10 de julho de 2013

ESCRITORA UCRANIANA KATJA PETROVSKAYA VENCE O PRÊMIO INGEBORG BACHMANN 2013 - Jochen Kürten


Com trecho fulminante de coletânea de contos, autora venceu uma das mais importantes distinções da literatura em alemão. Nascida na Ucrânia, Petrovskaya é a terceira autora de origem estrangeira a levar o prêmio.

"Uma maravilhosa abertura do espaço linguístico alemão para o acervo da consciência de estados europeus e não-europeus", declarou Burkhard Spinnen, presidente do júri do Prêmio Ingeborg-Bachmann, ao anunciar a vencedora da 37ª edição. Ele se referia ao fato de a distinção ser entregue a uma autora de origem não alemã pelo terceiro ano consecutivo.

Todos os anos, durante o verão europeu, jovens escritores se reúnem na cidade de Klagenfurt, na Áustria, para medir forças numa disputa do Festival de Literatura em Língua Alemã. Um júri formado por críticos avalia o trabalho dos autores, que por sua vez leem trechos de obras ainda não publicadas para a audiência. Após as leituras individuais, há debate do júri. No final do evento, diversos prêmios são distribuídos. A principal distinção é o Prêmio Ingeborg Bachmann.

O nome do festival já aponta para o fato de os autores serem principalmente oriundos da Suíça, da Áustria e da Alemanha. Porém, a competição é aberta a todos aqueles que escreveram manuscritos em alemão.

Nos últimos anos, muitos descendentes de imigrantes também passaram a concorrer ao prêmio, uma evolução apreciada por Spinnen. Segundo o presidente do júri, adultos bilíngues têm uma relação diferente com a língua alemã – fato que também teria funcionado como um catalisador para a Era Moderna, de acordo com uma teoria de história cultural.

"Vielleicht Esther" (Talvez, Esther) será publicado somente em 2014
Pontes literárias

Katja Petrovskaya nasceu em 1970 em Kiev, capital da Ucrânia atual e que, naquela altura, ainda fazia parte da União Soviética. Logo após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, ela deixou a casa dos pais. Estudou literatura e línguas eslavas na Estônia, ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos em meados da década de 90 e, depois, concluiu seu doutorado em Moscou. Há alguns anos, ela vive em Berlim, onde escreve para meios de comunicação russos e alemães, incluindo uma coluna semanal para a edição dominical do diário Frankfurter Allgemeine Zeitung. 

Petrovskaya convenceu o júri com o trecho de sua coletânea de contos Vielleicht Esther (Talvez Esther), que será publicada pela editora Suhrkamp no início de 2014. A autora escreve sobre as semanas antes do massacre cometido por soldados alemães em Babi Yar. Em setembro de 1941, cerca de 33 mil judeus e civis foram mortos na ravina em Kiev – um dos piores crimes cometidos durante a Segunda Guerra Mundial. Petrovskaya aborda esses eventos históricos com uma mistura de material documental e ficcional, onde eventos e pessoas reais são misturados com conversas e acontecimentos mágicos e ficcionais.

Proximidade com a bisavó

O foco da narrativa é Esther, uma figura na qual transparece a bisavó da autora, assassinada pelos nazistas. A palavra "talvez" no título da história indica a intenção da autora de criar um distanciamento poético. O texto retoma motivos dos poemas épicos de Homero, articulados com acontecimentos reais misturados a flashbacks e reconstruções no fluxo narrativo. "Até mesmo as testemunhas oculares não conseguiriam garantir que a história se desenvolveu mesmo dessa maneira", disse o membro do júri Hubert Winkels, após a leitura de Petrovskaya. Segundo Winkels, o nome Vielleicht Esther não é um acaso, já que não há garantia do que é ou não verdade.

Os vencedores do Prêmio Ingeborg Bachmann 2013
"Só se pode contar uma história como essa quando se acredita que a memória não é confiável. [A narrativa de Petrovskaya] foi muito bem sucedida neste sentido", disse a crítica literária Daniela Strigl, também jurada do prêmio Ingeborg Bachmann desse ano.

A crítica Meike Feßmann elogiou a forma estética do texto que "dança de maneira solta, leve e simples, apesar do tema pesado". Assim a escolha do júri foi clara, declarando a obra vencedora na primeira rodada de votos. O público também se mostrou profundamente impressionado com a leitura de Petrovskaya na semana passada. Raramente na história do concurso literário, um texto causou tanta emoção e entusiasmo como Vielleicht Esther. 

Tema pesado, escrita leve

O grande êxito de Petrovskaya é aproximar o leitor de um tema tão complexo e pesado sem enterrar o texto sob apelos morais e fatos históricos. "Eu observo essas cenas como se Deus estivesse em uma janela na casa da frente. Talvez seja dessa maneira que se escreve romances ou contos de fada. Eu sento lá em cima, vejo tudo!", diz um trecho do manuscrito. Esse ponto de vista radicalmente subjetivo é aberto ao leitor. Petrovskaya aborda o assunto a ser tratado com questionamentos, como se estivesse tateando. Enquanto isso, continua a trabalhar com referências históricas e reflexões literárias.

Depois de Maja Haderlap, escritora austríaca que escreve em esloveno e que há dois anos venceu o prêmio Ingeborg Bachmann, e Olga Martynova, que cresceu em São Petersburgo e foi a premiada no ano passado, Katja Petrovskaya é a terceira autora a acrescentar uma nova faceta à literatura em língua alemã. Nos últimos anos, o Prêmio Ingeborg Bachmann acabou se tornando um acontecimento cultural europeu, apesar de a distinção ainda se concentrar, majoritariamente, em textos escritos em alemão.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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