6 de junho de 2012

SOB OS HOLOFOTES DA BOOK EXPO NY - Ksênia Grustein

Nova-iorquinos e leitores em passagem pela cidade têm chance única de se familiarizar com a literatura russa contemporânea no evento “Read Russia”, realizado na feira do livro BookExpo, em Nova York. Entre os participantes estão os escritores e editores Marina Adamovitch, Aleksandr Guênis e Iúri Miloslavski, radicados nos Estados Unidos há anos.

Escritores imigrantes apresentarão literatura russa ao público de Nova York Foto: flickr.com / nwhite1

Radicados há anos nos Estados Unidos, os escritores Adamovitch, Aleksandr Guênis e Iúri Miloslavski são alguns dos russos que tomarão o Read Russia, espaço exclusivo do país na feira do livro BookExpo, em Nova York, entre 2 e 7 de junho.

Aleksandr Guênis nasceu em Riazan em 1953 e se mudou para os Estados Unidos 24 anos mais tarde. “Minha escolha pelo país foi aleatória, independente de como isso possa soar”, conta. “Não conhecia nada sobre os EUA, tirando Hemingway e Faulkner.”

As únicas certezas eram sua vontade de partir da União Soviética e o desejo de dedicar sua vida à literatura russa.

Pouco depois de chegar em Nova York, Guênis se tornou amigo dos também imigrantes Iossif Bródski, Nobel de literatura, e Serguêi Dovlatov.

Desde então escreveu mais de uma dúzia de livros que se tornaram best-sellers na Rússia e apresenta um programa semanal na rádio Free Europe/Liberty há 27 anos.

O autor é também colaborador do jornal independente Nôvaia Gazeta, onde cobre histórias como a da banda punk Pussy Riot, agora na prisão por entoar um coro anti-Pútin em uma catedral de Moscou.

“Minha principal preocupação é que a situação política na Rússia se repita”, diz. “Atualmente a situação [na Rússia] é semelhante à que vivemos nos anos 1960, depois nos 90.”

Aleksandr Guênis Foto: ITAR-TASS
Durante as duas últimas décadas da União Soviética, escritores, atores e outras personalidades culturais e intelectuais, como os poetas Ievguêni Ievtuchenko e Andrêi Voznesenski se tornaram os porta-vozes da oposição.

Guênis diz que ver pessoas como os escritores Dmítri Bikov e Boris Akúnin, e o apresentador Leonid Parfionov tomarem a mesma atitude o entristece.

“É assustador também, porque a perestroika não mudou muita coisa”, completa. “Os intelectuais entraram na política, depois essa iniciativa perdeu força e pessoas muito diferentes assumiram o poder. Agora podemos ver o que isso gerou.”

Guênis realmente aprecia o trabalho de seus pares Vladímir Sorokin e Víktor Pelévin, que, segundo ele, são os mais autores russos mais importantes da atualidade.

“É muito interessante ver Sorokin, que no início de sua carreira era um conceitualista, tornar-se tão politizado. Seu ‘Dia de Opritchnik’ é muito forte e se transformou em realidade, sobretudo se observamos o que está acontecendo na Rússia hoje”, diz.

Iúri Miloslavski, de Kharkov, partiu para os Estados Unidos em 1973 para estudar na Universidade de Michigan.

Sua tese de doutorado analisava os aspectos culturais e estilísticos da correspondência privada de Púchkin.

Miloslavski é poeta, jornalista e historiador literário. Atualmente está escrevendo dois romances que devem ser publicados em breve.

“Ambos se passam nos Estados Unidos e lidam com assuntos intrigantes para mim, como a vida dos russo-americanos”, diz. “Isso não significa que os romances têm peso político ou social. Um deles tem enfoque histórico, e o outro é uma história de aventura e romantismo.”

Miloslavski confessa ser apaixonado pela pátria, bem como pela extensão do continente norte-americano.

“Poucas pessoas lembram que durante os primeiros 125 a 130 anos dos Unidos Estados, a Rússia era seu principal aliado e parceiro”, recorda Miloslavski.

“O tsar russo Aleksandr I e nosso mais glorioso, na minha opinião, presidente Thomas Jefferson eram amigos e trocavam cartas. Mais tarde, os melhores poetas norte-americanos reverenciaram o russo Aleksandr II em suas obras. E foi exatamente Aleksandr II que apoiou a Revolução Americana com as tropas russas, tão cruciais naquele momento. Então, acredito que nossas relações devem retomar esse patamar novamente.”

Ainda assim, a vida dos russo-americanos e suas percepções de si mesmos são seus assuntos prediletos. “Creio que não produzi o bastante, e é por isso que estou escrevendo dois romances quase ao mesmo tempo”, diz.

Iúri Miloslavski Foto: Press Photo
Ao falar sobre literatura russa, o autor se queixa que os russos são demasiadamente exigentes, e acabam pressionados pela quantidade de gênios literários ao longo de sua história.

“Se cinquenta anos se passarem e nenhum gênio despontar, as pessoas tendem a pensar que é o fim do mundo”, diz.

“O que levou 500 anos para a literatura francesa, aconteceu na Rússia em apenas um século. De um lado temos Dostoiévski, e do outro, Púchkin; viramos para outra direção, e dali vem o jovem Tolstói. Mas devo dizer que a literatura norte-americana é igualmente impressionante.”

Marina Adamovitch nasceu em 1958 e se mudou para os Estados Unidos no início dos anos 90 - casada, com três filhos e em busca de um emprego.

Passados vinte anos, Adamovitch é historiadora, crítica literária e editora-chefe da mais antiga revista russa sobre imigração, o Nôvi Jurnal.

O veículo foi fundado em Nova York, em 1942, pelo escritor imigrante Mark Aldanov, também conhecido por suas críticas ao regime soviético.

A ideia sempre foi apoiar os escritores, mas também ajudar os imigrantes russos a refletir sobre suas novas realidades e manter as tradições literárias.

“Não é apenas uma revista literária, é parte da vida espiritual, intelectual e cultural da nossa comunidade”, explica Adamovitch. “Nós, como membros da equipe editorial, estão tentando encontrar meios de realizar, pelo menos, alguns de nossos desejos”, diz. 

Marina Adamovitch (dir.), e o ministro russo da Relações Exteriores, Serguêi Lavrov (esq.) Foto: Mid.Ru
A equipe editorial da revista organizou recentemente a conferência internacional “Emigração Russa na Virada do Século 20”, em parceria com o Instituto Harriman da Universidade Columbia.

“O principal objetivo é mostrar que a cultura da imigração russa ainda permanece viva”, conta Adamovitch.

A editora disse acompanhar de perto as relações russo-americanas.

“A URSS foi o inimigo número um dos Estados Unidos por muitos anos, e é difícil romper com tais estereótipos”, afirma.

Mas com os esforços de ambos os lados, inclusive literários, seus laços devem se fortalecer.


Extraído do sítio Gazeta Russa

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