30 de janeiro de 2012

MANIA DE INVESTIMENTO EM VINHOS

Entre os diversos produtos de financiamento, qual será o mais lucrativo? Um relatório divulgado pela bolsa de valores de vinhos em Londres indica que os vinhos especificados de Bordeaux, na França, possuem a maior taxa de valor agregado, deixando para trás os produtos de investimento tradicionais como ouro, óleo cru, ações, relíquias antigas e diamantes.

"Traz os vinhos de Lafite do ano 1982."

O que você está ouvindo é um trecho de diálogo de um filme de Hongkong. Anos se passaram, o filme já foi esquecido, deixando apenas o nome Lafite, considerado por chineses sinônimo do vinho mais respeitável e mais representativo em todo o mundo. Ma Jingqiao, tem um cave privado nos arredores de Beijing. Como investidor, ele coleciona quase todos os tipos de vinho, incluindo o luxuoso Lafite Rothschild.


"O cave tem vinhos de todas as principais regiões de produção do mundo. A maioria da minha coleção é da França. Para mim, os vinhos representam a expressão de romance."

O vinho, muito além de ser romântico, virou alvo bem concorrido entre os investidores chineses. O Lafite do ano de 82 é vendido atualmente a um preço acima de 50 mil yuans. Ma Jingqiao tem duas garrafas de Lafite.

"Este foi comprado em 2008 por 30 mil yuans. O outro, cujo preço foi de aproximadamente 7 mil, já subiu para 15 mil."

Além do prestigiado vinho Lafite Rothschild, que vem das vinhas com a idade média de 40 anos, a fazenda produz também outro tipo de vinho com o rótulo Carruades de Lafite, feito com vinhas jovens. Em 2006, para celebrar a construção da cave, Ma Jiangqiao adquiriu dezenas de caixas de Carruades de Lafite com preço de 800 yuans por cada garrafa. Em cinco anos, o valor do vinho foi multiplicado por cinco. Para fazer face ao desequilíbrio entre escassez de oferta e excessiva demanda, Ma se lançou ao mercado de vinho a prazo.

De acordo com estatísticas, o investimento nas 10 variedades de vinhos de Bordeaux gera um lucro de 150% em três anos, 350% em cinco anos e 500% em dez anos. Dados repassados pela Associação de Vinhos Bordeaux da França indicam que em 2010, a China já superou Grã-Bretanha e Alemanha, se tornando o maior destino de vinhos Bordeaux, com volume total de importações de 90 milhões de euros. Com o grande entusiasmo dos chineses na coleção e investimento em vinho, a primeira bolsa de vinho na Ásia entrou recentemente em funcionamento após passar um período de teste de meio ano: a bolsa de vinho de Shanghai. Gu Guang, criador da bolsa, está satisfeito com o volume negociado por dia na plataforma.

"O volume diário de negócios fica entre 6 milhões de 7 milhões de yuans. A cada dia temos cem ou duzentos novos clientes."

Em comparação com investidores ocidentais, que possuem mais experiência no mercado de vinho e apostam nos lucros de longo prazo, as atividades dos investidores chineses parecem mais com especulações. Assim, os vinhos Carruades de Lafite, produtos da segunda linha da fazenda Lafite Rothschild, têm um preço incrívelmente acima de vinhos de superior qualidade de outras fazendas maiores da França.


Especialistas alertam para o risco de bolhas especulativas, como o famoso episódio histórico de mania de tulipas nos Países Baixos. Em 1635, o preço de bulbos de tulipas de variedades raras cresceram 20 vezes devido às especulações. No seu auge, uma tulipa poderia ser negociada por um preço equivalente a uma casa. As tulipas deixaram de ser uma flor de apreciação e se tornaram um produto de investimento procurado. Muitas pessoas até venderam propriedades, como terras, jóias, casas, enquanto outras pediram créditos ao banco para adquirir tulipas. Mas, em 1636, com a oferta abundante, o preço da tulipa caiu em uma escala de 90%.

Para evitar os efeitos da mania de tulipas, o investimento em vinhos exige decisões mais sensatas. Diferente de ouro, o vinho tem prazo de validade, que geralmente é de 20 anos. Além disso, somente 0,1% dos vinhos da produção mundial merece ser colecionado por longo prazo.

Extraído do sítio da CRI

FILMES INDICADOS AO OSCAR MOSTRAM QUE A CULTURA FRANCESA ESTÁ EM ALTA EM HOLLYWOOD - Sérgio Rodrigo Reis

Além de ambientar seu filme em Paris,
Woody Allen trouxe para o elenco
ninguém nada menos que a primeira-
dama Carla Bruni-Sarkozy
O maior sucesso de bilheteria do cineasta americano Woody Allen nos últimos tempos é uma homenagem à efervescência cultural da capital francesa dos anos 1920. Em Meia-noite em Paris, indicado aos Oscar de melhor filme, direção, roteiro original e direção de arte, um escritor americano em pleno 2010, depois de pegar carona numa madrugada fria, é misteriosamente levado ao encontro de personalidades que viveram por lá no início do século passado. De uma hora para outra, ele passa a conviver com o charmoso círculo de amizade da escritora Gertrude Stein, formado por autores, pensadores e artistas como Pablo Picasso, Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. A deliciosa narrativa lidera uma série de produções, livros e exposições, que exaltam uma visão elegante e nostálgica da Cidade Luz. Para além do interesse turístico convencional, a cultura francesa, com essa movimentação, voltou à moda. 

O filme de Wood Allen ganhou reforços com a divulgação dos outros concorrentes à premiação americana. Deu França na cabeça. O longa A Invenção de Hugo Cabret, do veterano Martin Scorsese, a história de um órfão vivendo secretamente numa estação de trem em Paris, lidera o número de indicações ao Oscar: são 11. Logo em seguida vem o filme mudo e em preto e branco O artista, do diretor francês Michel Hazanavicius, com 10 indicações. Ele narra a saga do astro do cinema George Valentin (Jean Dujardin) e seu medo de perder espaço profissional com a chegada do cinema falado. Como ainda não estrearam no Brasil, a fama desses longas-metragens se resume à repercussão das indicações ao Oscar e dos prêmios já conquistados e às inúmeras críticas positivas que pipocam na internet.

Autor do guia E foram todos para Paris, o jornalista Sérgio Augusto, não entende o porquê de, de uma hora para outra, Paris ter se transformado em fenômeno. “A cidade nunca deixou de ter prestígio, sempre atraiu intelectuais, artistas e pensadores, sobretudo pelos ideais da Revolução Francesa e por ter se tornado espécie de meca da criatividade mundial.” Um certo ofuscamento cultural, que marcou a França nas últimas décadas, é atribuído, de acordo com ele, ao período pós-Segunda Guerra, quando os americanos, com seu poder de difusão da indústria cultural e de seus movimentos artísticos, espalharam seus ideais para vários continentes. A proposta de editar um guia nostálgico sobre a mesma cidade narrada por Woody Allen surgiu com a boa repercussão do filme Meia-noite em Paris. Mas não foi, nem de longe, uma cópia do argumento alheio.

Depois de uma de suas inúmeras viagens à França, Sérgio Augusto publicou num jornal paulista, nos anos 1990, uma extensa reportagem sugerindo uma visita diferente a Paris. Propunha ao visitante seguir os passos daquela turma de personalidades mundiais que fizeram a cidade fervilhar a partir de 1920, tornando-a cenário de um estilo de vida livre e descompromissado, berço de movimentos artísticos de vanguarda e inspiração para marcantes obras da literatura e das artes plásticas do século 20. A repercussão foi imediata: vários dos seus amigos guardaram o jornal e, vez por outra, quando iam até lá, levavam a publicação. Com a feliz coincidência do lançamento de Meia-noite em Paris, não faltaram pedidos de transformar a reportagem em livro. A aposta deu certo. Segundo ele, atualmente não param de aparecer lançamentos parecidos. “São tantos livros sobre Paris nas livrarias atualmente que viraram um tipo de gênero”, brinca.

Nostalgia

A escritora Lúcia Helena Monteiro Machado lançou, em 1997, o guia Paris para brasileiros, bem antes da mania atual. “Essa história de artistas e escritores americanos se mudarem para lá é antigo. Paris jamais saiu de moda.” Para ela, se há um fato novo é uma certa “redescoberta” daquela realidade por Hollywood. “Acho a cidade mais bonita que existe. É a capital cultural do mundo. Paris é sempre Paris.” A escritora não deixa de ter razão, mas não há como negar que existe, até mesmo dentro da França, um forte clima de nostalgia por tudo que a cultura daquele país significou no passado recente e uma forte tentativa de retomar a posição importante no cenário internacional. A excelente repercussão da exposiçãoMatisse/Cézanne/Picasso… A aventura dos Stein, que esteve nos últimos quatro meses no Grand Palais, em Paris, e foi encerrada no último domingo, é prova da boa fase. Ela virou fenômeno de público, sendo vista por mais de meio milhão de pessoas.

Modernos

A exposição no Grand Palais recuperou o papel de mecenas e incentivadora de jovens autores desempenhado pela poeta e escritora americana Gertrude Stein, que se mudou para Paris nos anos 20 do século passado. Coube a ela, ao chegar àquela cidade, ser uma espécie de líder da “geração perdida”, como ficou conhecido o grupo de autores americanos radicados na cidade à época, entre eles Ernest Hemingway, Zelda e F. Scott Fitzgerald, e ainda o papel de colecionar, com seus irmãos, as primeiras obras do núcleo fundador da pintura moderna, do qual fizeram parte artistas como Picasso, Matisse, Cézanne, Renoir, Delaunay, Juan Gris. O rico acervo da escritora ilustra a exposição, que também traz curiosidades sobre Stein e sua importância para as vanguardas do século 20. Antes de Paris, a mostra foi vista com boa repercussão no Museu de Arte Moderna de San Francisco, nos Estados Unidos, país que a recebe novamente no próximo mês, no Metropolitan Museum, em Nova York.

A boa fase da produção cultural francesa não é só internacional. Dentro do próprio país o cinema vive fase interessante, com fenômenos como Les intouchables (Os intocáveis), dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache. Baseado em fatos reais, trata da convivência de um tetraplégico milionário com um homem recém-saído da prisão, que se candidata ao cargo de cuidador dele. Um árabe na vida real, na película é representado pelo ator negro Omar Sy. O refinado cadeirante Philippe, apreciador de arte, gastronomia e música clássica, é interpretado pelo ator François Cluzet. Desse inusitado encontro nasce uma amizade incomum baseada na tolerância que cativou até o momento, só na França, mais de 17 milhões de espectadores. Les intouchables, que ainda não tem data definida de estreia no Brasil, é o carro-chefe de uma série de produções francesas com boas críticas e público crescente, que tem deixado para trás blockbusters estrangeiros. Outros exemplos são Polisse (prêmio da crítica em Cannes) e La guerre est declarée, que foi o candidato francês este ano para o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Durante os nove anos em que fez mestrado e doutorado em cinema na França, o pesquisador de audiovisual Pedro Maciel Guimarães, um dos curadores da Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano, viveu de perto aquela realidade e acha que essa repercussão da cultura francesa é uma feliz coincidência. “Paris e França são constantemente redescobertas.” Na realidade, ele vê a situação como um movimento de mão dupla. “Os europeus sonham em fazer carreira em Hollywood, já os americanos vão atrás daqueles cenários”, compara Pedro Guimarães. 

França na tela - Em cartaz

L’Apollonide – Os amores da casa de tolerância (L’Apollonide – Souvenirs de la maison close, França, 2011), de Bertrand Bonello, com Hafsia Harzi e Noémie Lvovsky. Passado no início do século 20, nos últimos dias do bordel L’Apollonide. 

Vem aí

O artista (The artist, França/Bélgica, 2011), de Michel Hazanavicius, com Jean Dujardin, Berenice Bejo e John Goodman. Na Hollywood de 1927, George Valentin, astro de filmes mudos, teme que a chegada do cinema falado faça com que ele seja esquecido. Estreia nacional: 10 de fevereiro. 

A invenção de Hugo Cabret (Hugo, EUA, 2011), de Martin Scorsese, com Chloe Moretz, Jude Law e Sacha Baron Cohen. Homenagem à Paris dos anos 1930. Conta a saga de um órfão que vive numa estação de trem e está envolvido no misterioso desaparecimento do pai. Estreia: 17 de fevereiro.




La delicatesse (França, 2011), de David Foenkinos e Stéphane Foenkinos, com Audrey Tatou. Mulher em luto pela morte do marido há três anos é cortejada por um sueco colega de trabalho. Estreia: 16 de março. 

Na internet

My French Film Festival - Em sua segunda edição, o festival virtual oferece, até 1º de fevereiro, exibições gratuitas de longas e curtas-metragens franceses. Entre as produções que serão apresentadas destacam-se: Um veneno violento, de Katell Quillevéré e A rainha das maçãs, de Valérie Donzelli. Os filmes podem ser vistos pelo site: www.myfrenchfilmfestival.com

Brassaï em BH

Uma visão incomum de Paris. Essa é a proposta da exposição Brassaï, Paris la nuit , até 1º de abril, no Oi Futuro Av. Afonso Pena, 4001). Na mostra, a capital francesa é vista a partir de jogos de sombras, claros e escuros, por meio das imagens feitas nos anos 1930, pelo fotógrafo Brassaï. As belas imagens, que formam espécie de crônica da vida noturna parisiense, com imagens externas, como a da Torre Eiffel, e de ambientes fechados, como cafés e cabarés, são rara oportunidade de ver as cenas registradas pelo fotógrafo húngaro com alma francesa Gyula Halász (1899-1984), que assinava seus trabalhos com o pseudônimo Brassaï. Sem dispor de flashes, utilizava postes, letreiros e faróis de carros como fonte de luz para as fotos. O único senão da exposição é a iluminação: boa parte da visibilidade das imagens fica prejudicada por reflexos de luzes nas fotografias ou pela pouca luminosidade em outras. Para um mestre da luz, de seus caprichos e sutilezas, é um erro que cobra correção urgente.

Extraído do sítio Divirta-se.uai

A SABEDORIA DO BOÊMIO - Ana Ferraz

Noite dessas, Paulo Vanzolini sonhou com uma poesia de Olavo Bilac que decorou quando ainda era rapazote. Os versos, que são muitos, vieram por inteiro. Aos 88 anos, o autor de composições que atravessaram gerações sem perder a força, como Ronda e Homem de Moral, conserva a prodigiosa memória e se mantém imperturbável diante da fama.

Vanzolini e Adorinan Barbosa, o "amigo de muitas cachacinhas" que hoje ele "visita" no Mercadão. Foto: Gustavo Lourenção
Considerado por muitos o embaixador do samba de São Paulo, ele agradece o epíteto. “Não é verdade, mas eu gosto”, diz, sorriso nos lábios. Acomodado numa poltrona de couro na modesta casa do Cambuci, “bairro cheio de bares ótimos”, o homem culto que cresceu rodeado de livros e se tornou zoólogo de reputação internacional põe em perspectiva a criação de uma vida, 70 composições e 155 trabalhos científicos. “Que glória é essa, meu Deus”, questiona, num lapso, o declarado ateu, bisneto de anarquista. “É uma glória muito humilde. Não tenho motivos para ser vaidoso.”

Nesta sexta 27, semana em que São Paulo completa 458 anos, Vanzolini concederá ao público o privilégio de tê-lo na Choperia do Sesc Pompeia. Instalado numa mesa, cervejinha à mão, o artista acompanhará alguns de seus grandes sucessos, interpretados por Ana Bernardo e Carlinhos Vergueiro. Entre uma canção e outra, o show será pontuado pelas reminiscências do compositor que, junto com Adoniran Barbosa, de quem foi “amigo de muitas cachacinhas”, traduziu a cidade de forma definitiva.

“Adoniran era ótima pessoa, nos dávamos muito bem. O cara mais desligado que já conheci. Vinha de família italiana do Vêneto. De menino o chamavam de Joanim.” Os longos papos entre Vanzolini e João Rubinato (Adoniran), que em sua simplicidade dizia não entender bem o que o cientista fazia (“ele mexe com zoológico, sei lá”), jamais renderam samba. “Sempre me pedem para contar como era nossa conversa. Era muito cotidiana. Não tinha nada demais. Era nossa conversa.”

A famosa Tiro ao Álvaro, relembra, surgiu como um presente do jornalista e escritor Osvaldo Molles ao amigo Adoniran. Foi Molles também o criador do personagem Charutinho, de tiradas engraçadas embaladas por sotaque italianado, que interpretou com grande sucesso na Rádio Record. “Adoniran acabou assumindo na vida real o personagem da ficção. No fundo, ele era mesmo só o Joanim.” Quando a saudade aperta, Vanzolini dirige-se ao Mercado Municipal, o Mercadão da capital paulista. “Colocaram uma estátua do Adoniran numa mesa. De vez em quando vou lá tomar uma cerveja com ele.”

A prosa animada de repente silencia. O olhar do compositor vagueia pela sala, ambiente que Ana Bernardo, sua atual mulher, define como “totalmente masculino”. Justifica-se a quase queixa: sobre um aparador, uma grande cobra de madeira exibe a boca aberta (souvenir comprado na Espanha). A seu lado, outra, bem mais modesta nas medidas, porém, verdadeira, exibe-se sobre um tronco. Para alívio dos visitantes, o exemplar não se move, foi plastificado graças a uma técnica especial. A terceira fica na mesinha de centro. Ao lado da porta de entrada, o cabideiro dá pistas sobre a atividade profissional do dono da casa. Ali estão os chapéus que Vanzolini usava para adentrar o mato em busca de bichos.

Foi com a zoologia que o boêmio ganhou a vida. Ele fez-se médico pela Universidade de São Paulo somente para facilitar o doutorado em zoologia, em Harvard, nos EUA. Especialidade: répteis. “Nunca examinei um doente na vida.” Por motivos óbvios, tem grande apreço por lagartos e lagartixas. Até hoje mantém a postos seu kit de pegar bicho. No ano passado, uma editora reuniu toda a sua produção científica. Também em 2011, a Fundação Conrado Wessel concedeu seu prêmio máximo a Vanzolini. “Vou receber em junho, na Sala São Paulo. É bom pra burro, são 300 mil reais”, admira-se. “Só que vou ter de pagar Imposto de Renda.”

Em um ano repleto de homenagens, Vanzolini receberá a Medalha Armando de Salles Oliveira. Um gesto de reconhecimento ao homem de números científicos robustos: 47 anos de trabalho no Museu de Zoologia, 31 deles como diretor, 40 mil animais capturados e a construção do mais completo acervo sobre répteis da América do Sul. A paixão pelos tais bichos começou quando ele ainda era imberbe. Aos 14 anos já estagiava no Instituto Biológico, onde foi iniciado na branquinha. “Todo fim de expediente rolava uma cachacinha, eu ganhava meia.”

No rastro dos répteis, muitas histórias. “Durante um trabalho na Argentina, fui comprar um disco da Mercedes Sosa e saí de braço dado com um soldado”, diverte-se. “O agente da polícia queria saber por que eu estava comprando aquele disco. Disse: ‘Ela é uma boa cantora’. O sujeito ficou olhando na minha cara. Me ameaçou, mas não podia fazer nada.”

Em tempos de ditadura, Vanzolini foi surpreendido por um convite impossível de ser recusado. O general Golbery do Couto e Silva, o “feiticeiro” do regime militar, o convocava a Brasília. Sem mais explicações. Enviou passagem aérea e limusine com motorista. “Ele mandou me chamar para passar um sabão. Queria me dizer que eu era contra o governo. E eu era. Me disse que isso poderia dar mau resultado.” Com calma inabalável, o cientista retrucou: “Isso vai depender de quem aguentar mais tempo, nós ou vocês”. Conversa encerrada, voltou para São Paulo.

Foi durante o tempo em que serviu na cavalaria que Vanzolini compôs um de seus maiores sucessos, Ronda, clássico que adquiriu a impressão digital de Márcia, sua mais reconhecida intérprete. “Eu sou Ronda”, já assumiu a cantora ao autor. A música é líder de pedidos nos karaokês até hoje. “As japonesas são as que mais pedem. No bar em que a Ana canta, vem escrito no guardanapo: Honda”, conta o compositor, rindo. A verdade, confessa, é que sua relação com a canção inspirada nas mulheres que observava no entra e sai dos bares à procura dos parceiros se desgastou. “Sabe o que as minhas filhas dizem? Fez, agora aguenta!” Vanzolini argumenta que a composição, de melodia pungente, é uma piada. “Começa dando a impressão de que a mulher procura o sujeito para se reconciliar, mas é para desperdiçar um pente de revólver.”

Vanzolini começou a compor quando frequentava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo. Diz não ter ideia de qual foi a primeira composição. “Aliás, lembro, mas joguei fora, não prestava.” Outra meia dúzia teve a mesma infausta sorte. A criação favorita? “Não me ocorre nenhuma.” Dali a pouco cita aquela que considera uma de suas melhores, Longe de Casa eu Choro. “Fiz em Cambridge, pensando em São Paulo. Era uma poesia minha. O Paulinho Nogueira pegou o livro e disse: ‘Você não é poeta, é sambista. Aqui está cheio de letras de samba esperando música’. Paulinho era meu amigo de infância. Fez a melodia com Eduardo Gudin.” Outra que também teve o auxílio luxuoso de Paulinho Nogueira é Valsa das Três da Manhã. “Paulinho era um sujeito de qualidade humana excepcional.” A que mais rendeu? “Só uma deu dinheiro, Volta por Cima. Comprei livros para o Museu de Zoologia.”

Paradoxalmente, e para assombro de quem não o conhece, Vanzolini nada sabe de música. “Tenho péssimo ouvido. Não sei ler música, não sei o que é acorde”, jura. “Meu professor foi o rádio.” O método para preservar as composições consistia em decorá-las. “Se esquecesse perdia tudo. Dá uma mão de obra danada, por isso larguei”, diz. “Fica uma coisa obsessiva. Até que a música saia você não pensa em outra coisa.” O método Vanzolini de compor é outro mistério. “Inspiração a gente procura. Na cabeça. Geralmente começa com uma frase. Aí vem tudo junto, letra e melodia.”

Para quem supõe haver sempre algo autobiográfico em cada letra, o mestre desmente. “Nunca sofri com dor de cotovelo, por exemplo, é só um tema.” Na belíssima Quando Eu For Eu Vou sem Pena, interpretada por Chico Buarque em Acerto de Contas, coleção com quatro CDs que reúne a obra do autor (“essa caixa completou a minha vida”), o tom é triste. Uma tocante despedida. Mas não se trata exatamente disso. A inspiração atende pelos nomes de Miriam, Marina, Carol e Cris. “Eu estava numa fazenda, durante excursão do museu. Comecei a pensar em como seria quando partisse”, conta. “Eram as alunas que estavam ali, ele fez para elas”, entrega Ana Bernardo, diante do olhar risonho do poeta fingidor.

Boêmio de carteirinha, mulherengo apenas “na medida da necessidade”, Vanzolini adorava percorrer as ruas de São Paulo até altas horas, sozinho. Nesse périplo pela então metrópole da garoa, fez várias descobertas. “Uma vez abri uma porta e descobri os Macambiras. De outra, Virgínia Rosa.” Ana Bernardo, companheira dos últimos 15 anos, também foi um encontro patrocinado pela música. A filha do fundador dos Demônios da Garoa encantou o compositor com sua voz firme e melodiosa. “Ela entende a música que canta. É minha melhor intérprete.”

Autodefinido sambista tradicional, Vanzolini mantém o entusiasmo pela música. Ouve com admiração Noel Rosa, Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Sílvio Caldas, Cartola e Paulinho da Viola, entre outros grandes. E considera-se realizado. “Estou recebendo mais do que esperava. É muita recompensa no fim da vida”, comenta, com a sabedoria dos modestos. Na segunda-feira que antecede o carnaval, a Banda Redonda, fundada por Plínio Marcos, vai homenageá-lo. O enfarte que lhe surpreendeu em 2004, roubando-lhe 70% da capacidade cardíaca, provou ser incapaz de deter o poeta. “Estarei lá, lógico”, garante, com brilho no olhar.




Extraído do sítio da Carta Capital

29 de janeiro de 2012

A SONY ADMINISTRA OS SONHOS DE MARTIN LUTHER KING - Juan Luis Sánchez

Milhões de pessoas veem absolutamente limitado o seu acesso a um elemento tão inquestionável do patrimônio histórico internacional e o uso do grande discurso das liberdades fica restrito àqueles que possam permitir-se pagar por ele.

Tente procurá-lo no Google e você custará a encontrá-lo. Tente pedi-lo a museus, centros de pesquisa política ou escolas de pensamento americanas e eles lhe dirão que não, que não está online em nenhum lugar mas que, em todo caso, você pode comprá-lo por US$ 10 na loja. E se você comprar o DVD e fizer o upload à Internet para que outros o possam ver, a sua conta de usuário pode ser suspensa.

O discurso “I have a dream”, de Martin Luther King, um dos mais importantes da história dos direitos civis, tem direitos autorais e cães de guarda dispostos a protegê-lo com zelo: a discográfica EMI chegou a um acordo em 2009 com os herdeiros de King para encarregar-se de que ninguém use esse material sem passar pela caixa registradora. Em novembro de 2011, parte da discográfica foi comprada por outra gigante, a Sony Music Enterteinment (SME), que assumiu o trabalho, por exemplo, de retirar da Internet os fragmentos do discurso que vários usuários haviam subido, sem intenção de lucro. Como este: veja o que acontece se você apertar o play.


A rede se move mais rápido que a estrutura que a persegue – e que agora tenta rearmar-se com iniciativas legais como SOPA ou PIPA – e há várias cópias do vídeo que sobrevivem no YouTube, à espera de que chegue a suspensão. Este vídeo funciona, no momento em que estamos escrevendo isto:


A potência histórica do discurso de Martin Luther King em 1968 ante centenas de milhares de pessoas nas escadarias do monumento a Lincoln, em Washington, DC, vai muito além do texto; é um discurso áudio-visual. Uma pessoa que não saiba muito inglês ou não seja um conhecedor da história política americana provavelmente não reconheceria o discurso ao lê-lo--exceto, talvez, quando chegue à parte do "I have a dream ..." - e, no entanto, apenas com o tom de voz bíblico de King, com as imagens da área da lagoa abarrotada, muita gente saberia reconhecer do que se trata. Porque o discurso de Martin Luther King é um ícone político e áudio-visual em todo o mundo. E, claro, isso é rentável.

Quando King morreu, seus descendentes começaram a gestionar a herança daquele e de outros discursos, sobre os quais terão direitos até 2038, setenta anos de depois da morte do líder afro-americano. Eles processaram, por exemplo, a rede americana de televisão CBS, por usar em 1999 as imagens daquele dia num documentário sem lhes pagar nada. Depois enfrentaram o jornal USA Today por publicar o discurso na íntegra em 1994.

Entretanto, a família King, através da EMI-Sony, autorizou outros usos do discurso do pai das liberdades civis dos negros dos Estados Unidos: para um comercial da Alcatel, por exemplo. Fazendo caixa com isso, é claro.

De forma que projetar, subir à Internet, remixar ou fazer qualquer uso do discurso de King, no formato que seja, é ilegal, exceto se caminhamos dentro das fronteiras da versão americana do “direito à citação” ou se chegamos a um acordo com os herdeiros. Desta forma, milhões de pessoas veem absolutamente limitado o seu acesso a um elemento tão inquestionável do patrimônio histórico internacional e o uso do grande discurso das liberdades fica restrito àqueles que possam permitir-se pagar por ele.


* Tradução de Idelber Avelar.

Extraído do sítio da Revista Fórum

NO CHOQUE DAS CIVILIZAÇÕES, ROUSSEAU PREFERE O DIÁLOGO - Ghania Adamo

O filósofo Rousseau será comemorado em várias partes do mundo no 300° ano do nascimento. (AFP)

Em Genebra iniciaram desde 19 de janeiro as festividades do 300° aniversário do nascimento de Jean-Jacques Rousseau. Além disso, inúmeros outros países também planejam homenagens ao filósofo, cujo pensamento iluminou o mundo.

François Jacob, responsável pelas comemorações genebrinas, confirma.

A página do dossiê de preparação do programa do tricentenário de Rousseau em Genebra está adornada por uma imagem que mostra o escritor desafiando as leis da gravidade (como um personagem de Chagall), preso em um anel planetário. Ele é uma grande estrela, em torno da qual orbitam outras pequenas estrelas. A imagem diz o que diz: Rousseau é um ator cósmico e que habita o universo.

Difícil de contestar a universalidade de Rousseau. Como prova, a febre mundial que os 300 anos de seu nascimento provoca. Da Suíça ao Brasil, passando também pelos Estados Unidos, inúmeros são os países que participam das celebrações do tricentenário consagrado a um dos mais importantes escritores e filósofos do Iluminismo.

Conferências, colóquios, exposições, óperas, concertos, peças de teatro e filmes foram programados em vários locais do mundo. Mas começamos pela Suíça. Por Genebra, é claro, a cidade natal do escritor e que é seguida, juntamente, por Neuchâtel, Yverdon e outras cidadezinhas ao logo da costa do lago de Genebra para festejar, durante todo o ano, um aniversário marcado pelo lema "2012, Rousseau para todos".

Sob esse lema foram organizadas uma série de eventos em várias partes da Suíça que começaram 19 de janeiro na ilha de Rousseau, no coração de Genebra. Para o resto diremos "Celebrações do Tricentenário". O resto significa o mundo inteiro.

"Chegaram propostas para nós da Europa, das duas Américas, da África. A UNESCO nos ajudou bastante graças à constituição de uma rede de competências que permite dar mais amplitude às celebrações", afirma François Jacob.

François Jacob, diretor do Museu Voltaire e da Biblioteca de Rousseau em Genebra, é chefe de projetos e um dos responsáveis pelas comemorações do tricentenário. Para Jean-Jacques, ele queria um "Ano Rousseau" nos mesmos moldes do "Ano Senghor" organizado durante os eventos da Francofonia. Ele admite: "Eu sonhava com isso, mas finalmente não me decepcionei, pois as comemorações do tricentenário assumiram uma amplitude universal". Nas linhas abaixo ele nos fala da universalidade de Rousseau.

swissinfo.ch: Qual é o impacto de Rousseau na Europa dos dias de hoje? 

François Jacob: Eu não usaria o termo "Europa" para identificar o impacto de Rousseau, pois a Europa é uma realidade contemporânea. Ela não corresponde à Europa do Iluminismo como o conhecemos no século XVIII. Na época tínhamos separações entre os países que não tinham nada a ver com as que conhecemos atualmente. A língua internacional era, na época, o francês. A cultura circulava de uma forma diferente. E eu acrescentaria ainda que ela estava reservada a um pequeno círculo de pessoas que viviam na França, Suíça ou na Rússia e liam Rousseau sem serem incomodadas pela fronteira linguística, nem a do pensamento.

swissinfo.ch: Mas finalmente, em que medida Rousseau contribuiu a definir a noção de nacionalidade como se fala no dossiê do Tricentenário? 

F.J: Tudo o que era país no século XVIII se definia pelas famílias reinantes. Catarina II da Rússia era alemã, os Bourbons da Espanha eram de descendência francesa e assim por diante. Então não havia, se você quiser, sentimentos nacionais. O que mudou com Rousseau, é que ela deu a esse sentimento um quadro, levando-se em conta todos os tratados (sociais, educacionais, políticos, etc.) que desenham a imagem de um povo. Entre 1770 e 1771, quando escreve suas "Considerações sobre o governo da Polônia", ele refletia em função dos poloneses e não em função dos suíços.

Outro exemplo: quando escreveu seu "Ensaio sobre a origem das línguas", o filósofo disse, em suma, que um ser se modela em relação ao território onde nasceu e em relação à cultura do grupo, dentro do qual evolui. Segundo Rousseau, cada um se alimenta da sua área de origem. Essa concepção ainda bastante nova da identidade foi mais tarde lembrada pela Revolução Francesa e que terminará dando origem à noção de pátria.

swissinfo.ch: Se Rousseau vivesse hoje em dia e assistisse aos atritos entre o ocidente e o oriente, no que chamamos, erroneamente ou não, de "choque de civilizações", o que ele diria? 

F.J: Eu acho que ele teria uma visão ao mesmo tempo bastante negativa e positiva do que está acontecendo hoje em dia. Em primeiro lugar, negativa. O que chamamos de globalização é uma "coisa" terrível, pois aniquila a identidade nacional. Rousseau, a meu ver, não teria gostado, contrariamente a Voltaire que, como grande internacionalista, teria aplaudido essa idéia.

Em segundo, positiva. Rousseau apoia o diálogo. Para ele, os povos devem discutir entre eles sem, portanto, homogeneizar suas sensibilidades ao ponto de serem obrigados a viver da mesma maneira em Genebra, Berlim ou Londres.

swissinfo.ch: a Europa, pela qual Rousseau viajou, contribui significadamente às celebrações do Tricentenário. Isso não surpreende. Em revanche, surpreende a participação de países como o Brasil ou os Estados Unidos. De onde vem esse interesse? 

Cartaz das comemorações em
 Genebra. (Ville de Genève)
F.J: O Brasil é um bom exemplo, pois é lá que as celebrações do Tricentenário serão as mais significativas. É importante dizer que o colóquio, previsto para ocorrer em setembro em São Paulo, irá reunir cem palestrantes. É enorme! Esse entusiasmo se explica pelo fato de que o pensamento de Rousseau corresponde perfeitamente às preocupações contemporâneas dos brasileiros, visto a sua relação com a língua e à natureza. Não é por acaso que os melhores intérpretes do pensamento de Rousseau são originários do Brasil. O Brasil está à procura de uma identidade política, em um quadro onde sua constituição possa bem "viver".

E já que falamos em constituição, eu ressalto que na dos Estados Unidos encontramos muitos elementos emprestados do "Contrato Social" de Rousseau. Isso explica o interesse que os americanos estão tendo pelo Tricentenário. No próximo verão teremos um colóquio e uma exposição em Washington organizados pela Biblioteca do Congresso, em colaboração com a Biblioteca de Genebra, entre outras.

swissinfo.ch: Rousseau "cidadão de Genebra": que ensino ele transmite ao mundo do século XXI? 

F.J: Um ensinamento político em dois níveis. Inicialmente, no plano coletivo. Rousseau diz que é necessário pensar uma maneira de convívio que permita a cada indivíduo de encontrar seu espaço. No plano pessoal, segundo ele, cada um pode ser feliz em casa. A Suíça, onde ele nasceu, oferece nesse ponto de vista um modelo de equilíbrio como ele mesmo teria desejado. Um modelo que não é governado verdadeiramente pelo federalismo (o escritor não utilizava esse termo), mas por um acordo baseado nos princípios simples que favorecem a harmonia.

Se essa política de educação fosse escutada pela Europa hoje em dia, ela teria escapado de um monte de problemas. Em todo caso, ela não teria sacrificado o bem-estar das suas populações à ilusão de uma prosperidade econômica.

Extraído do sítio da Swissinfo.ch

O MUNDO SE REÚNE EM PORTO ALEGRE - Cristina Rodrigues



Em debate na Casa de Cultura Mário Quintana nesta quinta-feira à tarde (26), Marcelo Branco lembrou que no Fórum Social Mundial de 2001, o primeiro, foi feita uma conexão para que um participante europeu entrasse ao vivo na programação. Hoje uma conversa por Skype transmitida num telão não é nada absurdo, mas naquela época era uma fortuna e extremamente complicado. Provando que a tecnologia pode ser usada para nos conectar, aproximar movimentos, fortalecer lutas, o Conexões Globais 2.0, uma atividade que integra o Fórum Social Temático e que está sendo promovida pela Associação Software Livre e as Secretarias de Cultura e de Comunicação e Inclusão Digital do estado, trouxe ativistas digitais de diversas partes do mundo para o debate. Eles entraram virtualmente e possibilitaram uma troca que provavelmente tivesse sido inviável de acontecer de forma presencial. Marcelo, um dos idealizadores do evento e ativista do software livre, estava todo faceiro diante do sucesso da ideia.

Não precisa muito para entender por que a coisa funcionou tão bem. O objetivo era discutir os movimentos sociais que vêm agitando o mundo nos últimos meses – Egito, Tunísia, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra… – e o papel da internet nesse processo de democratização. Daí trouxeram participantes diretos desses movimentos, que podem falar melhor do que ninguém sobre o que aconteceu. E fizeram isso usando a ferramenta que está sendo debatida. A internet se torna, também aqui, um instrumento de aproximação.

A internet como direito humano



Tudo começou quarta à tarde. Com outras atividades desde as 14h, o Conexões apresentou o primeiro Diálogos Globais às 16h, conectando com o advogado espanhol Javier de La Cueva. Por aqui, os debatedores eram de peso. A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, aproveitou para fazer o link com a Comissão da Verdade e, principalmente, a Lei Geral de Acesso à Informação, ambas sancionadas no ano passado pela presidenta Dilma, afirmando que o governo é público e que tem que estar preparado para prestar contas de cada ação. E perguntou: “Que direito à educação e à cultura pode existir se não há direito à informação e acesso à internet? Muitos defendem que também na rede o regulador seja o mercado. Nós defendemos que seja a sociedade livre”. A opinião foi compartilhada por Rogério Santanna, ex-presidente da Telebras, que defendeu a necessidade de interferência do Estado na distribuição da banda larga com o argumento de que hoje, regulada pelo mercado, a banda larga e concentrada nas regiões mais ricas do país. O cientista político Giuseppe Cocco completou a mesa.

Da Primavera Árabe à internet na construção da democracia 2.0

Mas a Casa de Cultura lotou mesmo no diálogo seguinte, quando o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o chefe de gabinete do governador do RS e coordenador do Gabinete Digital, Vinícius Wu, e o jornalista criador do Le Monde Diplomatique Brasil, Antônio Martins, fizeram o debate com base na fala da jornalista Olga Rodríguez, especialista em Oriente Médio. A webconferência tratou da Primavera Árabe e versou sobre a internet como um instrumento de “construção da democracia”, nas palavras de Gil. Uma das intervenções mais aplaudidas foi a de Martins, ao defender a utilização da internet de forma propositiva e ativa.

Ferramentas sociais para ativismo e militância política




Os diálogos de quinta trouxeram uma surpresa. Um dos articuladores do 15-M, na Espanha, Javier Toret, aparecia como webconferencista na programação, mas optou por ser menos virtual dessa vez e deu as graças no Mário Quintana. O participante, agora presencial, contou sobre as questões técnicas e políticas envolvidas na comunicação do movimento, com os limites impostos pelas companhias privadas responsáveis por Facebook e Twitter, entre outros, com a manipulação de informações (como os trending topics) e a falta de privacidade. Ele encantou o pessoal ao colocar no telão o mapa do fluxo de informações que tomou conta do 15-M, mostrando como ele se intensifica à medida que o movimento ganha força. O papel das empresas de redes sociais e outras ferramentas foi destacado também pelo sociólogo Sergio Amadeu, um entusiasta do hackerismo, que ele definiu como “levar ao limite, inverter, fazer aquilo que não se imaginava” e comparou com as greves de trabalhadores, que também eram criminalizadas quando começaram a ser feitas. Pablo Capilé, do coletivo Fora do Eixo, fez uma fala afirmativa, argumentando que o principal agora é saber como conectar as redes e as ações para potencilizar a luta. “O combate pelo combate (só dizer que a universidade não serve, que o governo não serve, que os partidos não servem) é uma lógica rancorosa, ultrapassada.” Para ele, quem não percebeu isso ainda, não entendeu a sociedade em que vivemos, que já passou dessa fase.

#Occupy Wall Street: Uma economia a serviço das pessoas

 


Terminando o dia – antes do show do músico Serraria -, entrou no telão a jornalista Vanessa Zettler, de Nova York. Ela foi uma das primeiras pessoas a chegar na praça em que foi feito o acampamento do Occupy Wall Street e contou um pouco de como a coisa funcionava – e ainda funciona – no movimento. Mesmo depois de obrigados a deixar o local, os participantes ainda se reúnem em assembleias diárias, segundo ela. Uma matéria de Vanessa sobre o Occupy foi capa da revista Fórum, que nasceu no primeiro Fórum Social Mundial. Então, para debater a webconferência, veio a Porto Alegre Renato Rovai, o editor da revista, que se sentou ao lado de jornalista italiano Emiliano Bos, que realiza coberturas de conflitos, e de Wilhelmina Trout, da Marcha Mundial das Mulheres na África do Sul. Apesar da combinação aparentemente inusitada, o debate fluiu super bem. Renato fez uma retomada histórica de diversos movimentos que utilizaram a rede como plataforma de mobiliação, desde os zapatistas no México, em 1994, passando por Seattle em 1999, o próprio Fórum Social Mundial, em 2001, até chegar aos indignados e aos Occupy, com seu slogan dos 99% contra 1%. Wilhelmina focou na necessidade de as mulheres tomarem a rede e fazerem uma luta contra o patriarcado, no que Marcelo Branco respondeu que nós já somos maioria dos internautas.

Para quem não teve a oportunidade de acompanhar os dois primeiros dias, os diálogos globais ainda não acabaram. Hoje e amanhã (27 e 28), o Conexões Globais 2.0 continua com uma programação ampla na Casa de Cultura Mário Quintana.
Ela pode ser acessada no site do evento.

Mais fotos neste link.


Extraído do Blog Somos Andando, de Cristina P.  Rodrigues

28 de janeiro de 2012

AUTOPSICOGRAFIA - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Poesias - Fernando Pessoa - L&PM Editores


Extraído do sítio Releituras

DÁ-LHE POA: I FORUM MUNDIAL DA BICI! - Gisele Teixeira

Um fórum para discutir o futuro das cidades e o papel da bicicleta. Só podia ser na minha Porto Alegre! O evento vai de 23 a 26 de fevereiro e contará com a presença do ativista norteamericano Chris Carlsson, que em 1992 convidou amigos para pedalar em São Francisco, no passeio que marcaria o início da Massa Crítica no mundo.

Carlsson participa, junto com o diretor geral da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Thiago Benicchio, do painel sobre o “cicloativismo como agente de mudança para cidades mais humanas”. A iniciativa partiu da reunião de moradores de Porto Alegre que utilizam a bicicleta para a prática do esporte, transporte urbano, lazer, bem como empresários do setor de comércio e serviços.

Com inscrições abertas para oficinas autogestionadas, o Fórum também trará temas como Cycle Chic, ciclismo veicular, transporte de cargas por bicicleta, mecânica básica de bicicletas, comunicação não-violenta, cicloturismo, a bicicleta em projetos sociais, alimentação para oatleta de ciclismo, ciberativismo, a bicicleta no ponto de vista jurídico, entre outros.

Passeios especiais também estão previstos nos dias do fórum: um bike city tour na quinta-feira, 23/02, passando pelos principais pontos turísticos de Porto Alegre, e um passeio dominical reunindo os conhecedores das bicicletas reclinadas e demais ciclistas. E em 24/02, o Fórum se junta à Massa Crítica, na bicicletada tradicional da última sexta-feira do mês, com concentração a partir das 18h15 no Largo Zumbi dos Palmares.

Vamoquevamo!

1º Forum Mundial da Bicicleta - subtitulado en español from Forum Mundial da Bicicleta on Vimeo.

Extraído do Blog Aqui Me Quedo

A VIDA (MULTIFACETADA) DE PAGU EM IMAGENS - Adelto Gonçalves*


A exemplo de Eça de Queiroz (1845-1900), Fernando Pessoa (1888-1935) e outros grandes nomes da Literatura em Língua Portuguesa, Patrícia Galvão (1910-1962), a musa do Modernismo brasileiro, acaba de ganhar sua fotobiografia: Viva Pagu: Fotobiografia de Patrícia Galvão (Santos: Universidade Santa Cecília-Unisanta; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010), trabalho da professora Lúcia Maria Teixeira Furlani e do jornalista Geraldo Galvão Ferraz, filho da escritora, que reúne fotografias e textos que, na maioria, fazem parte do acervo do Centro de Estudos Pagu, da Unisanta, de Santos, e estão disponíveis no site www.pagu.com.br.

Mulher pouco convencional para o seu tempo, Patrícia Galvão teve uma trajetória ímpar na história da Literatura e é uma poucas escritoras brasileiras que atraem o interesse de estudiosos estrangeiros, como o professor norte-americano Kenneth David Jackson, da Universidade de Yale, que traduziu com Elizabeth Jackson para o inglês o seu romance Parque Industrial, publicado em 1994 pela Editora da Universidade de Nebraska.

Neste livro preparado com raro esmero por Lúcia Teixeira e Geraldo Galvão Ferraz, o leitor pode encontrar numerosas passagens da vida de Pagu, apelido que lhe foi dado pelo poeta modernista Raul Bopp (1898-1984) e pelo qual ela, nos últimos tempos, não tinha muito apreço, porque representava uma época já superada em sua vida. O leitor pode encontrar ainda uma Patrícia Galvão que hoje é difícil de imaginar que tenha existido - uma mulher fatal, como Gilda, o filme de 1946, estrelado por Rita Hayworth (1918-1987). A Patrícia Galvão jovem não só era uma mulher atraente como revolucionária, ativista, ligada às vanguardas de seu tempo, que não perdeu a dignidade nem mesmo quando submetida a torturas físicas e psicológicas pela ditadura do Estado Novo (1937-1945), uma das maiores ignomínias da História brasileira - a outra foi a ditadura militar que durou de 1964 a 1985.

Trabalho de pesquisa, que contou a ajuda e colaboração de familiares e antigos amigos e conhecidos de Patrícia Galvão, este livro procura registrar com fotos e documentos a trajetória da escritora, desde o seu nascimento em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, cidade importante à época em que o café construía fortunas no Brasil, no seio de uma família de imigrantes alemães, os Rehder, cujo patriarca, o bisavô Nicolau, havia construído a estação de trem local. Da Patrícia menina há muitos registros: sua vida na escola primária, a época como normalista, seu irmão e irmãs e mesmo a sua iniciação precoce no mundo do amor. "Era uma menina forte e bonita que andava sempre muito extravagantemente maquiada", como recordou num depoimento de 1978 um contemporâneo.

O livro mostra ainda fotos da época em que Patrícia Galvão, aos 18 anos de idade, conhece Oswald de Andrade (1890-1954), à época com 38 anos e casado com a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973). Ela começa a colaborar como desenhista com a segunda fase da Revista de Antropofagia, que passa a ser publicada no Diário de S. Paulo, de março e agosto de 1929. Logo, o casamento de Oswald entra em convulsão, depois de um affair do escritor com a jovem Patrícia.

O casamento de Patrícia com Oswald também seria tumultuado. E, numa dessas fugas da realidade, ela vai para Buenos Aires, onde mantém contato com o grupo da revista Sur, que reunia Victoria Ocampo (1890-1979), Jorge Luis Borges (1899-1986) e outros nomes da história da literatura argentina. Em razão de outros contatos, volta convertida ao credo comunista a que se dedicará com paixão, até que, depois de muitas prisões e padecimentos, descobre com seus próprios olhos em Moscou a verdadeira face do "paraíso comunista". Em 1933, publica o "romance proletário" Parque Industrial, disfarçada sob o pseudônimo Mara Lobo, em edição financiada por Oswald de Andrade. Uma edição com tiragem limitada, quase clandestina, com capa da própria autora.

Ao fazer uma auto-avaliação de seu passado de marxista-leninista ortodoxa, em 1938, Patrícia é expulsa do Partido Comunista Brasileiro, acusada de trotskista, em companhia de José Stacchini (1916-1988) e outros militantes, como mostra documento da época reproduzido no livro. (Stacchini, que este articulista conheceu em 1975 na antiga redação de O Estado de S.Paulo, na Rua Major Quedinho, acabaria por escrever um livro formado por reportagens panegíricas sobre os preparativos para o golpe militar de 1964, intitulado Março de 64: mobilização da audácia (1965). À época, talvez Stacchini não imaginasse no que daria aquela mobilização da direita. E a impressão que passava, mais de dez anos depois, era a de um homem desiludido com a vida e com a espécie humana). Dessa época, a Fotobiografia traz vários recortes de jornais e relatórios policiais sobre as atividades de Patrícia Galvão, então considerada perigosa "extremista". 

Passada a fase de ativista, Patrícia tornou-se jornalista em tempo integral e militante do teatro. Casou-se com o jornalista Geraldo Ferraz (1905-1979), que era ligado ao grupo modernista. Como Geraldo Ferraz, ex-secretário de redação do Diário da Noite, trocaria São Paulo pelo litoral paulista para dirigir a redação de A Tribuna, de Santos, onde já havia trabalhado no começo da década de 1940, a escritora o acompanharia e passaria a desenvolver no diário santista a atividade de crítica teatral e, depois, a precursora função de crítica de TV, ainda na década de 1950.

(De Geraldo Ferraz, este articulista recorda-se de vê-lo adentrando de sandálias a redação de A Tribuna, de Santos, no começo da década de 1970. Já estava afastado da direção da redação e morava na Ilha Verde, nome que dera à casa da pintora Wega Nery, com quem vivia em Guarujá. Embora a gerência do jornal habitualmente mandasse um motorista buscar as colaborações em sua casa, de vez em quando, ele fazia questão de ir à redação pessoalmente levar os editoriais que ainda estava encarregado de escrever, especialmente sobre política internacional. Depois, invariavelmente, passava pela livraria Martins Fontes, na Praça Independência, no Gonzaga, para conferir as novidades literárias).

Antes disso, o casal teve ainda uma passagem por jornais cariocas, época em que ela, escondida sob o nome de King Shelter, escreveu histórias de mistério para a revista Detective, dirigida por Nelson Rodrigues (1912-1980). Os contos seriam reeditados em 1998 no livro Safra Macabra (Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora), preparado por seu filho Geraldo Galvão Ferraz.

Em 1950, ocorre sua tentativa frustrada de militar na política partidária como candidata a deputada estadual pelo Partido Socialista Brasileiro, em São Paulo. Dessa época é o panfleto eleitoral Verdade & Liberdade em que faz uma dura crítica à direita e ao getulismo - e toda a violência aos direitos humanos que foram praticados durante o Estado Novo -, mas não deixa de condenar a esquerda stalinista e o Partido Comunista Brasileiro. Dizia: "Dos vinte aos trinta anos, eu tinha obedecido às ordens do Partido. Assinara declarações que me haviam entregue, para assinar sem ler".

A última etapa da vida de Patrícia Galvão é marcada por sua atuação cultural. Em A Tribuna, a 27 de novembro de 1955, escreve uma página dedicada ao poeta Fernando Pessoa para assinalar os 20 anos de sua morte. Em 1956, faz outra página dedicada a Dostoievski (1821-1881), por ocasião do 75º aniversário de sua morte. Essas e outras páginas também estão reproduzidas nesta Fotobiografia. Em 1959, dizia que a função da imprensa, num país de tamanha pobreza para as coisas da inteligência, é estimular a cultura. Mais de meio século depois, esta é uma frase que continua mais válida do que nunca, embora nos dias hoje o que menos se vê na grande imprensa são textos culturais.

É claro que uma vida tão multifacetada como a de Patrícia Galvão não cabe em poucas e resumidas palavras. Mas esta Fotobiografia cumpre bem o seu papel, ao permitir que se tenha uma visão mais nítida de uma trajetória extremamente singular na história da Literatura Brasileira. Trabalho que a história da Literatura Brasileira fica a dever a Lúcia Maria Teixeira Furlani e a Geraldo Galvão Ferraz.

Lúcia Maria Teixeira Furlani, mestre e doutora em Psicologia da Educação, é presidente da Universidade Santa Cecília e autora de Autoridade do professor - meta, mito ou nada disso, Fruto proibido - um olhar sobre a mulher; Pagu - livre na imaginação, no espaço e no tempo; A claridade da noite - os alunos do ensino superior noturno e Segredo da longa vida, entre outros. Já Geraldo Galvão Ferraz, jornalista, crítico literário e tradutor, passou pelas redações de O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, Editora Abril e Revista Cult. É autor de Livro, ferramenta de progresso e de A empolgante história do romance policial.

VIVA PAGU: FOTOBIOGRAFIA DE PATRÍCIA GALVÃO, de Lúcia Maria Teixeira Furlani e Geraldo Galvão Ferraz. Santos: Universidade Santa Cecília (UNISANTA). São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 348 págs., 2010. E-mails: lucia@unisanta.br; livros@imprensaoficial.com.br Sites: www.unisanta.br;www.imprensaoficial.com.br

(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Extraído do sítio do Pravda

BRASIL É TEMA DE EVENTO CULTURAL NO FÓRUM DE DAVOS - Tom Belmonte

Simulação em computador do pavilhão brasileiro no Fórum de Davos. (cortesia)

Caleidoscópio de formas, sons, cores e aromas, mostrando a riqueza da pluralidade artística e cultural brasileira, é o que será apreciado neste sábado, 28, na Brazilian Soirée, a Noite Brasileira que acontece dentro da programação do Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos.

Sob coordenação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o evento também exalta o país como porto seguro para investimentos internacionais.

A escolha do Brasil, conforme a Apex, obedeceu critérios internos do WEF. Oboard da organização, liderado por Klaus Schwab, foi o colegiado responsável pela indicação verde-amarela. "Ser o escolhido é um prestígio disputado por vários países que vislumbram usar Davos como plataforma para atrair ou alavancar investimentos estrangeiros diretos", destaca Maurício Borges, presidente da Agência, ao observar que somente nos últimos seis anos a Índia foi escolhida por duas vezes, incluindo a edição passada. 

Ponte para negócios e oportunidades

Na condição de país-tema, o Brasil posiciona-se estrategicamente e inclui na agenda oficial do WEF tópicos de discussão de seu interesse, como sustentabilidade, redução de pobreza, energias renováveis e outros. "Também realizaremos seminário sobre petróleo e gás na sexta-feira, 27, paralelo às discussões do Fórum, mas parte integrante da agenda oficial", enfatiza Maurício Borges, presidente da Apex.

O gestor sinaliza para o público extremamente qualificado do evento, composto por Chefes de Estado, presidentes e CEOS de empresas transnacionais com faturamento anual mínimo de US$ 5 bilhões de dólares. "É a oportunidade de reforçarmos a imagem de um país criativo, inovador, eficiente e confiável, um país democrático com economia em franco crescimento e grandes oportunidades para empresas estrangeiras”, ressalta ele.

A consolidação da economia brasileira, explica Borges, é mensurado em informe do último dia 24, do Banco Central. "O Brasil atraiu um número recorde de investimentos estrangeiros, 66, 6 bilhões de dólares nesse momento de crise global", assinala.

A Noite Brasileira

A vibrante programação da Brazilian Soirée em Davos reunirá artistas do norte a sul do Brasil em três ambientes, que prometem maravilhar os participantes do jantar-festa. "A idéia baseia-se na alegria e diversidade de um país em crescimento", explica Eliana Azeredo, diretora da Capacitá, empresa licitada pela Apex e responsável pela direção do jantar-festa. Ela comenta que a estrutura do festejo começará a ser montada 72 horas antes do evento, mas alguns ajustes e detalhes serão finalizados somente no sábado, 28. 

Além de autoridades governamentais, a delegação brasileira será formada por representantes de mais de 40 das maiores empresas de diversos segmentos da economia, e mais de uma dezena de artistas e produtores. Segundo a Apex, o investimento para o conjunto de ações em Davos é de R$ 5 milhões, valor considerado inferior ao que normalmente é investido pelos países que são tema das reuniões anuais do WEF.

Conceito e atrações

Para organizar uma noite versátil e rica em atrações, os profissionais envolvidos não se deixaram prender por preconceitos ou ideias fáceis sobre o Brasil. É o caso do arquiteto e diretor de arte Vicente Saldanha. "Trabalhamos um imaginário brasileiro bem vasto, tomamos as texturas, as cores, os ritmos, os cheiros, nossa completa e magnífica produção artística e arquitetônica como referências-base para toda a concepção espacial", conta ele, nascido na gaúcha São Gabriel, mas com talento lapidado em Los Angeles.

Seguindo e homenageando nomes como Arthur Niemeyer, Burle Marx e Athos Bulcão, o verde, o azul e o amarelo - escolhidos por remeterem à bandeira brasileira - permearão o jantar-festa. Eliana e Vicente idealizaram três espaços distintos aos convidados: um lobby de acesso, um salão principal chamado de Plenary Room e uma inusitada piscina de quatro metros de profundidade, a Swimming Pool. Fechada, ela se transforma em um terceiro ambiente. 

Para humanizar essas áreas e deixá-las vivas e pulsantes, artistas brasileiros vestidos pelo estilista Ronaldo Fraga entrarão em cena. A cortina de gala, que fecha o palco, é um mosaico costurado com mais de 10 mil fuxicos, retalhos de panos dobrados e alinhavados em forma de flor, e executados por Organizações Não-Governamentais de Porto Alegre.

Musicalidade em diferentes tons

Maurício Borges, presidente da
Apex-Brasil. (Cortesia)
Uma experiência sensorial por meio da música brasileira é o que propõe o diretor gaúcho Rene Goya Filho, da produtora portoalegrense Estação Elétrica. "No lobby teremos artistas como Luciano Maia, Valdir Verona e Duda Guedes tocando instrumentos típicos do Brasil, como pandeiro, berimbau, sanfona e viola caipira", explica Rene, ao salientar que na área da Plenary Room performance do Corpo Brasileiro de Dança, com coreografia de Celênia Abranches, interpretará "Trem para Davos" e "Batuca Davos", composições inéditas dos também gaúchos Marcelo Delacroix e Yanto Laitano.

Junto, a Bossa Nova, a música elegante e tipo exportação do Brasil, mas com uma leitura moderna do grupo Bossa Cuca Nova. Os sincretismos, movimento e diversidade serão mostrados ainda no ambiente Swimming Pool, onde dançarinos e capoeiristas da Gafieira do Silvério estarão convidando os presentes aos sons regionais brasileiros de mestres como Chico Buarque, Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Hermeto Pascoal num passeio por samba, forró, baião, maxixe e pagode, passando à lúdica festa junina e chegando ao vaneirão.

Tudo isso, aliado a uma apresentação ao vivo de Maíra Freitas, pianista clássica e popular e filha de um dos gênios do samba brasileiro, o carioca Martinho da Vila. "É uma experiência de curadoria musical que me orgulha e que vai sensibilizar a todos", define Rene.

Jardins comestíveis

E para abrilhantar ainda mais os aromas e gostos da Brazilian Soirée, no comando do jantar estará outra gaúcha, a chef Neka Menna Barreto. De um jeito singular, Neka, que teve entre suas mestras a suíça Judith Balman, concebeu criativos "jardins tropicais comestíveis" repletos de quitutes brasileiros.

"Esse caleidoscópio todo constitui um dos maiores desafios da Capacitá até hoje", exprime Eliana Azeredo. Tanto que rendeu um livro com o detalhamento do projeto, especificado em inglês e com cenário executado por uma empresa francesa. Ou seja, uma construção conjunta adequada ao mundo global desta sétima edição do Fórum Econômico de Davos.


Extraído do sítio Swissinfo