24 de dezembro de 2012

CLARICE LISPECTOR PERGUNTA A VINICIUS DE MORAES - Roberta Sendacz


É preciso se deparar pelo menos em algum momento da vida com a linda entrevista que Vinícius de Moraes concedeu a Clarice Lispector, no final da década de 1960. Não sabemos de onde vem mais erudição, se da parte da entrevistadora ou do entrevistado. O bate-papo se encontra, dentre muitos outros realizados pela escritora, em “Entrevistas, Clarice Lispector”. Aliás, foi muito difícil buscar o tema dessa coluna apenas na entrevista de Vinícius. O conceito de amor de Tom Jobim (outro entrevistado) não fica nada atrás em termos de beleza poética.

É lindo. Mas vamos à primeira pergunta de Clarice ao pai de Garota de Ipanema:

“…Vinícius, você amou realmente alguém na vida? Telefonei para uma das mulheres com quem você casou, e ela disse que você ama tudo, a tudo você se dá inteiro: a crianças, a mulheres, a amizades. Então me veio a ideia de que você ama o amor, e nele inclui as mulheres”.

Resposta de Vinícius: “Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem e o amor de ser humano pela comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor, mas isso não quer dizer que eu não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei todo.”

Os dois ainda tocam nesta mesma conversa, sem, entretanto, desenvolver muito o assunto (talvez por medo do precipício temático), no perigo do amor-paixão: bem mais precário e doloroso que o amor trivial, o de gente como a gente. Este amor-paixão é tão intenso e profundo que é realmente único. Por que não qualificá-lo como infinito? Assim o faz o poeta. Parece que se trata de um misto perfeitamente emparelhado de corpo e alma. A fusão de tudo e a supressão de limites. Questionado por Clarice se viveu alguma vez tal amor, Vinícius diz que simplesmente só ama desse modo. Será ele também para os não iniciados?

Extraído do sítio Glamurama

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.