23 de agosto de 2012

NELSON RODRIGUES - 100 ANOS: UMA VOZ QUE ECOA PELA CULTURA BRASILEIRA

Nelson Rodrigues em setembro de 1978. AE

Em seu centenário, completado nesta quinta-feira (23), Nelson Rodrigues ainda é uma figura central na cultura brasileira. Autor de frases conhecidas até por quem nunca viu uma peça sua - caso de "toda unanimidade é burra" ou "nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais" -, este pernambucano continua em evidência.

Nascido no Recife em 1912, Rodrigues escreveu sua primeira peça, "A Mulher Sem Pecado", em 1941. Dois anos depois, alcançou o sucesso com "Vestido de Noiva". O espetáculo é considerado um divisor de águas no teatro brasileiro, tanto pelo texto quanto pela revolucionária montagem do polonês Zbigniew Ziembinski.

Estavam lá todas as obsessões que marcaram sua carreira: os subúrbios do Rio de Janeiro, o sexo e a consequente repressão sexual, a morte. Nas décadas seguintes, os temas continuaram em obras como "Bonitinha, Mas Ordinária" e "Toda Nudez Será Castigada". Foi taxado por alguns de imoral, por uns de repetitivo, por outros de caricato.

Também teve uma atuação importante como cronista. Mas, neste caso, seu conservadorismo era mais evidente. Era um crítico ferrenho do feminismo e da revolução sexual, ao mesmo tempo em que chegou a defender a ditadura militar de 1964. Ele mesmo se definia como um "reacionário". "Reajo contra tudo que não presta".

"A obra criativa dele é uma unanimidade, não as opiniões políticas", afirma a dramaturga Fatima Saadi, que editou um número especial sobre Nelson Rodrigues na revista Folhetim. "Nos anos 1980, ele não ainda era uma unanimidade. Hoje há muita gente estudando, inclusive suas crônicas, com uma abordagem antropológica, aproximando-o do Gilberto Freyre."

O dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980). Foto: AE
Grande parte de sua popularidade veio das versões de sua obra para a televisão e o cinema. Em número de adaptações, ele só perde para outro escritor igualmente popular, Jorge Amado.

Mas, diferentementeo de Amado, Rodrigues não deu muita sorte no cinema. Poucas são as produções à altura de seu talento. Numa avaliação mais rigorosa, apenas "Toda Nudez Será Castigada" (1973) - sucesso de Arnaldo Jabor com uma antológica atuação de Darlene Glória" - e a versão de "A Falecida" (1965) de Leon Hirszman podem ser considerados grandes filmes.

O número de versões canhestras é bem maior. De "A Dama do Lotação" (1978) a "Boca de Ouro" (1990), passando por "Os Sete Gatinhos" (1980), "Bonitinha, Mas Ordinária" (1981) e "Engraçadinha" (1981), o Nelson Rodrigues cinematográfico tem valor apenas para os fãs do cinema trash.

Odete Lara em cena da adaptação de "Bonitinha, mas Ordinária", de 1963
A obra de Nelson Rodrigues serve de base para adaptações desde os anos 1950. Seu primeiro trabalho literário representado nas telas é "Meu Destino é Pecar", filme de 1952 dirigido por Manuel Peluffo. A base do longa é o romance homônimo, primeiro da carreira do escritor, publicado em 1944.

"Bonitinha, Mas Ordinária", uma de suas peças teatrais mais famosas, ganhou três adaptações cinematográficas. A primeira, de 1963, traz os atores Jece Valadão e Odete Lara nos papéis principais. A história envolve o dilema de um homem dividido entre casar com a filha do patrão, recentemente estuprada, ou seguir seus sentimentos e ficar com uma jovem de sua classe social.

Dirigida por Braz Chediak, a versão mais popular foi lançada em 1981, estrelada por José Wilker e Lucélia Santos. Sua última adaptação, finalizada em 2009, teve como protagonistas João Miguel e Leandra Leal.

Sônia Braga em cena de "A Dama do Lotação" (1978)

Dois cineastas em especial ficaram famosos transpondo as ideias de Rodrigues ao cinema. Com "Toda Nudez Será Castigada" (1973) e "O Casamento" (1975), o diretor Arnaldo Jabor se notabilizou. Ao melhor estilo "rodriguiano", ambas as tramas envolvem crimes, traições e perversões sexuais.

Mas foi Neville d'Almeida quem emplacou as adaptações mais comentadas da obra do escritor. Em "A Dama do Lotação" (1978), Sônia Braga interpreta uma mulher casada que, após sofrer um trauma, começa a fazer sexo com desconhecidos que encontra no ônibus para satisfazer seus desejos.

Já em "Os Sete Gatinhos" (1980), é o ator Lima Duarte quem rouba a cena como o patriarca da família Noronha, pai de cinco filhas que, às escondidas, prostituem-se para bancar a educação da caçula, a casta Silene. Quando a moça surge grávida, o núcleo familiar entra em convulsão, fato muito explorado nas histórias de Rodrigues.

No mesmo ano de "Os Sete Gatinhos", Bruno Barreto adapta a peça "O Beijo no Asfalto", com Tarcísio Meira, Daniel Filho e Lídia Brondi no elenco principal. Na trama, um homem atropelado pede ao bancário Amado Pinheiro um beijo na boca, último desejo antes de morrer. Após realizá-lo, Pinheiro passa a sofrer preconceitos enquanto é investigado por assassinato.

Tony Ramos e Maitê Proença em "A Vida Como Ela É..."

Lucélia Santos volta ao universo do escritor em "Engraçadinha", de 1981. No papel da protagonista, a atriz vive a filha de um suicida, cuja morte trágica foi causada após descobrir que a jovem se apaixonara por seu meio-irmão, pensando que era apenas um primo.

Na TV

Na televisão, as histórias de Nelson Rodrigues serviram de inspiração para a novela "O Homem Proibido", exibida em 1982, e para as minisséries "Meu Destino É Pecar" (1984) e "Engraçadinha: Seus Amores e Seus Pecados" (1995) - todas da rede Globo.

Em "A Vida Como Ela É...", diversos contos do escritor foram adaptados em 40 episódios exibidos durante o programa Fantástico em 1996. Entre os atores que participaram do especial estão Marcos Palmeira, Malu Mader, Tony Ramos, Tarcísio Meira, Débora Bloch e Maitê Proença.

Extraído do sítio Último Segundo

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