30 de junho de 2012

O LADO MUSICAL DE JORGE AMADO - Ricardo Mendonça Cardoso


O site da revista Rolling Stone fez uma matéria sobre o lado musical de Jorge Amado, escolhendo quatro canções feitas por ele em parceria com seu compadre, o cantor e compositor Dorival Caymmi. Confira as belas música escolhidas pela jornalista Cláudia Boëchat e um link para ouvir músicas da trilha sonora original da primeira versão da novela "Gabriela".

“Beijos Pela Noite” (Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carlos Lacerda), interpretada por Danilo e Simone Caymmi:  



“É Doce Morrer no Mar”, interpretada por Caetano Veloso: 



“Cantiga de Cego”, interpretada por Dorival Caymmi:



“Modinha Para Tereza Batista” interpretada por Alice Caymmi: 


Extraído do blog Jorge Amado

POEMA EM LINHA RETA - Álvaro de Campos


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Extraído do sítio Educar Em Português

DEVANEIOS DE ROUSSEAU NA SUÍÇA




(Imagens: Rolf Amiet, swissinfo.ch / © Musée Môtiers Rousseau / Agence Martienne)


Jean-Jacques Rousseau: "Caminhar é algo que anima e vivifica minhas ideias, preciso do meu corpo em movimento para colocar nele minha mente."

O filósofo e escritor caminhou pelas estradas da Europa e da Suíça, onde cruzou o desfiladeiro de Simplon. swissinfo.ch seguiu seus passos em Genebra, cidade onde nasceu em 1712, até Môtiers (Neuchatel) e a Ilha St-Pierre, no Lago de Bienne (Berna), entre 1762 e 1765, antes de deixar a Suíça. 


Extraído do sítio Swissinfo.ch

ACORDO ORTOGRÁFICO DA TANGA


Em qualquer argumentação, o raciocínio válido é necessário para uma exposição honesta dos nossos pontos de vista e sem argumentos que falhem em provar o que alegam ou que provem algo descabido. A esta última prova, a aparente prova de algo errado, chama-se um engano propositado.

Este tipo de engano é usado pelas mais diversas pessoas na nossa vida incluindo ascendentes, descendentes, amantes e governantes. É a vulga tanga. Não a tanga que o actual presidente da Comissão Europeia dizia que o nosso país envergava mas as tangas com que nos alimentam diariamente. Argumentos logicamente inconsistentes mas colocados de forma hábil para, propositada e criminalmente, enganarem os mais incautos.

Considerar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa como um passo em frente no projecto de unificação ortográfica da Língua Portuguesa como fundamento da unidade da lusofonia é uma tanga.

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Timor Leste utilizam a grafia portuguesa. O Brasil não. Unificação significa tornar uno ou reunir várias partes num só. Primeira premissa: há mais países a utilizarem a grafia portuguesa. Segunda premissa: somente o Brasil utiliza uma grafia diferente. Terceira premissa: unificar significa tornar a grafia comum a todos. Logo, quem tem que mudar é o Brasil. Silogismo sem falácias políticas.

Segunda tanga: desaparecem o "c" e o "p" nas palavras onde não se lêem (são mudos). Ao contrário do que os brasileiros possam pensar, escrever ou falar, em grande parte dos casos estas consoantes são lidas. Recessão não se lê da mesma forma que recepção, por exemplo. Se adoptarmos a grafia brasileira e escrevermos “receção”, estamos simplesmente a regredir. Ou seja, se as consoantes não são mudas porque alteram a sílaba tónica não podem ser omitidas.

Terceira tanga: Deixa de ter acento diferencial a forma verbal de «para». Alto e pára o baile! Também vão argumentar que o acento é mudo?

Obviamente que, entre tantas medidas brilhantes, o uso do “h” teria que ser uma das alterações. A humidade passa a ser umidade, por exemplo. Curiosamente, o verbo em que os portugueses mais erram, o verbo haver, mantém o “h” embora perca o hífen nas formas monossilábicas como “hás-de” que passa a “hás de”. Felizmente, não passa a “hades”. Se a padronização do erro é um dos objectivos deste acordo, também o verbo haver deveria perder o “h”. Não existe asneira mais vulgar do que o uso de “á” em vez de “há”. Assim, todos nós, portugueses verdadeiros e portugueses iletrados de bandeira da selecção à janela, teremos a faculdade de escrever correctamente.

No que diz respeito à correcção e bons costumes, ninguém hesitou em referendar a lei da interrupção voluntária da gravidez. Muito francamente, é um pouco absurdo que homens e mulheres que por qualquer razão não possam ter filhos, tenham votado. Não lhes dizia respeito mas votaram e a lei passou. Ainda bem. A língua portuguesa diz respeito a todos nós. Um referendo impõe-se.

E tenho a certeza absoluta do resultado das votações se os portugueses de Fátima e do futebol não estiverem ocupados a ver um jogo de futebol na tasca mais próxima.

ROTA DOS MUSEUS


EM PORTO ALEGRE:

Em Porto Alegre, com desembarque na Estação Mercado, poderão ser visitados vários museus localizados no Centro da Capital. Entre os quais, o Museu de Artes do RS (Margs), onde encontra-se a maior coleção de obras do Estado. O Museu Júlio de Castilhos, o mais antigo do Estado, e conta com um valiosíssimo acervo histórico que retrata a Revolução Farroupilha, Missões Jesuíticas, Guerra do Paraguai e os primeiros anos da República Rio-grandense.

Ainda no Centro de Porto Alegre, poderá ser visitado o Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, com coleções completas de jornais e revistas, reunindo cerca de oito mil títulos, datados desde o ano de 1920. O Museu de Arte Contemporânea, na Casa de Cultura Mário Quintana, possui acervo composto por obras recentes de artistas gaúchos e de outros estados, destacando-se esculturas, pinturas, desenhos e gravuras.

O Museu do Trabalho, além de sua dimensão histórica e sociológica, abriga uma sala de exposições de artes plásticas, oficinas de gravura e serigrafia e um ativo teatro que oferece espetáculos, salas de ensaio e cursos permanentes de artes cênicas. O Museu Antropológico do RS possui itens arqueológicos, objetos e materiais ligados a várias etnias ou grupos sociais. Já no Museu Meridional, poderão ser apreciadas cédulas e moedas de todos os períodos da história do Brasil e cédulas e moedas estrangeiras.

Localizado em plena Praça da Alfândega, o Museu da CEF é parte integrante do Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal no Rio Grande do Sul, também composto por biblioteca, galeria de arte e auditório. O Museu do Vinho e Enoteca estão localizados no antigo prédio da Usina Termoelétrica, Espaço Cultural do Trabalho, na Usina do Gasômetro, tombado pelo patrimônio histórico em 1983.

Confira os endereços em Porto Alegre:



EM CANOAS:

Em Canoas, perto da Estação Canoas/La Salle, está localizado o Arquivo Histórico e Museu Hugo Simões Lagranha, que tem em seu acervo documentos, fotos e peças históricas do município. Outro destaque é o Museu das Ciências Naturais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), sendo o desembarque na Estação São Luís/Ulbra.

Confira os endereços em Canoas:

  • Arquivo Histórico e Museu Hugo Simões Lagranha - Rua Ipiranga, 105 
  • Museu das Ciências Naturais - UlbraAv. Farroupilha, 8001 – Prédio 1 Salas 125 / 127 - Utilizar Integração na Estação São Luis 


EM SÃO LEOPOLDO:

Em São Leopoldo, está localizado o Museu do Trem, anexo à Estação São Leopoldo. O Museu foi construído na antiga estação ferroviária de São Leopoldo, a primeira do Rio Grande do Sul, e mantém viva a história do trem no Estado.

Confira os endereços em São Leopoldo:



EM NOVO HAMBURGO:

Com a expansão da Linha 1 até Novo Hamburgo o município entra na rota cultural dos usuários da Trensurb. Na cidade, estão localizados a Fundação Ernesto Scheffel e, em anexo, o Museu Comunitário Casa Schmitt. Juntos, abrigam mais de 400 obras de Ernesto Frederico Scheffel, constituindo-se numa das maiores pinacotecas do mundo entre as compostas por obras de um mesmo artista. O Museu Nacional do Calçado conserva a memória da atividade coureiro-calçadista do país.



Confira os endereços em Novo Hamburgo:



Extraído do sítio Trensurb

SINAIS DE FOGO ARDEM NA NOVA LITERATURA CUBANA - Raquel Ribeiro

Há mais para além da tríade “sexo, palmeiras e regime” quando se fala de literatura em Cuba. E os escritores só querem fugir desses clichés.

Três avisos ao leitor. Primeiro: quando se fala de Cuba a linguagem tem um peso diferente para quem está dentro (e de dentro) e para quem está (de) fora. Por exemplo: quando se diz “dissidente” também se pode querer dizer “contra-revolucionário”. Nem tudo é preto e branco, negativo e positivo, socialismo (capitalismo) ou morte. É mais complexo, intricado e contraditório do que a redução da linguagem ao seu mínimo denominador comum. Se o leitor não consegue passar além dessa leitura simplista, além da linguagem e das suas nuances, dos seus duplos sentidos, dos seus ódios e das suas obsessões, passe à secção de música.

Segundo: esqueça o Che, o Raúl, o Fidel, os guerrilheiros heróicos e a política, os Castro. Um país e a sua literatura são (sempre) muito mais (e para além) dos seus líderes políticos (efémeros e circunstanciais).

Terceiro: que a autora destas linhas passou sete dos últimos catorze meses em Cuba, quase todos em Havana, e que, por isso, este ensaioreportagem é uma tentativa de ver na sombra o que de fora (à luz) por vezes não se consegue vislumbrar.

Tudo isto a propósito da publicação da nova tradução do romancebíblia- da-cubanidade Três Tristes Tigres, do apátrida-que-mais-amou- Havana, Guillermo Cabrera Infante (Quetzal). Os itálicos são todos dele.

- São sepulcros branqueados, Silvestre. Não é a Nova Jerusalém, meu velho. É Somorra. Ou se preferires Godoma.

(…)

- Conheces a topografia do teu inferno.

- A isso chama-se em espanhol La Rampa. Em cubano, desculpe.

La Rampa é Cuba. Cuba é a vida e a vida inteira cabe ali, da esquina da 23 com a avenida L descendo ao encontro com o mar, num beijo morno de brisa e sal. Esta Havana é Sodoma e Gomorra (Somorra e Godoma à la Cabrera Infante), uma mulher meneando as ancas pela avenida abaixo e homens queimando pestanas com o fumo dos habanos. É a cidade pré-revolucionária, iluminada pelos néons dos cabarets, pela luz das estrelas no Tropicana, ao som de uma dança frenética de rumba e jazz, do tilintar de copos esvaziados de rum, descapotáveis bolerizando-se pelo malecón.

Enrique de la Osa
É pré-revolucionária porque simplesmente já não existe. Agora, a esquina da 23 com a avenida L continua a ser o centro da cidade rivalizando com a Havana da Unesco, colonial e grandiosa, de lindas fachadas disfarçando a escuridão das ruas alumiadas por fios de lampiões tristes e sós, e prédios que desabam quase todas as semanas por velhice. Mas como dizer que ela ainda é a mesma (bela e decadente) cidade de Cabrera Infante, ainda que diferente da Havana da sua infância, tão diferente como as décadas que passaram entre o tal dia 11 de Agosto de 1958 de que fala em Três Tristes Tigres e hoje, neste 2012?

E já não existia em 1965, quando Cabrera Infante escreveu Três Tristes Tigres no seu “exílio siberiano” na Bélgica, aonde era adido da embaixada de Cuba, país que abandonou nesse ano por um refúgio londrino até à sua morte, em 2005.

Daí que este longo fragmento-de-romance seja o símbolo e o epitáfio da Cuba de Batista, da infância nostálgica do seu autor, da Havana ligada à Florida por um ferry diário, de casinos, de prostitutas e velhos americanos, de Hemingway a pescar ao largo lutando contra um tubarão. Mas este retrato imortaliza todos os clichés que (ainda) se propagam sobre Cuba: sexo, mulatas, rum, cigarros e praias paradisíacas, a Varadero das estrelas.

No centro do chowzinho estava agora a gorda (…) movendo-se ao ritmo da música, rebolando as ancas, todo o corpo, de uma maneira linda, não obscena mas sexual e lindíssima, meneando-se ao ritmo, cantarolando por entre os lábios entumecidos, os lábios gordos e roxos, ao ritmo, agitando o corpo ao ritmo, ritmicamente, deliciosamente, artisticamente agora, e o efeito total era de uma beleza tão particular, tão horrível, tão nova que lamentei não ter trazido a máquina fotográfica para retratar aquele elefante que dançava ballet.

“Cuba é o centro dessa periferia na América Latina que é o Caribe. E mais do que Porto Rico, Panamá ou República Dominicana, Cuba ainda monopoliza o imaginário sobre o Caribe e todos os seus estereótipos exóticos”, explica Magdalena López, especialista em literatura Caribenha no Centro de Estudos Comparatistas, em Lisboa. Esse imaginário é o paraíso idílico de praias, coqueiros, rum, sexo e mulatas. Mas Cuba também é diferente: “Tem a particularidade histórica de ser a única revolução marxista ‘de sucesso’ a consolidar-se no poder na América Latina. Essa excepcionalidade diferencia-a dos outros países da América, não só porque representa a utopia da esquerda, mas também o fracasso dessa mesma utopia, um fracasso ainda muito difícil de reconhecer por alguns intelectuais de esquerda”, continua López.

Nesse sentido, o escritor que mais tem propagado essa imagem de deboche associado à falência moral da revolução socialista na ilha é Pedro Juan Gutiérrez que, com a sua Trilogia Suja de Havana(Dom Quixote) transformou a Cuba nostálgica de Cabrera Infante na ruína final do país no pós-Muro de Berlim.

Enrique de la Osa, foto


Essa falência moral está ligada ao outro elemento de exotismo associado a Cuba: a política. O editor do cubano Leonardo Padura em Portugal, Manuel Alberto Valente (primeiro na Asa, agora na Porto Editora) conta que Padura, hoje talvez o mais traduzido e popular escritor cubano da sua geração, se queixa de que “gostaria de ser apenas um escritor a quem lhe fazem perguntas sobre os seus livros”. Isto é, nenhum escritor cubano, na ilha ou na diáspora, consegue livrar-se da pergunta sobre política. Eles querem ser escritores e fugir desse estereótipo, como explica Karla Suárez, escritora cubana que vive em Portugal: “Agora já estou mais habituada, mas no início era estranho. Estava a apresentar o meu livro e perguntavam-me o que ia acontecer a Cuba depois de Fidel. Não sabia responder, ainda não sei responder. Sou uma escritora, não sou analista política. Escrevi um livro, com uma história, e ninguém me faz perguntas sobre o meu livro.”

Cuba é tão complexa que nem mesmo os escritores conseguem explicá-la, assim, numa frase que vaticine o futuro “e depois de?”. Ainda que muitos cubanos se façam a si mesmos essa pergunta, isso não determina a forma como o dia-a-dia se vive na ilha. “Não tenho problema nenhum em falar de Cuba, mas como escritora tenho outras coisas, literárias, muito mais interessantes para discutir. Fidel já tem imenso protagonismo, não quero que a minha literatura seja sobre ele, porque não é e nós escrevemos sobre outras coisas também.

- Vou para o Sierra.

- É muito cedo para a noite e muito tarde para a madrugada. Não está aberto.

Para a Sierra, não é para o Sierra.

- Para Nicanor del Campo, a esta hora?

- Não, porra, vou para a serra. Vou revoltar-me. Tornar-me guerrilheiro.

- O quê?

- Juntar-me ao Fiel, ao Fidel.

- Estás mas é bêbedo, irmão.

Um ano antes de Três Tristes Tigres, o escritor Jesús Díaz publica Los años duros, considerada a obra que inicia um género na literatura cubana: “a literatura da violência”. A par de Jesus Díaz estão Norberto Fuentes, Manuel Cofiño, Rafael Soler ou Eduardo Heras León. Destes, apenas os três primeiros têm obras publicadas em Portugal, mas as mais contemporâneas e não as do período revolucionário, sobretudo porque tanto Díaz como Fuentes se tornaram polémicos dissidentes no exílio (Fuentes publicou em Portugal Autobiografia de Fidel Castro, Casa das Letras).

Los años duros venceu em 1966 o prémio Casa de las Américas, um dos mais prestigiosos da América Latina. Os “violentos” iniciam uma nova literatura da revolução, testemunhos da luta na clandestinidade ou em Girón, escritores que foram milicianos, revolucionários, guerrilheiros e que começam a escrever uma literatura profundamente comprometida com os ideais da revolução cubana. A década de 60 são os “anos dourados” da revolução, quando intelectuais europeus passavam por Cuba como quem vai ali ver a revolução acontecer, quando a orgia revolucionária estava no auge: da Serra à Baía dos Porcos, da “luta contra bandidos” às campanhas de alfabetização. A Portugal chegaram ecos destes autores, sobretudo a partir dos anos 70 quando se publicaram várias antologias de contos cubanos da revolução (na Estampa, Presença ou Edições 70).


Carlos Barria
O professor e investigador em literatura cubana da Universidade de Sevilha, Emílio Gallardo explica que, ainda que Três Tristes Tigres coincida no tempo com “os violentos”, eles são de gerações diferentes. Nos “anos dourados” da revolução “convivem em Cuba alguns dos maiores génios da cultura daquele país (no cinema, pintura e literatura) em todo o século XX. Uns mais marcados pela ideologia, outros menos”, explica o professor. “A cultura cubana reflectia, naquela época, várias cores, vários estilos, várias vozes. Mas tudo se vai estreitando a partir do final dos anos 60.” Ao sair de Cuba em 1965, Cabrera Infante escapou ao período de silenciamento de vários escritores que, dentro da ilha, sobretudo a partir de 1971, começaram a ter dificuldades em publicar. A esse período negro da história de Cuba chama-se “quinquénio cinzento”, uma “travessia amarga” a que foram remetidos vários escritores que sofreram censura, impossibilidade de publicar ou até mesmo repressão ideológica. Aí se incluem os casos de Heberto Padilla ou de Reinaldo Arenas, cujas obras foram consideradas “contra-revolucionárias” ou com graves “problemas ideológicos”. Os dois escritores estiveram presos. O “caso Padilla” teve um enorme eco internacional e levou à cisão de vários intelectuais de esquerda com a revolução cubana. “Com o quinquénio cinzento em vez da pluralidade de vozes temos um monólogo, uma única maneira de ver o mundo que exclui todas as outras. Em vez do conflito natural da convivência e discussão ideológicas dos anos 60, temos uma visão muito ortodoxa do que tinha de ser a cultura, a literatura, o cinema, e fixam-se de forma clara quem são os intelectuais desejados pela revolução e quem são os excluídos”, explica Emílio Gallardo. Diferenças religiosas, ideológicas, de orientação sexual foram simplesmente “abolidas”.

Apesar de o “quinquénio cinzento” durar oficialmente até 1976, só na década de 90 é que Cuba começa a recuperar desse período de silêncio e a falar sobre ele abertamente. Repare-se, lembra Gallardo, que Cabrera Infante, porque escritor dissidente no exílio, não figura no Diccionario de la literatura cubana (1980), mas figura já, assim como vários escritores da diáspora, na História da Literatura Cubana publicada em três tomos na década de 2000. “A partir do final dos anos 80 e nos anos 90, escritores que tinham sido injustamente postos de lado como Piñera, Antón Arrufat, Lezama Lima são recuperados através de prémios nacionais, de artigos em revistas especializadas ou de reedições”, diz Gallardo.

“Vários escritores a partir dos anos 90 recuperam também esse período negro na literatura”, explica Gallardo, como é o caso de Leonardo Padura em Morte em Havana (edição Asa). Estas obras começam a abordar o caso de escritores, actores, encenadores, homossexuais ou com “problemas ideológicos” e que foram editorialmente silenciados, empurrados a trabalhar numa biblioteca (como Arrufat) ou numa fábrica (como Heras León).

- O Batista quer que [a cidade] atravesse a baía.

- Mas não tem futuro. Vais ver.

- Quem, o Batista?

Olhou para mim e sorriu.

- O que é que tu queres?

- Eu? Nada.

- Sabes que nunca falo de política.

É essa a minha política.

- Mas sei como pensas.

- Sim, está bem, as duas coisas.

- Eu também acho – disse. – Não há quem consiga fazer esta cidade atravessar a baía.

Esta é a imagem negra de Cuba que se continua (erradamente) a perpetuar no interesse que o exterior tem sobre a ilha. Emílio Gallardo explica que a edição de literatura cubana em Espanha é diferente da portuguesa, por razões óbvias que têm a ver com a língua e com as relações entre os países. Ou seja, Pedro Juan Gutiérrez e Padura (ambos escrevem de dentro), ou Zoe Valdés (hoje a voz mais popular da dissidência) publicam em grandes editoras como Alfaguara ou Anagrama. Mas há pequenas editoras independentes que continuam a publicar cubanos (ficção e poesia).

Em Portugal, “talvez devido à natureza do mercado”, explica Manuel Alberto Valente da Porto Editora, “é raro que um livro seja publicado se não fez sucesso noutros mercados europeus ou no anglo-saxónico.” João Rodrigues, editor da Sextante, que tem publicado (ainda que timidamente, reconhece) alguns cubanos nos últimos anos, diz: “Às vezes os autores vêm já prefigurados de campanhas internacionais. O que chega cá é uma repercussão do êxito francês ou espanhol. Quando queremos publicá-los do zero é uma dificuldade brutal.”

Os editores reconhecem que, ainda que procurem literatura de qualidade, é fácil cair na tríade “sexo, palmeiras, regime” precisamente porque o trabalho de divulgação da literatura cubana nos mercados internacionais é limitado. “Chega muito pouco cá fora. Há uma certa preocupação em publicar autores cubanos quando eles espelham estereótipos em relação a Cuba: a revolução, o exotismo local, dificuldades económicas. Contra mim falo no sentido em que em Portugal aproveitamos essas tendências. Mas também porque praticamente não sabemos o que se passa dentro da ilha a nível literário, senão com um ou dois autores que conseguiram furar esse bloqueio”, diz Valente.

Claudia Daut
- Sabes que a literatura cubana não trata do mar? Por muito que estejamos condenados àquilo a que Sartre chamaria a ilheitude.

- Não admira. Ainda não notaste que o Maceo equestre está de garupa virada para o mar e para as suas ondas? E as pessoas que se vêm sentar no paredão fazem o mesmo que eu faço no sonho e viram as costas ao mar, ensimesmadas nesta paisagem de asfalto e betão e automóveis que passam.

Claro que a dissidência vende, mas as coisas estão a mudar. Começam a ouvir-se vozes interessantes, como Karla Suárez, publicada primeiro na Asa, agora na Quetzal (o seu último romance, Havana, ano zero, saiu em 2011). Mas também Senel Paz (a Sextante publicou No céu como diamantes, 2010) ou Ena Lucía Portela (na Âmbar, ainda com João Rodrigues, Cem garrafas numa parede, 2004 ). João Rodrigues tem na gaveta um romance “muito entusiasmante” de Portela sobre a vida da escritora americana Djuna Barnes em Paris, que ainda não publicou “por falta de oportunidade”. Senel Paz já tinha publicado o conto O lobo, o bosque e o homem novo (Difel, 1996), dois anos depois do famoso filme Morango e Chocolate (de Tomás Gutiérrez Alea) o ter levado ao cinema.

Senel Paz, hoje vice-presidente da União de Escritores (UNEAC) em Cuba, é uma das vozes mais respeitadas na ilha. Esteve duas vezes em Portugal, onde passou praticamente despercebido, conta João Rodrigues, ainda que o seu livro tenha recebido o prémio Casa da América Latina. Tanto Paz como Padura são referências em Cuba. Padura é talvez o escritor mais popular: em 2011 na feira do livro de Havana o romance O homem que gostava de cães (Porto Editora) esgotou. A fila para os autógrafos tinha centenas de metros. Em várias livrarias da cidade havia mensagens nas portas dizendo “já não temos o livro do Padura”. Este ano, também na feira, Padura lançou um livro de crónicas. Também esgotou. A escritora cubana Maria Elena Llana disse-lhe, no lançamento: “Padura, os teus livros têm de ser lançados no Parque Central. A salita da UNEAC já é demasiado pequena para ti.”

Ainda que Karla Suárez viva fora de Cuba, tem uma relação forte com a ilha, aonde vai sempre que pode. Em Fevereiro deste ano esteve na feira do livro de Havana a lançar Carroza para actores, livro de contos. Suárez esteve também no debate sobre literatura cubana na diáspora, conduzido por Paz e Padura. Todos defenderam que os escritores cubanos a viver fora da ilha devem ser considerados e lidos. Ou seja: que a literatura cubana é uma só, e não apenas de fora ou de dentro. “Temos sido testemunhas, lamentavelmente, de uma ruptura política bastante fundamentalista (de parte a parte) em relação à literatura que se escreveu nos últimos 50 anos dentro e fora da ilha”, disse Padura no debate. Estas posições, diz Karla Suárez, “geraram muitos ódios”: escritores como Cabrera Infante, por exemplo, recusaram-se a publicar em Cuba; ainda hoje a viúva do escritor não consente que contos seus sejam incluídos em antologias na ilha. “Há muitos ódios na história de Cuba, são três gerações de ódios, mas isso não nos levou a nada”, diz Suárez.

Juan Barreto, foto


São escritores como Padura ou Senel Paz que estão a “abrir buraquinhos no sistema”. É “muito injusta” a visão “simplista” de que todos os escritores que vivem em Cuba são “a favor” do governo, explica Suárez. “Todos trabalham para o governo, porque tudo é do governo, mas não quer dizer que todos sejam cem por cento a favor de tudo o que acontece em Cuba. Há pessoas em editoras que atravessam muitas dificuldades, chocam com muitas resistências mas lutam todos os dias para que as coisas mudem.” Há uma vitalidade literária, um burburinho intelectual na ilha que não passa cá para fora: os escritores continuam a encontrar-se, em tertúlias, em debates, em lançamentos, discutem, criticam-se regularmente.

É uma ilha de equívocos ditos por um gago bêbedo que significam sempre o mesmo.

Há toda uma geração de escritores cubanos que ainda permanece na penumbra editorial. Não querem “vender-se” aos estereótipos e querem continuar a escrever a partir da ilha, porque aí, simplesmente, pertencem. Aí é o seu lugar. Os chamados “novíssimos” são exemplo.

Com o “período especial”, após a queda do bloco socialista, Cuba abriu-se ao mundo e toda uma “nostalgia pela ruína do socialismo” entrou no imaginário ocidental, explica Magdalena López. É essa a nostalgia veiculada pelo Buena Vista Social Club de Wim Wenders.

Mas a ruína já estava lá, no final dos 80, quando os “novíssimos” começaram a fracturar o sistema com temáticas polémicas como homossexualidade, prostituição, travestismo, a guerra de Angola, balseros, ou dificuldades económicas. Eles são Alberto Garrido, Amir Valle, Ángel Santiesteban, Raúl Aguiar, Alberto Guerra Naranjo ou Yoss (alguns publicados numa antologia da Caminho em 1996). São a primeira geração nascida com a revolução. Já nem todos vivem em Cuba, mas foi com eles que a literatura se despiu de todos os preconceitos. “Esse é o momento em que Cuba deixou de ser excepcional e começou a mostrar problemas comuns a toda a América Latina, ainda que provenientes de um sistema diferente, o socialismo”, explica López. O submundo, a criminalidade, as drogas, temáticas comuns em literaturas do México ou do Brasil, passam a surgir na literatura cubana. Isto é: no “período especial” “a literatura latino-americanizou-se”, diz López.

No “período especial” não havia papel, editoras faliram, a produção literária entrou em colapso. Karla Suárez estava lá, a começar. Com ela: Ena Lucía Portela, Ana Lídia Vega e os “novíssimos” que chegaram aos 90 quase sem publicar, senão contos isolados em revistas. “Mas éramos uma geração nova, fora do establishment”, diz Suárez. Não havia papel, mas os escritores encontravam-se num ambiente de tertúlia, apoiavam-se, ouviam-se e liam-se uns aos outros, escreviam contos em “facturas da luz”, livros circulavam em “folhetos” agrafados. “Muitos contos apenas ouvi”. “Era uma espécie de literatura oral, muito livre, porque não tínhamos pressão de publicar, não tínhamos um público, não havia censura, escrevíamos para nós.”

Claudia Daut
O país mudava tanto, todos os dias, como Karla Suárez descreve em Havana, ano zero. Foi um grau zero da existência dos cubanos, o fundo do poço. Mas havia, naquela literatura, “uma coisa linda de verosimilitude literária, de pureza, de verdade, que tinha a ver com o nosso quotidiano”.

O mercado, enfim, mudou tudo. Não foi por acaso que o papa Bento XVI disse, quando visitou Cuba em Março: “Que Cuba se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba.” Lentamente, isso está a acontecer. Agora, os escritores cubanos só querem ser lidos, mas fugindo aos clichés.

* Originalmente publicado no suplemento Ipsilon do jornal português Público.


** Raquel Ribeiro - É jornalista, romancista e investigadora doutorada em Estudos Portugueses pela University of Liverpool, com uma tese sobre a ideia da Europa em Maria Gabriela Llansol. Está neste momento a iniciar uma investigação em pós-doutoramento na University of Nottingham, no Reino Unido, com o projecto War Wounds: Cultural Representations of the Cuban intervention in the Angolan Civil War, que analisa a produção cultural (cinema e literatura) angolana e cubana a partir da intervenção de Cuba na guerra civil de Angola. Como romancista, publicou Europa (Asa, 2002), sob o pseudónimo Maria David, e publica regularmente #Série#, trabalho a quatro mãos com o fotógrafo Paulo Pimenta.


Extraído do sítio Buala

ROUSSEAU MAIS DO QUE NUNCA É ESCRITOR DO MUNDO - Isabelle Eichenberger

Como autoditada de talento, Rousseau escreveu sobre todos os assuntos. (AFP)

Trezentos anos depois de seu nascimento, o filósofo e escritor Jean-Jacques Rousseau continua a ser o objeto de um verdadeiro culto no mundo inteiro. Sua obra continua a ser editada, comentada e traduzida.

França, Itália, Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, Brasil, Benin, China, Japão. Não é um sorteio de futebol mas a lista não exaustiva de países que homenageiam o “cidadão de Genebra” com incontáveis manifestações. Não é um acaso que o filósofo e escritor tenha sido inscrito no registro Memória do Mundo da Unesco.

“Rousseau é um dos autores ocidentais mais conhecidos no Japão, onde quase todos os seus escritos são traduzidos desde o fim do século 19. Atualmente, se contarmos os doutorandos e os jovens pesquisadores, tem pelo menos 50 japoneses trabalhando sobre a obra do cidadão de Genebra, entre eles quatro participam na reedição das obras completas”, declara Takuya Koyabashi à swissinfo.ch.

Esse japonês, doutor em Rousseau botânico, acrescenta: “Nos interessa também o aspecto quase budista da identificação à natureza a ao universo que encontramos nosSonhos”. É importante frisar que um dos maiores especialistas da música de Rousseau é 
Yoshihiro Naito, outro japonês.
" O homem nasce livre e em todo lugar está entre as grades. " - Jean-Jacques Rousseau, "Do Contrato Social ou Princípios do direito político"
Muitas publicações

“São publicados todo ano tantos trabalhos e livros sobre Rousseau quanto sobre Shakespeare e até mais do que seu grande rival Voltaire. Os estudantes são cativados pelo aspecto autobiográfico das Confissões e pelo Discurso sobre a Origem da Desigualdade, que continua atual. Ele é fundador do pensamento moderno mas também, com A Bela Heloísa o primeiro autor best-seller da história” declara Frédéric Eigeldinger, professor aposentado da Universidade de Neuchâtel. 

Martin Rueff, professor da Universidade de Genebra, acrescenta: “Há poucos escritores tão precisos nas descrições, tão profundos nas construções e tão elegantes. Suas qualidades de escritura estimulam os estudantes.”

Há duas outras razões fundamentais de continuar a ler Rousseau, afirma Martin Rueff: Há a qualidade de suas descrições, porque ele soube perceber certas alienações que seus contemporâneos não viam e até antecipou as alienações que seriam as nossas. Há ainda a qualidade extraordinária de suas construções teóricas, com hipóteses que ainda são válidas hoje.”

Como autodidata dotado, Rousseau falou de todo tipo de assunto e teve ideias brilhantes em todas as áreas: filosofia, pedagogia, poética, botânica, música, etc. Sua reflexão sobre a natureza do poder e os sistemas de governo foi permanente. Continha os germes da Revolução Francesa, o que lhe rendeu perseguição e exílio. Queimados publicamente em Genebra, Emilio e o Contrato Social continuam sendo debatidos.

Mas Rousseau escritor é quase unanimidade. A escritura desse amante da natureza tem uma qualidade descritiva muito nova. Sua prosa rica em sensações visuais e auditivas traz a língua necessária para o desenvolvimento da poesia do século seguinte. Ele é considerado como o pai do romantismo que surgia na Europa.
"Eu formo uma empresa que jamais teve outro exemplo, e cuja execução não terá imitador. Eu quero mostrar à meus semelhantes um homem em toda a verade da natureza; e esse homem serei eu."  - Jean-Jacques Rousseau, "Pacto autobiográfico" (Confissões I)
Egocentrismo e/ou introspecção

É verdade que Rousseau é de acesso mais difícil para os mais jovens. Mas Marie-France Puro, professora de colégio em Genebra, o inclui todo ano em seu programa. “Geralmente meus alunos têm preconceitos porque Rousseau lhes parece muito longe de suas preocupações. Tento então preparar o terreno para lhes mostrar que o autor das Confissões coloca em cena um rapaz da idade deles. É um velho que fala com carinho do jovem despreocupado que ele foi, mas que também se diverte”, explica a professora à swissinfo.ch.

“Alguns alunos acabam por entrar nessa escritura, que parece um romance de formação e de aprendizagem”. Mas, acrescenta Marie-France Puro, “eles se sentem incomodados pelo lado puritano com as mulheres e sobretudo pelo aspecto egocêntrico um pouco louco do escritor, que eles não entendem.”

Ela confessa ficar “incomodada pela ambivalência de Rousseau com as mulheres”, mas se diz ao mesmo tempo “tocada por sua humanidade e sua coragem de falar de suas dificuldades íntimas.” 

Para Frédéric Eigeldinger, “o egocentrismo” de Rousseau constitui sua grande originalidade porque ele “inventou a introspecção e a confissão” que servirão de exemplo para escritura autobiográfica tanto na França (Chateaubriand, George Sand) como na Suíça (Henri-Frédéric Amiel). Esse tipo de literatura possibilitou, desde o surgimento da psicanálise, um campo inesgotável de pesquisas.

Mentira ou verdade?

Existe um ponto em que os especialistas em literatura divergem: a sinceridade de Rousseau. Alguns o acusam de “mentiroso”, especialmente a respeito de seus cinco filhos abandonados à assistência pública.

Martin Rueff tem interesse na questão da sinceridade por um aspecto mais teórico (o que significa contar sua vida) do que factual (no que foi que ele mentiu). “Creio que Rousseau é sincero mas, como todos nós, ele tem contradições existenciais. Fundamentalmente é alguém que não mente para ele próprio e isso é inestimável.”

Universalidade e modernidade

É certo que Rousseau continua sendo muito lido. Seus livros são vendidos em livraria e existem numerosos sites e blogs na internet.

O site ATHENA da Universidade de Genebra, um dos primeiros a ter editado os grandes textos de Rousseau (entre outros) online foi criado em 1994. Seu criador Pierre Perroud disse à swissinfo.ch que somente a edição das Confissões exigiu dez anos de trabalho.

“O site tinha um milhão de conexões por mês. O Discurso sobre a Desigualdade foi baixado em milhares de exemplares ou mesmo milhões”, afirma esse pioneiro da internet, precisando que hoje o site se ampliou consideravelmente.

Extraído do sítio Swissinfo.ch