14 de outubro de 2013

FEIRA DO LIVRO DE FRANKFURT - BRASIL É O PAÍS HOMENAGEADO


A maior feira literária do mundo, a Feira de Livros de Frankfurt (ou Francoforte), foi aberta no dia 8 de outubro com o Brasil como país convidado de honra, com direito a pavilhão próprio e uma exposição especial.

A feira é gigantesca. Abriga vários pavilhões, cada um deles podendo conter facilmente uma Bienal do Livro do Rio de Janeiro ou de São Paulo. É uma feira voltada especialmente para o mercado editorial. As atividades, com mesas de debate, seminários, sobre uma variedade enorme de temas, começaram na quarta-feira, dia 9. Até o dia 10 de outubro, compareceram apenas escritores – cerca de mais de mil autores –, editores, livreiros e agentes literários – além da mídia.

Somente no sábado e no domingo, dias 12 e 13, a feira é aberta ao público. Paga-se ingresso (17 euros para um adulto). Espera-se no fim de semana a presença de 250 a 300 mil visitantes aos 7.300 expositores vindos de aproximadamente cem países, dispostos a apresentar novos títulos na capital financeira da Alemanha.

Mais de 7.300 expositores estão presentes na Feira do Livro de Frankfurt – o Brasil é o país homenageado na 65ª. edição da Feira do Livro alemã.

A abertura foi concorridíssima, com o auditório enorme completamente lotado. Houve os discursos protocolares de boas vindas, pelo presidente da Associação de Editores e Livreiros da Alemanha, Gottfried Honnefelder; pelo diretor da Feira de Frankfurt, Jürgen Boos; pelo prefeito de Frankfurt, Peter Feldmann; e pelo ministro-presidente do Estado alemão de Hesse, Volker Bouffier.

Um dos temas muito debatidos da feira deste ano foi o destino do livro na era digital e virtual. Ninguém chegou a falar no aparentemente utópico “fim do livro”, mas sim nas grandes mudanças que o novo contexto digital traz para a escrita, a edição e a distribuição de livros, e também para o próprio gesto da leitura.

Outro tema privilegiado nesta edição do evento é a situação da infância e da juventude, não apenas em relação à leitura e aos livros, mas também frente aos desafios da violência, da guerra e do desemprego.

Luiz Rufatto: discurso-denúncia crítico em Frankfurt, encerrado com a crença no “papel transformador da literatura”.

Escritor critica desigualdade social e educação no Brasil 

Na cerimônia de inauguração da Feira do Livro de Frankfurt (Alemanha), da qual o Brasil é convidado de honra, o escritor Luiz Rufatto, em um discurso-denúncia, criticou o sistema educacional e o autoritarismo da história recente do país e disse que era difícil acabar com a divisão entre pobres e ricos.

Segundo Rufatto – que representou o grupo de escritores brasileiros convidados –, um em cada três brasileiros tem dificuldades para ler e entender textos simples e as elites “aproveitam a ignorância para assegurar seu poder”.

O autor brasileiro assinalou algumas melhoras em nosso país nos últimos anos, mas deixou claro que elas ainda não são suficientes para dizer-se que o país tenha “dobrado a esquina”, deixando para trás aqueles problemas. Centrou seu discurso na necessidade de reconhecer-se a “alteridade” sem abafá-la, e na necessidade de encarar a literatura como capaz de mudar os seres humanos, e portanto a sociedade.

“No país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes”, afirmou, destacando em seguida o “papel transformador da literatura”, que disse motivá-lo a escrever. Foi muito aplaudido ao final.

Ana Maria Machado: “Não venham procurar exotismo no Brasil” 

A presidenta da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, discursou em seguida, ressaltando a diversidade da cultura brasileira, e a dificuldade do Brasil em ser reconhecido como um “país também literário, de livros”, para além das imagens estereotipadas de selva, praias, futebol e Carnaval.

Ana Maria Machado deixou no ar o convite para que o público descubra a diversidade brasileira através do contato com a literatura “plural, múltipla e diversa, em que os regionalismos eventuais se esgueiram pelas frestas de um cosmopolitismo inesperado”. “Não venham procurar o exotismo e o pitoresco”, advertiu.

Guido Westerwelle: metas em comum nas Nações Unidas 

Pelo governo alemão, falou o ministro de Assuntos Exteriores da República Federal da Alemanha, Guido Westerwelle. Deu a nota política do encontro. Falou também sobre a riqueza da literatura e da cultura brasileiras e elogiou o empenho de Rufatto. “A presença de tantos autores brasileiros aqui na cerimônia de abertura é uma prova do valor dado à cultura pelos brasileiros. E a cultura nos une”, disse Westerwelle. “O Brasil é um peso-pesado no setor cultural.”

O ministro alemão ressaltou que os contatos Brasil-Alemanha devem ir além dos apenas econômicos ou diplomáticos. Em sua fala, destacou a necessidade de as instituições políticas internacionais de hoje se adequarem ao presente, e deixarem de ser apenas reflexos do passado – no que parece ser uma alusão indireta ao empenho tanto alemão quanto brasileiro pela reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Elogiou o discurso da presidenta brasileira Dilma Rousseff na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas – ocorrido no dia 24 de setembro – pedindo um novo marco regulatório das atividades da Internet, e ressaltou que este também é o interesse da Alemanha. Assinalou que nem tudo o que é tecnicamente possível no espaço virtual é necessariamente legítimo, em alusão às táticas de espionagem denunciadas recentemente por Edward Snowden e Glenn Greenwald.

Da esq. para a dir.: o vice-presidente do Brasil, Michel Temer; o ministro-presidente do Estado alemão de Hesse, Volker Bouffier; e o ministro dos Assuntos Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle.

Confissão poética, vaias, caipirinha e pão de queijo 

Encerrou a abertura o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, que evocou o 25º aniversário da Constituição brasileira, que restaurou a democracia e o Estado de Direito no Brasil. E ressaltou as conquistas sociais e educacionais de programas como o Bolsa-Família, o Programa Universidade para Todos e outros do governo brasileiro.

O vice-presidente brasileiro deu um toque pessoal ao fim, falando que devia o hábito da leitura à sua professora primária em São Paulo, e que, apesar de jurista de formação, publicou recentemente um livro de poemas que, “se não recebeu elogios, também não recebeu críticas”.

Quando Michel Temer terminou seu discurso, um grupo pequeno de brasileiros, sentados ao fundo, ensaiou uma vaia – o que fez parecer um eco das grandes manifestações populares ocorridas no Brasil a partir de junho deste ano.

No pavilhão do Brasil em Frankfurt, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, discursou em clima de festa, ao som de música brasileira, regada a pão de queijo e caipirinha. “A feira traz apenas uma amostra de nossa maior riqueza: a cultura”, disse.

Gasto estatal brasileiro para a Feira de Frankfurt 

Da esq. para a dir.: o diretor da Feira de Frankfurt, Jürgen Boos, e o presidente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Renato Lessa.

Para o Projeto Frankfurt, que abarca a Feira do Livro e a programação artística brasileira paralela ao evento, foram investidos 18,8 milhões de reais (6,37 milhões de euros) do governo do Brasil, através do Ministério da Cultura, do Ministério das Relações Exteriores – o Itamaraty –, da Câmara Brasileira de Livros e da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Renato Lessa, que assumiu a presidência da Biblioteca Nacional em 2013, critica o modelo de financiamento atual para a Feira alemã, com somente fundos governamentais.

“Vale o investimento na imagem do país, mas acho que o gasto pode ser mais bem distribuído, porque também é uma Feira de negócios, comercial. Temos um setor privado de editores muito robusto e acho que, no futuro, devemos adotar um modelo compartilhado entre Estado e setor privado.”

Brasil: país convidado de honra da 65ª Feira do Livro de Frankfurt 

Renato Lessa destacou a Feira de Frankfurt como uma oportunidade de promover a cultura brasileira, mas disse que deve haver uma continuidade de políticas públicas nesse sentido, como o programa de bolsas para a tradução de autores brasileiros da Biblioteca Nacional e parcerias com museus.

Com 2.500 metros quadrados, o pavilhão foi concebido por Daniela Thomas e Felipe Tassara e construído todo em papel, com paredes sinuosas em homenagem a Oscar Niemeyer e aos demais grandes artistas do modernismo brasileiro. O objetivo do espaço é de mostrar um Brasil moderno e contemporâneo.

“Acho que se tem muito o estereótipo de que o Brasil é o país do samba, do futebol, é uma selva. Temos tudo isso sim, mas temos mais. Temos nossa arquitetura moderna, nossa contemporaneidade, nossa inventividade. O pavilhão e a programação tentam mostrar a produção contemporânea para além dos clichês”, afirmou o curador e coordenador do Projeto Frankfurt 2013, Antônio Martinelli. 

• Feira do Livro de Frankfurt – República Federal da Alemanha (em alemão): http://www.buchmesse.de/

* Fontes originais: Agência EFE, da Rede Brasil Atual e da Deutsche Welle (Alemanha) 

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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