mais realizada artisticamente de suas obras. 

Sabino elaborou um retrato ao mesmo tempo intenso da angústia jovem e dos costumes de uma sociedade fechada. O tema é um clássico e sua realização ainda insuperada na literatura brasileira. Pode-se compará-lo com outros romances estrangeiros, como 'O apanhador no campo de centeio', do norte-americano J. D. Salinger. Mas Sabino é mais maduro e profundo. Salinger, embora encante na linguagem e na evocação da fragilidade da juventude de maneira quase sublime, foge do sexo e deixa parte da vida de fora. Nosso romancista não cometeu com os jovens brasileiros descortesia de lhes recusar as demandas do corpo. O livro se abriria a leituras psicanalíticas, políticas e teológicas, sem se esgotar em nenhuma delas.

Romance de geração. Esta tem sido a definição mais presente quando se fala de 'O encontro marcado'. É certo que o romance apresenta a atmosfera moral de uma época bem marcada pelas referências de tempo e espaço. No entanto, com seu peso autobiográfico, é livro igualmente forte na psicologia e no sentimento. Essa ambiguidade entre razão e emoção – talvez a melhor definição do momento de transição da vida em direção ao amadurecimento – explica a continuada identificação com os leitores jovens de outros tempos. Há uma experiência definitiva em literatura: a releitura. Quem busca, tempos depois, 'O encontro marcado' certamente será capaz de sentir a vitalidade do romance. Ele permanece em contato com a alma jovem e angustiada que muita gente teima em soterrar com os valores da indiferença.

O romance foi lançado em 1956, o mesmo ano de 'Grande sertão: veredas', de Guimarães Rosa, e de 'A maçã no escuro', de Clarice Lispector (que, no entanto, seria publicado alguns anos depois). Juntos, os três configurariam o triângulo da literatura brasileira do período, abrindo flancos em direção à literatura urbana, à pesquisa psicológica e à saga metafísico-regional, em seus momentos de melhor e mais madura realização. 'O encontro marcado' acabou por se tornar tão gigantesco que se firmou como a obra máxima na bibliografia de Sabino. 

A forma de superar esse maciço literário, que poderia paralisar seu autor, se deu por meio da multiplicação de formas literárias e interesses humanos e artísticos. O escritor ensaiou trabalhos no cinema, fundou a produtora Bem-Te-Vi, dividiu a carreira de empresário com Rubem Braga nas editoras do Autor e Sabiá, escreveu livros de viagens, uma série de pequenos perfis e se dedicou ao jazz, uma de suas paixões, como baterista amador. Para testar seus instrumentos, publicou versão romanceada do evangelho “segundo o humor de Jesus”, 'Com a graça de Deus', e uma variação literária para 'Dom Casmurro', de Machado de Assis, 'Amor de Capitu'. 

Da intensidade metafísica, Sabino passaria para a literatura de entretenimento. Sempre com um estilo sofisticado e simples (receita que apenas ele e Rubem Braga pareciam conhecer), ajudou a firmar a crônica como um gênero literário tipicamente nacional. Escreveu centenas de textos para jornais, entre eles o Estado de Minas, que reunidos em livro se tornariam clássicos, como 'O homem nu' e 'A inglesa deslumbrada'. Seu segundo romance, 'O grande mentecapto', que lhe custou mais de 30 anos de elaboração, se nutre em parte do humor dos escritos de circunstância, mas temperados com a sabedoria do tempo, na melhor tradição da literatura picaresca. Em 1982 lança o romance de reminiscências da infância, 'O menino no espelho'. Seu quarto romance, 'Os movimentos simulados', trabalho de juventude, só seria publicado no ano de sua morte, em 2004.

Extraído do sítio UAI

JOÃO UBALDO RIBEIRO: "SINTO UM VÍNCULO CULTURAL COM A ALEMANHA" - Luisa Frey

Destaque da programação brasileira na Feira de Frankfurt, escritor falou de seu livro "Viva o povo brasileiro", da ligação com a Alemanha e da falta de tempo para escrever.


Era impossível entrar ou sair do pavilhão brasileiro durante a leitura de João Ubaldo Ribeiro neste sábado (12/10). Havia gente sentada nas cadeiras, no chão e de pé para escutar o autor e seu colega João Almino. Após a leitura, Ribeiro foi assediado por pedidos de autógrafos – em versões em português e em alemão de Viva o povo brasileiro e Um brasileiro em Berlim.

Baiano nascido em 1941, o autor viveu 15 meses na capital alemã como bolsista do DAAD no início da década de 1990 e, desde então, tem uma ligação especial com o país. Vários de seus livros foram traduzidos para o alemão e para mais de outros 15 idiomas. Viva o povo brasileiro, que faz um retrato do Brasil, é um dos livros mais conhecidos do autor.

Sua carreira jornalística começou em 1957 e a literária, na década seguinte, com a publicação do romance Setembro não tem sentido. Ribeiro conquistou diversos prêmios, incluindo Jabutis e, em 2008, o Prêmio Camões – considerado um dos mais importantes de língua portuguesa. Ele também é membro da Academia Brasileira de Letras desde 1991. Hoje, falta tempo para escrever, disse em entrevista à DW.

DW Brasil: O senhor já viveu e tem uma ligação especial com a Alemanha. Como foi voltar ao país como membro da comitiva de autores a representar o Brasil na Feira de Frankfurt?

João Ubaldo Ribeiro: Não me lembro bem, mas acho que fiz parte da comitiva na última homenagem ao Brasil. Depois do Brasil e de Portugal, o país onde meus livros circulam melhor é a Alemanha. Isso é curioso, porque eu pessoalmente não tinha ligação com o país. Mas hoje tenho uma filha que mora em Munique e agora terei um neto alemão. Meu filho vai ter um filho com uma alemã.

Dou-me muito bem com a Alemanha e não perco nenhuma oportunidade de passar uns dias em Berlim, onde morei 15 meses e que é hoje uma das minhas cidades favoritas. Tentei várias vezes aprender alemão sozinho, pois não gosto de frequentar cursos de língua, mas nunca consegui. Até hoje só falo coisas elementares, como "você tem cerveja?".

Certa vez o senhor disse que acreditava ter sido alemão em outra encarnação. Por quê?

Tem tantas coisas de que gosto na Alemanha. Meu compositor favorito é de longe Bach, um dos meus autores preferidos é Thomas Mann, enfim, me sinto com uma vinculação cultural com o país – que me é muito simpático e muito próximo sentimentalmente. Então, fiz essa brincadeira numa crônica.

Do período em que o senhor viveu na capital alemã, resultaram as crônicas que foram reunidas no livro Um Brasileiro em Berlim. Nesse livro, o senhor conta sobre alguns choques culturais. Quando o senhor vem hoje para a Alemanha, ainda enfrenta situações como aquelas?

Não, não só porque me acostumei com eles, mas também porque muitas coisas mudaram. Por exemplo, na primeira vez em que estive aqui, aceitar cartão de crédito era sempre feito com muita relutância. Hoje se pode comprar qualquer coisa com cartão. E a Alemanha também se abriu bem mais à imigração. Na verdade, nunca houve realmente choque, mas pequenas estranhezas que caricaturei nas crônicas.

Como o senhor explica a boa recepção de Um brasileiro em Berlim até hoje, não só no Brasil, mas também na Alemanha?

Acho curioso, porque esse livro não era planejado nem para a Alemanha e menos ainda para o Brasil. Ele é resultado de um convite que o jornal Frankfurter Rundschau me fez para colaborar. Eles não estavam esperando crônicas, que é um gênero meio brasileiro. No começo estranharam, mas leitores começaram a escrever dizendo que estavam gostando. Quando fui embora de Berlim, sugeriram que fizesse um livro. Relutei. Mas fizeram o livro do mesmo jeito e foi sucesso aqui na Alemanha.

Quando voltei para o Brasil, quiseram fazer o livro lá e fui contra, achando que não interessaria aos brasileiros. Mas foi um sucesso. Depois, na Copa do Mundo da Alemanha, fizeram uma edição especial para os brasileiros que viriam a Berlim e fiz um texto adicional explicando o uso universal da palavra "bitte" [risos]. E o livro até hoje continua sendo publicado. Com muitas ressalvas, eu poderia dizer que sou um escritor popular na Alemanha. Sempre que venho para leituras, aparece muita gente – brasileiros e alemães.

Outros livros seus foram traduzidos para o alemão, entre eles Viva o povo brasileiro, que também saiu em espanhol, francês e italiano. Por que há interesse fora do país por esse livro que faz um retrato da história e da sociedade brasileira?

O Viva o povo brasileiro é visto por muita gente como uma espécie de retrato do Brasil. Não sei. Mas por causa disso, esse livro é indicado para universitários e é leitura recomendada para os alemães do serviço diplomático que vão servir no Brasil. Quanto aos outros lugares, não sei.

Na Holanda, faço alguma ideia, que é quase uma brincadeira. No livro existe um personagem, um caboclo, que come holandeses, criados como gado. No começo, comia os portugueses e espanhóis e, quando apareceram os holandeses, ele achou que a carne era tão superior, tão mais delicada que a carne ibérica. E aí começou a preferir aqueles bichos louros, altos [risos]. Não sei se por isso, na Holanda o livro é editado praticamente todo ano. É popularíssimo.

Por que o título Viva o Povo Brasileiro?

João Ubaldo Ribeiro revela que o que gosta mesmo de fazer é "sentar na frente do teclado e escrever. Mas é o que menos faço ultimamente"

Não sei. Só consigo escrever, qualquer coisa que seja, dando o título primeiro. E pertenço à família de romancistas que não planeja o livro. Botei lá "Viva o povo brasileiro" e fui escrevendo. No que ia dar, devia estar no meu inconsciente. O livro começa em torno de 1820 e depois volta no tempo. Muita gente tem a impressão que escrevi na ordem normal e depois troquei as datas para fazer essa alternância entre passado e presente. Não foi assim, o livro está ali como saiu da máquina de escrever.

O senhor começou a carreira jornalística na década de 1950 e publicou o primeiro livro na década seguinte. Depois de tantos anos, falta motivação para continuar escrevendo?

Não, me falta tempo. Antigamente o escritor aparecia pouco, não era parte do processo de marketing do livro. Hoje os escritores são solicitados o tempo todo. É uma palestra para cá, uma leitura para lá, uma feira para acolá. Recebo uma chuva de e-mails com convites, e até para recusar preciso de um tempo enorme.

No ano passado tive que sair pelo mundo por ocasião do centenário de Jorge Amado, que era meu grande amigo. E eu não podia recusar convites. As interrupções são tão frequentes, que vários projetos de livro, pelo menos uns quatro, foram abortados. Quando tão interrompido, o romance desanda, se desarruma e você não consegue voltar a ele. Há muito tempo tenho esse problema.

E o senhor sente falta da presença da literatura na sua vida?

Sinto. Sou escritor, quero escrever. Não sou falador, orador, palestrante. Costumo brincar que minha obra futura será constituída de e-mails, são dezenas por dia. A minha coisa é sentar na frente do teclado e escrever. Mas é o que menos faço ultimamente.

Por outro lado, o fato de ser tão solicitado, é um sinal de reconhecimento...

É verdade. Poderiam me dizer: "você queria ser esquecido?". Não, é melhor ser lembrado. A vida é cheia de paradoxos...

Se tivesse tempo, escreveria mais um Viva o povo brasileiro?

Não, isso não se faz todo dia [risos].

Extraído do sítio Deutsche Welle