23 de junho de 2013

PAULO COELHO ALFINETA COMITIVA BRASILEIRA

Em sua conta no Twitter, escritor reclamou da falta de nomes conhecidos em grupo que representará o País.

Não estivesse (quase) todo mundo concentrado na convulsão social que se alastra pelas cidades brasileiras, Paulo Coelho poderia ter virado um foco de polêmica na noite de quinta-feira, no Twitter. "Seriamente pensando em me desligar da comitiva oficial que representará o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt #MudaBrasil", tuitou o escritor best-seller - que assina uma coluna no Diário do Nordeste, aos domingos.

Paulo Coelho, no Twitter: "Frankfurt 2013: só conheço dez (escritores brasileiros) da lista"
O evento é o maior do mercado editorial no mundo e anualmente homenageia um país, abrindo espaço para muitas oportunidades de publicação. Este ano, a feira é dedicada ao Brasil. As editoras daqui se animaram diante da oportunidade de comercializar os direitos autorais de seu casting nacional, além de trazer as novidades do que tem sido publicado lá fora. Coelho compõe uma comitiva formada por 70 autores (entre escritores de ficção e não-ficção e quadrinhistas).

Sem entrar em detalhes a respeito de sua queixa contra o formato, o escritor respondeu um usuário do Twitter, que o havia apoiado. "Você não representa esse Brasil corrupto Paulo, vá e nós represente na sua melhor forma! #Brasil #Unido", escreveu Igor Gregório, ao que o autor brasileiro retrucou: "acontece que termina sempre sendo uma comitiva oficial".

Fogo amigo

Paulo Coelho não ficou só nisso. Às 19h30, postou: "Frankfurt 2013: só conheço 10 da lista (onde estou). Quantos vocês conhecem? E os novos? #MudaBrasil". A postagem trazia ainda um link para a página do site da Fundação Biblioteca Nacional com a lista dos 70 participantes. Quem tiver curiosidade em conferi-la vai perceber que o escritor exagerou e muito em sua avaliação. Há de fato muitos autores que só são conhecidos por leitores mais assíduos, mas é difícil acreditar que o imortal da Academia Brasileira de Letras só conheça dez nomes numa lista que inclui gente como os quadrinhistas veteranos Maurício de Sousa e Ziraldo; Fernando Morais (biógrafo do escritor); o poeta Affonso Romano de Sant´Anna, que fez conferências sobre Drummond na ABL no fim do ano passado; Adelia Prado, que já disputou uma vaga na entidade foi por ela premiada; os também imortais Ana Maria Machado, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, José Murilo de Carvalho e Nélida Piñon; além de escritores de fama razoável entre o público médio, caso do jornalista Ruy Castro (biógrafo best-seller), o poeta Chacal (uma figura destacada na contracultura carioca, onde o próprio Paulo Coelho atuou), Paulo Lins (autor de "Cidade de Deus").

Paulo Coelho deve ter percebido o quão antipática pareceria sua reclamação contra a seleção de autores. Não à toa, o escritor apagou a mensagem poucos minutos depois de postá-la na rede social. As outras duas mensagens publicadas anteriormente também foram removidas do microblog horas mais tarde.

Desconhecidos

Não há na história da literatura brasileira um escritor que tenha conquistado mais leitores que Paulo Coelho. A cada livro, ele os contabiliza aos milhões, não apenas em seu País, mas em outras partes do mundo, em diversos idiomas.

A qualidade de sua literatura, contudo, sempre foi alvo de críticas - nem sempre tão bem fundamentadas. Por um lado, o escritor é vítima do "método" não-li-e-não-gostei e de certa aversão à literatura comercial, que agrega mensagens positivas e não o tempero pessimista apreciado pelos intelectuais. Por outro, há também um trabalho que por vezes se repete e que se aproxima das ideias simplórias da autoajuda. Coelho, contudo, vence barreiras. Lá fora, seu trabalho não é recebido com tanta má vontade pela crítica quanto o é no Brasil; ao contrário, não falta quem o elogie. Entre eles Benjamin Moser, o biógrafo norte-americano de Clarice Lispector, divulgador da escritora no mundo anglófono.

Por outro lado, o escritor escorrega em declarações pretensiosas. No ano passado, criticou o clássico modernista "Ulysses", de James Joyce. "Não há nada ali", disse. Não ajuda um reavaliação da obra de Coelho o tom de superioridade empregado pelo autor em declarações como essa.

Desdenhar de uma lista que não faltam destacados companheiros de geração e que ainda inclui seis membros da Academia da qual faz parte não parece a melhor estratégia para ser aceito no clube que sempre o olhou com desconfiança.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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