8 de junho de 2012

A POESIA ÁRABE DE ADONIS



Com o tema emblemático, “Literatura e Liberdade”, o poeta sírio Ali Ahmad Said Esber, mais conhecido pelo pseudônimo de Adonis, estará presente na décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que acontecerá entre 4 e 8 de julho. Adonis, aos 81 anos, é considerado o maior expoente da poesia árabe contemporânea. Radicado em Paris, é nome sempre lembrado para o prêmio Nobel.

Nascido em Kassabin, pequena aldeia ao Noroeste da Síria, ele trabalhou no campo durante a infância. Seu pai recitava poemas e o fazia memorizar depois. O presidente na época, Shukri al-Kuwatli, durante uma visita ao Norte do país, impressionou-se com a facilidade do menino em recitar poesias. Quis beneficiá-lo, facultando ao menino o direito a um pedido. O garoto manifestou o desejo de estudar. Ganhou, então, uma bolsa de estudos concedida diretamente pelo presidente, que o permitiu frequentar uma escola de ensino médio.

Anos depois, durante a graduação na Faculdade de Filosofia na Universidade de Damasco, Adonis especializou-se na problemática relacionada à tradição árabe-islâmica de formação intelectual. Começou a criar poemas em estilo clássico. Interessante destacar que somente após adotar o pseudônimo Adonis, o nome do deus greco-fenício da fertilidade, é que começou a obter sucesso e a publicar sua obra.

Com 25 anos, era militante do Partido Socialista Sírio, sendo então acusado de subversão e preso por seis meses. Corria o ano de 1955 e ele seguiu para Beirute, onde se dedicou à publicação de periódicos e fundou a revista de poesia Schiir (Poesia). Um ano depois deixou a Síria e foi viver no Líbano. Recebeu uma bolsa de estudos para estudar em Paris, entre 1960 e 1961. Em 1962, assumiu a cidadania libanesa.

A fama do poeta se deve ao seu primeiro livro “Cantos de Mihyar, o Damasceno” (“Aghâni Mihiâr al-Dimashqî”, Beirute, 1961), encarado como um divisor de águas da literatura árabe. A poética deste livro é influenciada pela mitologia grega e voltada ao universalismo moderno. Adonis é um assíduo leitor de Nietzsche e Heidegger. Há neste livro vários poemas dedicados a Ulisses, fazendo alusão à viagem, não como destino, mas a própria viagem, enfatizando o significado da aventura, da exploração do desconhecido e da eterna busca de si mesmo.

A partir de então, sua obra passou a ser considerada significativa. Em 1973, escreveu uma tese de doutorado sobre “O estático e o dinâmico”, que se tornou uma das fontes mais importantes de poesia árabe desde o período pré-islâmico. Recebeu, em 1977, no Festival de Struga Poetry Enings, da Macedônia, a Corona de Oro, por sua trajetória literária.

Intelectual internacional, Adonis tem seus trabalhos publicados em 22 países. De postura laica, o poeta, é reconhecido pelo estilo moderno e fino e como um defensor da poesia livre das instituições políticas e dos vínculos religiosos. É casado com Khalida Said, uma das críticas literárias mais importantes do mundo árabe.

Na década de 1980, para escapar da Guerra Civil Libanesa, emigrou para França e durante anos lecionou língua árabe na Sorbonne. Domina o idioma francês, se comunica bem em inglês, mas garante que só fala o árabe. “É em árabe que penso, falo e escrevo”.

A primeira obra do poeta traduzida no Brasil será lançada este mês pela Companhia das Letras, uma antologia do escritor. Foram selecionados poemas dos três períodos da sua produção: 1954-1968, 1970-1985 e 1994-2003. A seleção e tradução foram feitas por Michel Sleiman, grande conhecedor da obra de Adonis.


Extraído do sítio Folha da Manhã

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