4 de junho de 2012

FILHA DO AUTOR DIAS GOMES FALA SOBRE LIVRO DE ENTREVISTAS DO PAI - Cleide Klock

Mayara Dias Gomes confessa que reunir as entrevistas do seu pai a ajudou a conhecê-lo melhor. Cleide Klock

Nesta segunda-feira (4) chega nas livrarias brasileiras o livro “Dias Gomes”, que vai revelar um pouco das ideias e da inspiração de um dos principais escritores, dramaturgos e autor de telenovelas do país. O livro, da editora Azougue, reúne as entrevistas mais marcantes dadas por Alfredo Dias Gomes desde o início da carreira até sua morte trágica em um acidente de carro, em 1999.

A organização de todo o material do livro "Dias Gomes" foi feita pelas duas filhas caçulas do escritor, Mayra e Luana Dias Gomes e pela mãe delas, a atriz Bernadeth Lyzio. A publicação celebra os 50 anos que o filme “O Pagador de Promessas”, baseado no livro de Dias Gomes, ganhou a Palma de Ouro em Cannes e homenageia o escritor que, no próximo mês de outubro, completaria 90 anos.

Mayra Dias Gomes, também escritora e jornalista, revelou em uma entrevista exclusiva para a RFI em Los Angeles, onde mora, que descobrir todo esse material ajudou a matar a saudade e saber mais sobre o íntimo de seu pai, com quem ela conviveu pouco tempo: “Quando ele morreu eu tinha apenas 11 anos e então foi uma maneira muito boa de conhecê-lo também”.

Ela conta que ele deixou muito material e caixas com mais de 200 entrevistas, as preferidas dele: “Isso ajudou muito e nosso trabalho foi ler tudo, ver a relevância, colocar em ordem cronológica e tentar contar nessas entrevistas a história do Brasil, de certa forma, desde a década de 1960 até o final dos anos 90. A gente pode ver as mudanças do país através do pensamento dele”. O livro traz cerca de 20 entrevistas.

Mayra destaca vários diálogos em que Dias Gomes fala “sobre censura, da sua luta por liberdade de expressão e sobre ser considerado um subversivo e rebelde, simplesmente por questionar a situação do país em suas obras. (…) A inspiração dele sempre foi os problemas que aconteciam no Brasil”. Para Mayra, a melhor entrevista foi dada pelo dramaturgo em 1988: uma conversa entre o escritor e seu psicanalista, publicada na revista Diálogo Médico: “Meu pai fez psicanálise por nove meses e se tornou muito amigo do psicanalista. Ele passou por uma crise pessoal e numa época estava desesperado por respostas sobre o mundo em volta dele; foi quando encontrou esse psicanalista. Até então, meu pai era completamente contra Freud e contra a ideia de um divã, mas devido à psicanálise acabou ampliando o seu campo filosófico e passou a acreditar em paranormalidade, parapsicologia e conseguiu compreender que nem tudo na vida tem respostas”, diz a escritora.

Para ela, uma das maiores heranças deixadas pelo seu pai foi, além de todas as obras, um dos maiores prêmios que o Brasil já ganhou no cinema e que neste mês completa 50 anos. O filme “O Pagador de Promessas”, dirigido por Anselmo Duarte e baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes, conquistou o prêmio máximo do Festival de Cinema de Cannes, na França, em 1962. Até hoje essa foi a única produção 100% brasileira a levar a Palma de Ouro. O filme também foi a primeira produção do país a ser indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1963.

A Obra

Dias Gomes escreveu mais de 60 obras entre peças de teatro, romances, telenovelas, minisséries e seriados. Fez seu primeiro trabalho aos 15 anos de idade, com a peça “A Comédia dos Moralistas” e se tornou popularmente conhecido por suas novelas e personagens que marcaram época no Brasil como: “O Bem Amado”, “Roque Santeiro” e “Saramandaia”.

Extraído do sítio RFI

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