31 de outubro de 2012

PROJETO DE INCENTIVO À LEITURA DISTRIBUI 50 MIL LIVROS NAS ESTAÇÕES DE TREM DE SÃO PAULO - Camila Maciel


São Paulo - “Não importa como este livro chegou às suas mãos. Ele não é seu, nem de ninguém. Leia-o e passe adiante. Vá a um trem ou estação e liberte-o. Deixe-o onde ele possa ser encontrado pelo próximo leitor”. O alerta está na capa de mais de 50 mil livros que começaram a ser distribuídos gratuitamente na última segunda-feira (29) em cinco estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A sétima edição do projeto Livro Livre faz parte de um movimento de incentivo à leitura que ocorre no mundo inteiro com uma ideia simples: deixar livros em locais públicos para que pessoas possam pegar, ler e passar adiante, como uma corrente de conhecimento.

A estudante de direito Ana Carolina Fernandes, 24 anos, soube do projeto pela televisão e fez questão de fazer parte da corrente. “Adoro ler. Disseminar cultura é muito importante, principalmente a leitura, já que muitas pessoas não têm acesso fácil”, destacou. Depois de escolher um romance na estante da Estação Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste da capital, ela assumiu o compromisso de passar adiante o livro. “Pretendo deixá-lo novamente em uma das estações de trem”, prometeu.


O projeto de distribuição dos livros segue até hoje (31) e os usuários podem escolher o título nas estações Brás, Luz, Palmeiras-Barra Funda, Osasco e Pinheiros, das 10h às 15h. Para tanto, foi montada uma estrutura parecida com uma livraria para que os participantes escolham livremente o título que mais agrada. “Nas outras edições, os livros ficavam espalhados em mesas. Pensamos em fazer desse jeito também como forma de incentivar o hábito e prazer pela leitura”, explica Maria Salete Zandoná, assessora técnica da companhia e coordenadora do projeto.

Diariamente, 2,8 milhões de pessoas passam pelas seis linhas da CPTM. “Se as pessoas comprarem a ideia, rapidamente a corrente cresce”, destacou Maria Salete. Ela aponta que, depois de lido, o livro pode ser deixado em qualquer lugar: da cadeira do ônibus à estação do metrô. O importante é que a obra passe pelas mãos de vários leitores. Ela destaca, no entanto, que parte dos livros não costuma circular. “É uma cultura que ainda precisa ser trabalhada. Algumas pessoas têm dificuldade de se desfazer do livro”, avalia a partir da experiência das outras edições. Ela aposta que o projeto a cada ano ganhará mais adeptos.


Nos últimos seis anos, a ação distribuiu 75 mil livros. Só neste ano, serão mais 50 mil em circulação, com destaque para os mais de 20 mil títulos infantojuvenis. Além da distribuição gratuita de obras literárias, o projeto desenvolve atividades lúdicas e bate-papo com autores.

Entre essas atividades, um grande mural montado na Estação Palmeiras-Barra Funda perguntava aos passantes: “Se sua vida fosse o livro que nome ele teria?”. O porteiro Vilson Joaquim Calixto, 51 anos, não vacilou: “Uma história terrível” foi o título escolhido para a obra.

Os relatos da história de vida do porteiro deixam claro o desencanto. “Vivo dizendo que minha vida vale um livro. Fui empresário, mendigo, usuário de drogas e, agora, tenho família e trabalho como porteiro”, relembrou. Ao contar sua trajetória, ele reconhece que “pelo menos, o final é feliz”. Calixto trabalha na estação e aproveitou o horário de descanso para conferir a programação. “Costumo ler muito no trem. É quando dá uma folguinha”, relatou, aprovando a iniciativa.


O projeto também inclui atividades para crianças como o baú das artes e o tabuleiro de jogos. A técnica de controle de qualidade Alice Cronemberger, 42 anos, estava a caminho do médico com a filha Ana Carolina, 8 anos, mas não resistiu aos atrativos e dedicou alguns minutos da manhã para permitir que a filha participasse das brincadeiras. “Ela adora ler. Já eu leio menos do que deveria. A Carol é quem me incentiva”, declarou. Mesmo com as muitas opções, Carolina não teve dúvida e escolheu o livro Heróis da Natureza. “Adoro histórias de bicho. Quero ser veterinária”, destacou.

Hoje, último dia do evento que começou na última segunda-feira (29), além da distribuição dos livros, estão programados a exposição fotográfica Everest 5.0, palestras de incentivo à leitura e bate-papo com o expositor Júlio de Sousa, na Estação Brás; em Osasco, os usuários poderão conferir a intervenção poética do Grupo de Estudos Literários Pé de Poesia e um encontro de autores do município.

Extraído do sítio Agência Brasil

PENGUIN E RANDOM NEGOCIAM ACORDO - Andrew Edgecliffe-Johnson e Gerrit Wiesmann


Bertelsmann e Pearson negociam a combinação de suas editoras Random House e Penguin, transação que criaria a maior do mundo no setor e seria uma resposta aos desafios a suas estratégias criados pelo alto crescimento do mercado de livros digitais.

O foco das negociações é uma fusão em que a Bertelsmann ficaria com fatia superior a 50%, segundo três fontes a par do assunto, ressaltando que as conversas podem não resultar em nenhum acordo.

A Pearson, controladora do “Financial Times”, disse ontem que “está discutindo com a Bertelsmann uma possível combinação de Penguin e Random House. As companhias não chegaram a um acordo e não há certeza que as discussões levem a uma transação”. Os executivos da Bertelsmann, que estão na China, não comentaram.

As negociações ocorrem em um momento em que grandes grupos de tecnologia, como Apple, Amazon e Google, vêm impulsionando os livros digitais e redefinindo o mercado editorial.

Analistas acreditam que haverá uma onda de fusões entre as “seis grandes” editoras, as líderes de um mercado que há vários anos é relativamente fragmentado. Entre os motivos, citam as mudanças no equilíbrio de poder em um setor no qual o varejo não é definido por livrarias independentes, mas por grandes grupos de tecnologia e comércio eletrônico e algumas poucas redes nacionais de livrarias.

Especulações a mil

A combinação de duas das quatro maiores editoras do mundo poderia enfrentar análises das autoridades de concorrência em vários países. As participações de mercado variam de acordo com as listas de livros mais vendidos, mas estima-se que o grupo combinado poderia controlar em torno de 25% dos mercados dos Estados Unidos e Reino Unido.

O Departamento da Justiça dos EUA processou neste ano a Apple e cinco editoras, incluindo a Penguin, mas não a Random House, por suposta conspiração. Três delas chegaram a acordos para encerrar as acusações, que não incluíam questões de concorrência. A Penguin ainda contesta a ação.

Vários elementos da negociação [entre Random e Penguin] estão por ser decididos, de acordo com as fontes. Ainda não está claro se as editoras precisariam vender unidades ou operações para ganhar a aprovação dos órgãos reguladores à fusão, segundo uma das fontes. Outra ressaltou que as participações de mercado das duas editoras variam consideravelmente em vários países.

As conversas, noticiadas primeiramente pela revista “Manager”, na Alemanha, ocorrem em meio aos esforços de Thomas Rabe, indicado em 2011 como CEO da Bertelsmann, para expandir a receita do grupo alemão de mídia em países emergentes como Índia, China e Brasil, onde a Penguin possui forte presença [Peguin tem 45% da brasileira Companhia das Letras].

Também ocorrem enquanto Marjorie Scardino prepara-se para ser substituída como executiva-chefe da Pearson por John Fallon, ex-diretor da editora de material educacional internacional do grupo, em 1º de janeiro.

As notícias sobre os planos de sucessão aumentaram as especulações entre analistas de que poderia haver algum tipo de mudança empresarial no grupo, cujas ações são listadas em Londres e atualmente obtém 75% de suas receitas com as operações de editora de material educacional.

Se as negociações de fusão forem bem-sucedidas, espera-se que tanto Markus Dohle, CEO da Random House, como John Makinson, CEO da Penguin, assumam cargos de liderança na nova empresa combinada. 

Andrew Edgecliffe-Johnson e Gerrit Wiesmann, do Financial Times em Nova York e Berlim.

** Reproduzido do Valor Econômico, 26/10/2012, tradução de Sabino Ahumada.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

BIÓGRAFO DE CLARICE LISPECTOR COMENTA TEXTOS FALSOS ATRIBUÍDOS À AUTORA NA INTERNET - Guilherme Sardas

Benjamin Moser. Crédito:Márcio Lima

Depois de perceber que não levava jeito com os ideogramas ao tentar aprender o chinês, o escritor, crítico literário e tradutor norte-americano Benjamin Moser descobriu a língua portuguesa e, de quebra, a paixão pela obra de Clarice Lispector, a biografada de seu livro de estreia “Clarice,” (2009, Cosac Naify).

Publicado nos EUA pela editora da Universidade de Oxford, pela Haus Publishing, no Reino Unido, e pela Civilização, em Portugal, a obra deve ser lançada ainda na França e na Alemanha. Também é tradutor de “Nove Noites”, de Bernardo Carvalho, e dos romances policiais do também brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Graduado em História pela Universidade de Brown, nos EUA, e mestre e Ph.D pela Universidade de Utrecht, na Holanda, onde vive, Moser falou à IMPRENSA sobre a popularização da obra de Clarice Lispector pela internet, além da falsificação crescente de seus textos na rede - fenômeno compartilhado por outros escritores e tratado pela revista nesta edição de novembro. Confira:

IMPRENSA – É de conhecimento comum que, no Brasil, lê-se muito pouco. De repente, as redes sociais estão repletas de frases e referências literárias. Como você vê isto?

BENJAMIN MOSER – Sempre achei essa ideia de que se lê muito pouco no Brasil é um lugar comum. Quando vejo o amor que os brasileiros têm por Clarice, vejo que alguém está lendo no Brasil. Aliás, o livro no Brasil tem sido caríssimo, e o acesso difícil, até para a classe média. Finalmente, isso está mudando, mas ainda há muito caminho a andar. Tem mais a ver com a economia e a política educativa do que com a falta de interesse do povo. 

E quanto à migração de frases e trechos de obras para a Internet?

Quanto às frases na internet é uma maneira de popularização. Não vejo mal nisso. Mesmo se 1% das pessoas que encontram essas frases soltas se inspiram a ler uma obra de Clarice, já é 1% mais do que teriam feito sem essa publicidade. 

Clarice é apontada, de forma geral, como campeã de “falsificações” na internet. Você acha que isso, de fato, ocorre?

Acontece, e muito! Acho engraçado. Porque a própria Clarice, que morreu bem antes da internet, falou que outra pessoa poderia muito bem escrever o que ela escreveu. Acho maravilhoso que a obra dela continue a ser escrita, talvez bruscamente, décadas depois da morte da autora... 

A seu ver, é possível sondar um motivo da popularidade de Clarice na rede?

Porque a Clarice é maravilhosa, tem frases perfeitas que vão ao âmago do que uma pessoa está sentindo e em pouquíssimas palavras consegue traduzir o coração das pessoas. 

É possível citar as falsificações mais comuns da Clarice?

"Eu adoro voar" é uma delas. Tem também o tal de poema que você lê de cima para baixo e depois de baixo para cima. Mas, há outros milhões.

Extraído do sítio Portal Imprensa

OBRAS DO MUSEU LASAR SEGALL INTEGRAM MOSTRA SOBRE MODERNISMO NA ALEMANHA - Bruno Aragão

Duas obras pertencentes ao acervo do Museu Lasar Segall (Ibram/MinC), de São Paulo (SP), são destaques na mostra Na rede do Modenismo, em cartaz na instituição Staatliche Kunstsammlungen Dresden, na cidade de Dresden, Alemanha. A mostra foi inaugurada no dia 27 de setembro.

Eternos Caminhantes, de Lasar Segall (1919), pertence hoje ao acervo do museu dedicado ao artista em SP
Os dois trabalhos, de autoria do pintor Lasar Segall (1891-1957), nascido na Lituânia e naturalizado brasileiro, guardam intrínseca relação com a história da arte moderna alemã.

A primeira delas é um retrato a lápis do crítico de arte alemão Will Grohmann, homenageado pela mostra; a segunda é o óleo sobre tela Eternos caminhantes, de 1919.

Adquirida em 1920, do próprio Segall, pelo Museu da Cidade de Dresden,Eternos caminhantes foi uma das milhares de obras confiscadas pelo regime nazista de Adolf Hitler e uma das 650 expostas em Munique, em 1937, na famosa Exposição de Arte Degenerada, que pretendia desqualificar a arte moderna.

Recepção alemã

Durante a Segunda Guerra, a tela, um dos melhores exemplos do expressionismo construtivo de Segall, permaneceu, como tantas, confinada nos depósitos oficiais alemães. Finda a guerra, a pintura foi localizada em uma coleção particular europeia e a pedido da viúva do artista, Jenny Klabin Segall, adquirida e trazida para o Brasil em caráter definitivo. Foi incorporada ao acervo do Museu Lasar Segall em 1967.

“Dresden nunca mais viu esta obra, que foi recebida agora com grande expectativa e comemorada em lugar de honra na exposição”, conta o diretor do Museu Lasar Segall, Jorge Schwartz. “Em meio a uma enormidade de obras expostas, foi uma das únicas que mereceu uma parede inteira, logo na entrada do espaço expositivo”.

O reconhecimento da importância de Lasar Segall para a história da arte moderna alemã é expresso também nas seis páginas dedicadas ao artista no catálogo da mostra, que segue em cartaz até 6 de janeiro de 2013, quando as duas obras retornam ao Brasil.

Extraído do sítio IBRAM

DESENCANTO COM O DIREITO EM MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA - Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

E ainda no século XIX, a propósito de uma imaginária literatura desiludida com o Direito, conhecemos a obra de Manoel Antonio de Almeida. Fino analista da moral social, em Memórias de um Sargento de Milícias Manoel Antonio de Almeida contrapõe à ordem, uma curiosa desordem.

O enredo é simples. Leonardo Pataca conheceu Maria num navio, tendo com ela um filho, também Leonardo, que será enjeitado. O menino, preguiçoso, desordeiro, mais tarde sentou praça na força pública, chegou a sargento. Perfila o herói picaresco. O enredo permite a apresentação de tipos peculiares, como um oficial de Justiça e uma senhora, que não vivia sem demanda. O tema é ambientado no tempo de D. João VI. A obra é sugestiva. Escreveu Massaud Moisés, a propósito do livro:

“O silêncio que lhe cercou o aparecimento em volume constitui apenas um sinal das controvérsias e perplexidades que tem levantado para quantos se abeiraram dela como leitores e críticos.”[1]

Algumas passagens da obra revelam uma visão negativa para com os fatos do Direito. Logo no início do livro, Manuel Antonio de Almeida refere-se aos meirinhos, como então se chamavam os oficiais de Justiça:

“Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos dos tempos do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates de citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.”[2]

A definição de processo que o excerto propõe é severa. Imagina-se um círculo dentro do qual se passam os trejeitos judiciais, numa óbvia e clara alusão ao jargão do foro. Um pouco mais adiante, Manuel Antonio de Almeida descreve, jocosamente, uma citação:

“Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras que, desdobrando junto dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! Por mais que se fizesse não havia remédio em tais circunstâncias senão deixar escapar dos lábios o terrível — dou-me por citado. Ninguém sabe que significação fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras! Eram uma sentença de peregrinação eterna que se pronunciava contra si mesmo; queriam dizer que se começava uma longa e afadigosa viagem, cujo termo bem distante era a caixa da relação, e durante o qual se tinha de pagar importante passagem em um sem número de pontos: o advogado, o procurador, o inquiridor, o escrivão, o juiz, inexoráveis Carontes, estavam à porta de mão estendida, e ninguém passava sem que lhes tivesse deixado, não um óbolo, porém todo o conteúdo de suas algibeiras, e até a última parcela de sua paciência.”[3]

A passagem vislumbra um desencanto. A citação, o dou-me por citado, projetavam na parte um futuro fatal, cruel. O feito se arrastaria por anos, até as últimas instâncias. As despesas com advogados, procuradores, escrivães, vinculavam uma interminável quantia de recursos a serem gastos. O dinheiro para o juiz indicava a peita. O citado tinha prazo para esgotar suas economias, sua paciência. Ao invés de justiça, o processo prometia tempo, gastos.

Leonardo-Pataca, o meirinho da estória, passara uma noite na cadeia. Manuel Antonio de Almeida aproveita a passagem para hostilizar a classe dos oficiais de Justiça, que se mostrariam felizes com a detenção de um concorrente:

“Aí esteve o Leonardo o resto da noite e grande parte da manhã, exposto à vista dos curiosos. Por infelicidade sua passou por acaso um colega, e vendo-o entrou para falar-lhe. Isto quer dizer que daí a pouco toda a ilustre corporação dos meirinhos da cidade sabia do ocorrido com o Leonardo, e já se preparava para dar-lhe uma solene pateada quando o negócio mudou de aspecto e Leonardo foi mandado para a cadeia. Aparentemente os companheiros mostraram-se sentidos, porém secretamente não deixaram de estimar o contratempo, porque o Leonardo era muito afreguesado, e enquanto estava ele preso as partes os procuravam.”[4]

Mais a frente, Manuel Antonio de Almeida descreve uma mulher que amava demandar. Vejamos:

“Como era rica, D. Maria alimentava este vício largamente: as suas demandas eram o alimento da sua vida; acordada pensava nelas, dormindo sonhava com elas; raras vezes conversava em outra coisa, e apenas achava uma tangente caía logo no assunto predileto; pelo longo hábito que tinha da matéria, entendia do riscado a palmo, e não havia procurador que a enganasse; sabia todos aqueles termos jurídicos e toda a marcha do processo de modo tal, que ninguém lhe levava nisso a palma. Essa mania chegava nela à impertinência, e aborrecia desesperadamente a quem ouvia, falando dos últimos provarás que lhe tinha feito o seu letrado nos autos da sua demanda de terras, nas razões finais que se tinham apresentado na ação que intentava contra um dos testamenteiros de seu pai, no depoimento das testemunhas no seu processo por causa da venda das suas casas, na citação que mandara fazer a um seu inquilino que lhe havia passado um crédito de 20 doblas e que agora negava a dívida, e em mil outras coisas deste gênero.”[5]

Mais tarde, falando com um major, D. Maria entabula uma cética e viciada ideia de lei. Eis a passagem:

“— Nem por isso deixa de ser seu filho, tornou D. Maria.
-— Bem sei, mas a lei?
— Ora, a lei... o que é a lei, se o Sr. Major quiser?... O Major sorriu com cândida modéstia.”[6]

D. Maria, de fato, vivia para demandar. Eis mais outra passagem:

“Verdade é que se não sabiam bem as contas que seu pai havia feito a esse respeito; mas como era coisa que constava de verba testamentária, D. Maria nada via de mais fácil do que propor uma demanda, cujo resultado não seria duvidoso.”[7]

Escrevendo em meados do século XIX e captando costumes e ideias de uma geração antes de seu tempo, Manuel Antonio de Almeida construiu interessantíssimo painel que permite possamos captar a ideia que o Rio de Janeiro das classes mais médias e mais simples faziam do Direito.

Desde uma aderência radical, obcecada e por vezes neurótica de D. Maria para com as demandas, o que é uma exceção patológica, até um medo para com todas as partes e pontos no processo, imagem fixada quando Manuel Antonio de Almeida descreveu a citação. Sua visão é pessimista, perspectiva condimentada por sua atuação profissional: ele foi jornalista. Inegável, porém, que Memórias de um Sargento de Milícias é obra que se inscreve entre aquelas que veiculam um desencanto para com o Direito.

Notas:
[1] Massaud Moisés, História da Literatura Brasileira, Romantismo, pág. 207.
[2] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 13.
[3] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 13 e 14.
[4] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 27.
[5] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 59.
[6] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 136.
[7] Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, pág. 141.

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy é consultor-geral da União, doutor e mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC-SP.

Extraído do sítio Revista Consultor Jurídico 

HÁ 120 ANOS, NASCIA UM MESTRE: GRACILIANO RAMOS - Milton Ribeiro

Os 120 anos de um dos maiores escritores brasileiros, Graciliano Ramos
Graciliano Ramos viveu 60 anos e nasceu há 120, precisamente em 27 de outubro de 1892. Durante sua vida, publicou 10 livros. Tal simetria combina bem com o estilo do escritor – seco, elegante, de um regionalismo muito particular, discreto e onde estavam presentes mais a condição social e a psicologia do que as descrições de costumes e o ambiente. A política, aliás, apareceu em sua vida antes do escritor. Graciliano nascera em Alagoas, na cidade de Quebrângulo. Aos dezoito anos de idade, mudou-se para Palmeira dos Índios, onde o pai era comerciante. Em 1928, tornou-se prefeito. Um excelente prefeito. Permaneceu no cargo por dois anos, renunciando em 1930.

Durante sua gestão, tomava atitudes polêmicas como a de soltar os presos para que construíssem estradas. Outra curiosidade é que seu talento para a literatura foi descoberto a partir dos relatórios que escrevia como prefeito. Ao escrever um relatório ao governador Álvaro Paes, chamado “Um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, o escritor se revela mesmo ao abordar assuntos de rotina da administração. Seus relatórios impecáveis, mas também irônicos e apresentados em forma livre, dificilmente seriam lidos sem estranheza e admiração. Após a renúncia, foi nomeado diretor da Imprensa Oficial de Alagoas. (Aqui, temos o relatório enviado pelo prefeito Graciliano ao governador de Alagoas em 1930).

Uma foto rara de Graciliano, provavelmente dos anos 30
E efetivamente foram tais relatórios que pavimentaram o caminho para a literatura. Eles foram levados ao conhecimento do poeta e editor Augusto Schmidt, que aconselhou Graciliano a escrever mais, porém a respeito de outros temas. Em 1933, foi o mesmo Schmidt que publicou seu livro de estreia, Caetés, o qual vinha sendo escrito desde 1925.

Entre 1930 e 1936, viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial e professor. Durante este período, publicou São Bernardo e, na tarde de 3 de março de 1936, após entregar o manuscrito de Angústia a sua datilógrafa, Dona Jeni, foi levado de sua casa, preso. O motivo era a suspeita – jamais formalizada – de que o escritor tivesse conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935. Preso em Maceió, Graciliano foi demitido do serviço público e enviado a Recife, onde embarcou com outros 115 presos no navio “Manaus”. O país estava sob a ditadura de Vargas. O escritor esteve preso no Rio de Janeiro — no Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção — e depois foi mandado para o presídio de Ilha Grande, onde passou a célebre temporada descrita em Memórias do Cárcere, livro apenas publicado postumamente. Com ajuda de amigos, consegue publicar Angústia, talvez sua melhor obra, em 1936. Foi libertado em janeiro de 1937, após dez meses.

O escritor Marcos Nunes observa, a respeito de Angústia: “Trata-se de um romance excepcional, que consegue ser ao mesmo tempo expressão de sua região e do mundo inteiro. A gente sai em frangalhos da leitura; é uma experiência quase única em literatura, porque o clima pesa em um contínuo massacrante mas, ao contrário do que se possa pensar, aquilo não nos faz rejeitar o romance, mas mergulhar nele como se dele pudéssemos extrair uma catarse de todo nosso sofrimento. A angústia é nuançada até a explosão desesperadora que nada redime enquanto tudo finaliza; a vida acaba, a do leitor continua e nunca mais será a mesma”.


É importante notar que o pessimismo de Graciliano não é produto de atuação ou de uma projeção. Não foi muito fácil ser Graciliano Ramos. As surras durante a infância; o adolescente inteligente a autodidata que lia Balzac e Marx em língua francesa; o aperto financeiro por toda a vida; as dificuldades para adequar-se à burocracia e aos caminhos tortuosos do Partidão; a prisão política em Ilha Grande; a volta à vida civil e ao inferno das dívidas; nada daquilo que era o material ficcional de Graciliano lhe era estranho. Havia autêntica tensão entre o homem, a atmosfera social e sua criação literária, como lembra seu biógrafo Dênis de Moraes, em O Velho Graça.

Após a prisão, o grande estilista Graciliano Ramos foi trabalhar como copidesque no Correio da Manhã. Seu livro seguinte foi Vidas Secas (1938). O livro, o primeiro narrado em terceira pessoa, aborda uma família de nordestinos retirantes às voltas com a seca, a pobreza e a fome. A narrativa não aponta apenas os problemas sociais, mas o efeito emocional que tais condições impõem aos personagens. Graciliano teve enorme cuidado com este livro, fazendo visitas frequentes à gráfica para ter certeza de que a revisão e as ilustrações não interfeririam em seu texto. Outros escreveram livros naturalistas sobre a pobreza do Brasil, mas talvez não da forma como fez Graciliano: sem opiniões do autor, sem discursos, sem indignação, com o mínimo de palavras, como se apenas abrisse uma cortina para a realidade e dissesse: é assim que é; eles se sentem assim.


A polícia de Vargas aparentemente o deixa em paz, mas anota em seus registros que na sede da revista “Diretrizes”, em 1940, o escritor frequentava assiduamente a sede da revista “Diretrizes”, junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros “conhecidos comunistas e elementos de esquerda”.

Outro grande livro de Graciliano é o autobiográfico Infância (1945). Filho mais velho de um casal sertanejo de classe média, ele narra sua infância em meio a uma prole numerosa, afastado de manifestações de afeto e brincadeiras. A infância árdua, vivida na virada do século XIX para o XX, no interior de Alagoas, encontra suas maiores alegrias na solidão e na descoberta da literatura. Ao fundo, onipresente, pode ser espreitada a condição econômica, histórica e cultural da família.


O célebre Memórias do Cárcere (1953) é obra póstuma. É uma pena que este clássico tenho sido publicado com Graciliano morto meses antes de um câncer no pulmão. Falta-lhe o último capítulo. Sobra muita, muitíssima grande literatura nas esplêndidas páginas dos dois volumes de Memórias do Cárcere. Quando seu filho Ricardo perguntava sobre o final do livro, Graciliano respondia que faltava pouco, que era tarefa para uma semana. O título? Ora era um, ora era outro, Memórias do Cárcere ou simplesmente Cadeia. E o que pretendia com este último capítulo? Sensações de liberdade. A saída, uns restos de prisão a acompanhá-lo em ruas quase estranhas. Mas Graciliano nunca escreveu este final quase feliz.

Há uma querela a respeito do fato de que o texto de Memórias do Cárcere teria sido alterado por pressões do PCB. O neto de Graciliano, o escritor Ricardo Ramos Filho, desmente com veemência tal versão:

É importante que esse equívoco seja desfeito de uma vez por todas. Embora o crítico Wilson Martins e minha tia Clara tenham se esforçado para trazer a público essa versão fantasiosa, jamais, embora o Partidão quisesse, o texto original de Memórias do Cárcere foi alterado. Quem aceita essa ideia certamente não conheceu meu pai, ou mesmo minha avó Heloísa. Isso seria inconcebível. Posso lhe garantir que o Memórias do Cárcere conhecido, a menos do último capítulo escrito por Ricardo Ramos, meu pai, foi publicado exatamente como Graciliano o escreveu.

“Há uma literatura antipática e insincera que só usa expressões corretas, só se ocupa de coisas agradáveis, não se molha em dias de inverno e por isso ignora que há pessoas que não podem comprar capas de borracha. Quando a chuva aparece, essa literatura fica em casa, bem aquecida, com as portas fechadas. E se é obrigada a sair, embrulha-se, enrola o pescoço e levanta os olhos, para não ver a lama dos sapatos”.

Graciliano Ramos, em Linhas Tortas
Isso é tudo que não era Graciliano Ramos.

* Pessoalmente, tomo a liberdade de dedicar esta singela matéria a Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano e a quem tenho como amigo.


Extraído do sítio Sul21

ZURIQUE OFERECE UM ABRIGO À ARTE CONTEMPORÂNEA - Ariane Gigon

O "Löwenbräukunst" de Zurique reabriu suas portas após dois anos de reformas. (Keystone)

Centro econômico da Suíça, a cidade se impõe como capital da arte contemporânea no país. O novo centro Löwenbräukunst é uma verdadeira vitrine para galerias, museus, editoras e livrarias.

O desaparecimento de dezenas de milhares de empregos na indústria nas décadas de 1970 e 1980 teve consequências graves em muitas cidades europeias. Zurique não foi nenhuma exceção. Em Oerlikon, na região norte da cidade, fábricas de todos os tamanhos foram fechadas.

Hoje, essas áreas são chamadas de "Neu-Oerlikon" e "Zürich-West", para a região oeste da metrópole suíça, e estão cobertas de edifícios modernos. Para a conselheira municipal (executivo) ecologista Ruth Genner, essas regiões são como "borboletas após a metamorfose."

Genner classificou assim as mudanças que a cidade vem passando por ocasião do lançamento do festival "Art and the City", em junho, e uma primeira apresentação da "Löwenbräukunst", o centro de arte contemporânea que reabriu suas portas após dois anos de reformas.

A arte invadiu a "Zürich-West" em meados dos anos 1980. As primeiras galerias puderam aproveitar o imenso espaço deixado pelas fábricas vazias para expor suas obras de arte e instalações. Foi em uma antiga cervejaria, a "Löwenbräu", que se instalaram, em 1996, a Kunsthalle, o Museu Migros de Arte Contemporânea e diversas galerias de arte.

Tradição

“Nos anos 90, o número de galerias aumentou em todos os lugares, não apenas em Zurique", diz Claudia Jolles, editora da revista suíça "Kunstbulletin". Mas Zurique pôde contar com uma tradição. "Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos negociantes de arte se instalaram na cidade. O crescimento da praça artística não é um fenômeno repentino", acrescenta.

De acordo com a especialista, o centro Löwenbräukunst desempenha hoje um papel pioneiro. "O fato de ter museus e galerias no mesmo lugar é único e representa uma vantagem decisiva para os compradores internacionais, especialmente porque o aeroporto é muito próximo", diz.

Apesar de ter sido lançado por particulares, o projeto também contou com uma participação ativa da prefeitura que se engajou em uma segunda fase em prol da "economia artística e criativa", que pesa 7,7% do PIB da cidade, contra 4,2% no nível suíço. "Queremos dar um novo equilíbrio para a cidade, não só para garantir a infraestrutura, mas também uma aparência a sua vida artística”, explicou Ruth Genner.

Mecenato externo

O centro de arte contemporânea de Zurique também pôde contar com a ajuda decisiva de Maja Hoffmann, da Basileia, e de sua fundação Luma, que colocou à disposição seu espaço e oferecerá, entre outras coisas, subsídios para curadores.

Segundo alguns conhecedores do ramo, a mecenas levou para Zurique o modelo chamado de "Basileia", um mecenato privado, discreto e disposto a assumir riscos, enquanto o patrocínio de Zurique é tradicionalmente associado a empresas e mais focado em valores sólidos.

"A presença simultânea de galerias e museus permite criar novas dinâmicas. Ela também dá uma cara de cidade cultural para Zurique. Além disso, a diversidade diminui a apreensão bem conhecida do público que visita museus, mas sente um pouco de desconforto em entrar em uma galeria", explica Claudia Jolles.

Concorrência

A combinação de valores seguros entre galerias e instituições internacionais encontra um paralelo na arquitetura, onde o antigo e o moderno se encontram harmoniosamente.

As outras galerias da cidade poderiam sofrer com a atração do novo centro? "Pelo contrário, haverá mais visitantes em toda parte! Zurique é feita de muitos microcosmos e do dinamismo que vem geralmente do meio ‘off’. Este círculo não acabou só porque alguns dos atores se instalaram. Ele está sendo constantemente renovado", responde Claudia Jolles.

Se considerando como um dos atores do meio "sauvage" que acabou se "estabelecendo", a 5 minutos do novo centro, o galerista Mark Müller decidiu não alugar um espaço no Löwenbräukunst. "Além do preço dissuasivo do aluguel, eu prefiro manter uma certa distância, os visitantes não vêm até mim por acaso. Mas todos são beneficiados pelo Löwenbräukunst", diz.

Outros centros artísticos da Suíça, como Genebra e Basileia, reconhecem a posição de liderança de Zurique no mercado de arte contemporânea. "O engajamento do setor privado, que não fica esperando o governo tomar conta de tudo, certamente desempenha um grande papel em Zurique”, observa Katie Kennedy Perez, da galeria Phillips de Pury & Company, de Genebra. “Mas as sinergias criadas pela colaboração entre instituições e particulares, como também acontece Genebra, são certamente muito benéficas", acrescenta.

Extraído do sítio Swissinfo.ch

30 de outubro de 2012

11 RECORDES CURIOSOS NO GUINNESS BOOK - Dária Gonzalez

No livro Guinness dos Recordes, a Rússia é o maior país do mundo. E a maioria do seus recordes é conhecida por medidas incomparáveis: a maior floresta do mundo, a maior rede de transporte, a maior tiragem de jornais. Mas existem também recordes engraçados. A Gazeta Russa reuniu os 11 recordes russos mais importantes - ou curiosos - do Guinness Book.

1- Uma videoconferência com 14.248 pessoas

Foto: Wikipedia
Desenvolvido por programadores russos em 2011, um software de alta tecnologia está no Guiness como o que permite realizar videoconferências com o maior número de participantes. Na demonstração do programa, participaram pessoas de sete distritos federais da Rússia e do exterior. O número total de participantes chegou a 14.248. A conversa, imagina-se, foi mais complicada que final de feira.

2- A maior lavada da história do rúgbi

Foto: Serguêï Tchernykh/RIA Nóvosti
Uma partida de rúgbi entre as seleções da Rússia e da Austrália tornou-se a maior derrota de toda a história. Os russos perderam para a Austrália com um placar final de 4 x 110. A Rússia nunca venceu a seleção australiana depois dessa lavada.

3- A rede de bondes mais longa do mundo

Foto: Wikipedia
A "capital do norte" da Rússia, São Petersburgo, tem a mais longa rede de bondes do mudo, de acordo com o Livro Guinness dos Recordes de 2002. São 2,6 mil bondes circulando por 64 rotas. Somado, o comprimento total das vias é 690 quilômetros. Os bondes começaram a operar na cidade há 105 anos.

4- Povoado com temperatura média de -50° C em janeiro

Foto: Flickr / Blogpaedia.
Na Iakútia, região do Extremo Oriente russo, a aldeia de Omiakon é considerada o povoado mais gelado do mundo. Essa aldeia é situada entre dois picos de montanhas que bloqueiam o ar quente e o impedem de penetrar no vale. A temperatura média em janeiro é cerca de -50ºC. A temperatura mais baixa registrada no local é cerca de -70ºC.

5- A maior disparidade de votos entre candidato

Foto: Wikipedia / Tass.
Em 1989, nas eleições para deputado do povo no Conselho Supremo do distrito eleitoral de Moscou, Boris Iéltsin saiu na dianteira com uma vantagem eleitoral nunca vista antes - nem depois! Foram 4.726.112 eleitores apoiando sua candidatura, enquanto seu adversário recebeu menos de 400 mil de votos.

6- Um jornal diário com 22 milhões de cópias

Foto: Wikipedia
Em maio de 1990, foram impressas 22 milhões de cópias do jornal Komsomólskaia Pravda. O recorde não foi batido até hoje. O diário Komsomólskaia Pravda foi fundado em 1925, e foi o primeiro jornal a ser agraciado com a Ordem Lênin (nº 000 001). Até os dias atuais o Komsomólskaia Pravda é o maior jornal russo. 

7- Um peixe que vale US$ 289 mil: história de pescador?

Foto: Flickr / landahlaust. 
Há 80 anos, pescadores locais fisgaram um esturjão de 1.277 quilos no rio Tíkhaia Sosná (na Rússia Central, região de Bélgorod). Desse esturjão, que mais parece papo de pescador, foram extraídos cerca de 245 quilos de caviar, que renderiam hoje US$ 289 mil. É o peixe mais caro do mundo, segundo o Livro dos Recordes.

8- O maior edifício universitário do mundo

Foto: Flickr / r-z.
O prédio da Universidade Estatal de Moscou Lomonosov (MGU, na sigla em russo) é o maior edifício universitário do mundo. A altura do corpo principal da universidade de 32 andares é de cerca de 240 metros. No interior do edifício há 40 mil salas de aulas, salas de reuniões e instalações administrativas e tecnológicas.

9- Uma catedral de 8.000 metros quadrados

Foto: Flickr / Hugo Grandio.
Outra gigante é a Catedral de Cristo Salvador, também na capital russa. É a maior catedral ortodoxa do mundo. Sua altura é de 103 metros, e ela tem área total de 8.000 metros quadrados. A área total do complexo é cerca de 70 mil metros quadrados.

10- O maior lago do mundo

Foto: Flickr / tutam.
O lago Baikal, na Sibéria, é o mais profundo do mundo, chegando a 1.642 metros de profundidade em determinadas áreas. Depois dele, o segundo lago mais profundo do planeta é o Tanganica, na África Central, com cerca de 200 metros de profundidade. O Baikal é também o lago mais antigo (tem de 20 a 25 milhões de anos de idade) e o maior reservatório de água doce do planeta. Se suas águas fossem distribuídas entre todos os habitantes da Rússia (142 milhões de pessoas), cada um receberia 2.773 barris com 60 toneladas de água cada.

11- Uma floresta que se estende por 9.000 km

Fonte: Wikipedia
A taiga siberiana é a maior floresta do planeta. Começando na parte europeia da Rússia, ela estende-se sobre o Golfo da Finlândia, os Urais, Altái e chega até o Extremo Oriente. O comprimento da taiga é cerca de 9.000 quilômetros. Quase 45% do território russo é ocupado por florestas, que constituem mais de 20% das reservas mundiais de madeira.

Extraído do sítio Gazeta Russa

MUITOS LIVROS, POUCOS FILMES: ESCRITOR E ROTEIRISTA FALAM SOBRE CUBA - Natália Otto

“A leitura é muito forte na cultura cubana. Praticamente todas as casas têm sua biblioteca”, afirmou o poeta Virgilio Lemus. Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Cuba é a ilha da literatura. Um pedaço de terra no meio do mar onde o livro mais caro custa no máximo dois dólares e quase todo cidadão tem uma biblioteca em casa. É o que conta o poeta e crítico literário cubano Virgilio López Lemus. “Dizem que a maior produção do meu país é o açúcar de cana, mas embaixo de cada planta de cana tem cinco poetas”, brincou o escritor, em palestra dada na Sala dos Jacarandás, na Feira do Livro de Porto Alegre, nesta segunda-feira (29).

Pesquisador em literatura com mais de 30 títulos publicados, Lemus mostrou um panorama histórico da poesia cubana e falou das condições da indústria literária no país. “A produção poética de Cuba só pode ser comparada, na América Latina, com a do Chile”, afirmou. “Mas a poesia de Cuba não pode ser resumida ao que é escrito apenas na ilha”, alertou, explicando que cubanos que migraram para outros países na América Latina e para os EUA têm importância no meio literário do país. “Temos uma poesia aberta ao mundo”.

Virgilio Lemus explicou que, a partir dos anos anos 60, com a vitória da Revolução Cubana, a poesia política e coloquial ganhou força no país. “A revolução precisava de uma poesia politicamente agressiva, que desse o testemunho da situação do povo naquela década”, explicou o escritor. Ele afirmou que os poetas de geração de Fidel Castro ainda têm o protagonismo na cena literário de Cuba. Já os novos escritores seguem com frequência uma corrente mais intimista, na contramão do discurso político.

Livros acessíveis para comprar e publicar

“Temos uma indústria do livro muito grande, muito maior que a do Brasil”, pontuou Lemus. Ele afirma que todas as províncias de Cuba têm uma editora, e todo município tem seus poetas. Os livros são produzidos em baixa qualidade e todo o espaço do papel é aproveitado pelas palavras. A edição rústica, no entanto, resulta em um preço extremamente acessível e permite que muitas pessoas tenham a possibilidade de publicar uma obra. “Temos jovens escritores com 25 anos que já têm seis, sete livros publicados”, afirmou.

Lemus explicou que, nos anos que seguiram a revolução cubana, a indústria do livro tornou-se mais rica e os produtos, mais baratos. Hoje, “em um momento de aperto na economia mundial e um misto de capitalismo e socialismo na economia cubana”, os livros ganharam em qualidade. “O livro mais caro em média custa 30 pesos cubanos, o que é menos que um dólar”, explicou o poeta.

“A leitura é muito forte na cultura cubana. Praticamente todas as casas têm sua biblioteca”, pontou. Lemus contou que, às vezes, livros muito esperados pelo público formam filas em frente às livrarias. “No mundo capitalista, os livros são muito caros. Quando viajo, não me deixo entrar em livrarias, só olho a vitrine”, brincou o poeta.

Para Lemus, a acessibilidade do livro é algo que Cuba, que passa por mudanças em seu modelo econômico, precisa conservar. “Temos muito o que mudar, mas o rico desenvolvimento da cultura nacional deve prevalecer. Se perdemos o livro barato, perderemos uma das conquistas mais importantes da revolução”, afirmou.

“Filmes 100% cubanos são uma raridade”, lamentou o roteirista Reinaldo Montero. Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Ao contrário da produção literária, a indústria do cinema cubano dificulta a autonomia dos artistas

O escritor, roteirista e dramaturgo cubano Reinaldo Montero também esteve na Feira do Livro nesta segunda-feira (29). O artista participou de um debate sobre os desafios das adaptações literários no cinema e falou sobre as condições da indústria cinematográfica em Cuba – que, de acordo com ele, não são nem de longe semelhantes às da indústria literária.

“A cada dois, três ou quatro meses, sai um filme em Cuba. O problema é que são todos co-produções”, lamentou. “Filmes 100% cubanos são uma raridade, uma proeza”, disse o escritor, que não conseguiu enumerar nenhum. Para ele, a co-produção tira a autorialidade do diretor e roteirista, que devem obedecer as exigências dos produtores.

“Vêm produtores da Madrid, de Paris, de Berlim, de São Paulo. E nenhum produtor te dá dinheiro e te deixa fazer o filme que tu queres”, afirmou. “O cinema é uma promiscuidade, todos metem a mão no roteiro e tu tens que acabar abrindo mão das próprias ideias para atender os caprichos de atores, diretores e produtores divos”, lamentou Montero.

Apesar das difíceis condições da indústria, o público cubano apoia a produção nacional. “O público de Cuba é de uma nobreza que me assombra”, considerou. “Eles vêem os filmes nacionais com devoção. Vão ao cinema como quem vai à igreja”.

Extraído do sítio Sul21

PREZADA WIKIPEDIA - Philip Roth

Sou Philip Roth. Tive motivos recentes para ler pela primeira vez o verbete da Wikipedia discutindo meu romance A Mancha Humana. Ele contém um sério equívoco e gostaria que fosse removido. Ele entrou na Wikipedia não do mundo da veracidade, mas dos balbucios das tagarelices literárias – não há nenhuma verdade nele.

Mas quando, por meio de um interlocutor oficial, pedi à Wikipedia que deletasse o equívoco, fui informado pelo “Administrador da Wikipedia em Inglês” – numa carta de 25 de agosto – que eu, Roth, não era uma fonte confiável: “Compreendo seu ponto de que o autor é a maior autoridade em seu próprio trabalho”, escreveu, “mas exigimos outras fontes.”

Assim nasceu esta carta aberta. Depois de não conseguir uma mudança feita pelos canais usuais, não sei de que outra maneira proceder.

Meu romance A Mancha Humana foi descrito no verbete como “alegadamente inspirado na vida do escritor Anatole Broyard”. Essa afirmação não é minimamente substanciada pelos fatos. A Mancha Humana foi inspirado num evento infeliz na vida meu amigo Melvin Tumin, já falecido, professor na Universidade de Princeton. Um dia, no outono de 1985, quando Mel, que era meticuloso em todas as coisas, estava meticulosamente fazendo a chamada numa turma de sociologia, notou que dois de seus alunos ainda não haviam frequentado uma só aula ou tentado se encontrar com ele para explicar a ausência, embora já se estivesse no meio do semestre.

Terminada a chamada, perguntou à classe sobre os dois alunos que nunca havia encontrado. “Alguém os conhece? Elas existem ou são fantasmas? (spooks, em inglês)” – infelizmente, as mesmíssimas palavras que Coleman Silk, o protagonista de A Mancha Humana, usa na pergunta que faz a sua turma no Athena College em Massachusetts.

Quase imediatamente, Mel foi convocado pelas autoridades universitárias para justificar seu uso da palavra “spooks” já que os alunos faltantes, nas circunstâncias, eram ambos afro-americanos, e “spook”, nos Estados Unidos da época, era uma designação pejorativa para negros. Seguiu-se uma caça às bruxas durante os meses seguintes da qual o professor Tumin – como o professor Silk em A Mancha Humana – saiu ileso, mas somente depois de ter dado depoimentos demorados declarando-se inocente da acusação de discurso do ódio.

Circulou um sem-número de ironias, pois Mel havia adquirido proeminência nacional entre sociólogos, ativistas de direitos civis e políticos liberais ao publicar, em 1959, o estudo sociológico Desegregation: Resistance and Readiness, e depois, em 1967, com Social Stratification: The Forms and Functions of Inequality, que se tornou referência. Antes de vir para Princeton, ele fora diretor da Comissão Municipal de Relações de Raça, em Detroit. Quando morreu, em 1995, a manchete no obituário do New York Times dizia “Melvin M. Tumin, 75, especialista em relações raciais”.

Efusivo, exuberante

Nenhuma dessas credenciais contou quando os poderes do momento tentaram tirar o professor Tumin de seu elevado cargo acadêmico sem nenhuma razão, como o professor Silk foi tirado em A Mancha Humana.

E foi isso que me inspirou a escrever A Mancha Humana: não algo que possa ou não ter ocorrido na vida, em Manhattan, da figura literária cosmopolita de Anatole Broyard, mas que realmente ocorreu na vida do professor Melvin Tumin, cem quilômetros ao sul de Manhattan, na cidade universitária de Princeton, onde conheci Mel no começo dos anos 60.

Assim como ocorreu com a distinta carreira acadêmica do protagonista de A Mancha Humana, a carreira de Mel foi conspurcada da noite para o dia por ele ter supostamente destratado dois alunos nos quais jamais havia posto os olhos. Até onde tenho conhecimento, nenhum evento remotamente como esse manchou a longa e bem-sucedida carreira de Broyard nos mais altos cumes do mundo do jornalismo literário.

A ocorrência com “spooks” é o incidente inaugural de A Mancha Humana. O núcleo do livro. O romance não existe sem ela. Coleman Silk não existe sem ela. Cada novidade que ficamos sabendo sobre Silk, no curso de 361 páginas, começa com sua perseguição desenfreada por ter pronunciado “spooks” em voz alta numa sala de aula de faculdade. Nessa palavra, falada em absoluta inocência, jaz a fonte do ódio a Silk, suas angústia e queda.

Por ironia, essa e não seu enorme segredo de toda a vida – ele é o filho de pele clara de uma respeitável família negra em Nova Jersey, que consegue fazê-lo passar por branco desde o momento em que entra na Marinha aos 19 anos – é a causa de sua morte humilhante.

Quanto ao escritor Anatole Broyard, ele algum dia esteve na Marinha? Na prisão? Num curso de pós-graduação? Algum dia terá sido vítima inocente de perseguição institucional? Não tenho a menor ideia. Em mais de três décadas, cruzei com ele, casual e inadvertidamente, talvez três ou quatro vezes antes de prolongada batalha contra um câncer de próstata pôr fim à sua vida, em 1990.

Silk, por sua vez, é morto maldosamente, assassinado num acidente de carro planejado e premeditado quando estava com sua improvável amante, Faunia Farley. As revelações que fluem das circunstâncias específicas da morte de Silk pasmam seus sobreviventes e levam à conclusão desolada do romance num desolado lago coberto de gelo onde ocorre uma espécie de confronto entre Nathan Zuckerman e o executor de Faunia e Coleman, o ex-marido de Faunia, o atormentado e violento veterano do Vietnã, Les Farley. Nem os sobreviventes de Silk, nem seu assassino, nem sua amante tiveram origem em outro lugar que não a minha imaginação. Na biografia de Anatole Broyard não há qualquer pessoa ou evento comparável, até onde eu sei.

Eu não conhecia nada da vida privada de Broyard e, no entanto, os aspectos mais delicadamente privados da vida privada de Coleman Silk constituem praticamente toda a história narrada em A Mancha Humana.

Nunca conheci, falei com ou, até onde sei, estive na companhia de uma única pessoa da família Broyard. A decisão de ter filhos com uma mulher branca e, possivelmente, ser exposto como negro pela pigmentação de seu filho é um motivo de grande apreensão de Silk. Se Broyard sofreu essa apreensão, não tinha nenhuma maneira de saber.

Jamais fiz uma refeição com Broyard, jamais saí com ele para um bar ou um jogo de beisebol, nunca o vi numa festa à qual poderia ter ido nos anos 60 quando estava vivendo em Manhattan e em raras ocasiões socializava em festas. Nunca cruzei acidentalmente com ele na rua, embora uma vez – se não me engano, nos anos 80 – nós nos encontramos na loja de roupas masculinas Paul Stuart na Madison Avenue, onde estava comprando sapatos. Como Broyard era a essa altura o resenhista de livros intelectualmente mais refinado do Times, lhe disse que gostaria que ele se sentasse na cadeira ao meu lado e me permitisse comprar-lhe um par de sapatos, na esperança, admiti francamente, de aprofundar seu apreço por meu próximo livro. Foi um encontro alegre, divertido, que durou dez minutos se muito, e foi o único encontro do tipo que tivemos.

Nós nunca nos demos ao trabalho de ter uma conversa séria. Caçoadas de passagem eram nossa especialidade, com o resultado de que nunca soube quem eram seus amigos ou inimigos, não soube onde e quanto ele havia nascido e crescido, nada sobre sua condição econômica, nada de sua política ou times favoritos ou se tinha algum interesse por esporte. Não sabia nada sobre a sua saúde mental ou seu bem-estar físico, e só fiquei sabendo que ele estava morrendo de câncer muitos meses depois de ele ter sido diagnosticado, quando ele escreveu sobre sua luta com a doença na New York Times Magazine.

Eu o conhecia somente como um crítico em geral generoso de meus livros. No entanto, após admirá-lo por sua coragem no artigo sobre sua morte iminente, consegui o número do telefone de Broyard de um conhecido comum e liguei para ele. Foi a primeira e última vez que falei com ele por telefone. Ele foi encantadoramente efusivo, extremamente exuberante, e riu com gosto quando o lembrei de nós em nossa mocidade, lançando uma bola de futebol americano em uma praia em Amagansett, em 1958, que foi onde e quando eu o conheci.

Pele clara

Na época, eu estava com 25 anos, ele com 38. Era um belo dia de verão, e me lembro de ter ido até ele na praia para me apresentar e lhe dizer como havia apreciado seu brilhante conto What the Cystoscope Said. A história havia aparecido em meu último ano de faculdade, 1954, no quarto número da mais soberba das revistas literárias da época, Discovery.

Logo havia quatro de nós – escritores recém-publicados quase da mesma idade. Aqueles vinte minutos de bola constituíram o envolvimento mais íntimo que Broyard e eu tivemos, e elevaram a um total de trinta o número de minutos que gastaríamos na companhia um do outro.

Antes de sair da praia, naquele dia, alguém me disse que havia rumores de que Broyard era um “oitavão” (expressão que indica pessoa com descendência de etnias diferentes). Não dei muita atenção a isso ou, lá em 1958, dei pouco crédito. Em minha experiência, oitavão era uma palavra raramente ouvida fora do sul dos EUA. Não é impossível que eu a tenha procurado no dicionário mais tarde para compreender seu significado preciso.

Broyard era na verdade filho de dois pais negros. Não sabia disso, na época nem quando comecei a escrever A Mancha Humana. Sim, alguém havia me dito um dia, por acaso, que o homem era o filho de um “quadrarão” (outro termo do tipo) com uma negra, mas esse trecho de um disse me disse improvável foi tudo que eu jamais soube sobre Broyard.

Contudo, com o passar dos anos, não foram poucas as pessoas que se perguntaram se, por causa de certas feições suas aparentemente negras – seus lábios, seus cabelos, seu tom de pele – Mel Tumin, que era inflexivelmente judeu na Princeton avassaladoramente branca e protestante de seu tempo, não pudesse ser um afro-americano se passando por branco. Outro fato na biografia de Mel Tumin que nutriu minhas primeiras imaginações de A Mancha Humana.

Meu protagonista, o acadêmico Coleman Silk, e o escritor real Anatole Broyard, inicialmente se passaram por homens brancos nos anos antes do movimento pelos direitos civis começarem a mudar a natureza de ser negro na América. Os que escolheram se passar (essa palavra, aliás, não aparece em A Mancha Humana) imaginaram que não teriam de compartilhar as privações, humilhações, insultos, danos e injustiças que seriam mais do que prováveis de atravessarem seu caminho se eles fossem abandonar suas identidades exatamente como as haviam encontrado. Na primeira metade do século 20, não houve apenas Anatole Broyard – houve milhares, provavelmente dezenas de milhares de homens e mulheres de pele clara que decidiram escapar dos rigores da segregação institucionalizada sepultando para sempre suas vidas negras originais.

Faz de conta

Finalmente, para se inspirar para escrever um livro inteiro sobre a vida de um homem, é preciso ter um interesse considerável pela vida do homem, e, sinceramente, embora eu tenha admirado particularmente o conto What the Cystoscope Said quando surgiu, em 1954, no correr dos anos eu não tive nenhum interesse particular em Anatole Broyard. Nem Broyard nem ninguém associado a ele teve alguma coisa a ver com minha imaginação em A Mancha Humana.

Escrever romances é para o romancista um jogo de faz de conta. Como a maioria dos outros romancistas que conheço, tão logo tive o que Henry James chamou de “o germe”, – neste caso, a desafortunada história de Mel Tumin em Princeton – comecei a fazer de conta e inventar Faunia Farley, Les Farley, Coleman Silk, os antecedentes da família de Coleman e outros cinco mil elementos biográficos que no conjunto formam o personagem ficcional no centro do romance.

Sinceramente, Philip Roth.

Philip Roth é escritor.

** Reproduzido do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo, 29/10/2012, tradução de Celso Paciornik; carta publicada originalmente na revista The New Yorker, intertítulos do OI.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa