17 de junho de 2012

ESCRITOR PUBLICA TEXTOS CRIADOS POR DRUMMOND AINDA INICIANTE

Antonio Carlos Secchin tem 

relíquia de poeta itabirano Carlos

 Drummond de Andrade
O escritor e crítico literário carioca, Antonio Carlos Secchin, adquiriu uma obra raríssima. Dono de uma biblioteca particular com cerca de 12 mil títulos, a sua aquisição mais recente foi a primeira coletânea de poemas elaborada, em 1924, pelo itabirano Carlos Drummond de Andrade, quando ainda tinha 22 anos. Intitulada "Os 25 Poemas da Triste Alegria", a antologia nunca tinha sido publicada e foi considerada perdida até chegar às mãos de Secchin.

Segundo ele, a preciosidade chegou às suas mãos por meio de outro bibliófilo, que ele não revela o nome, mas que seria alguém muito ligado a Drummond. Além de escritor e especialista em literatura brasileira, Secchin tem um faro apurado para rastrear raridades. Quantos mais esquecidas ou "marginalizadas" melhor.

Membro da Academia Brasileira de Letras desde 2004, Secchin concorda com a opinião de Mário de Andrade, quando ele dizia que ninguém deveria estrear na literatura antes dos 25 anos. Contudo, essa visão não o torna menos interessado nos primeiros escritos de autores brasileiros, ainda que os textos tenham sido renegados por eles em algum momento de suas vidas.

Com lançamento previsto para o fim deste mês pela editora Cosac Naify, a edição sairá em versão fac-símile, com reproduções originais dos poemas que vêm acompanhados de comentários anotados pelo próprio Drummond. Registrados em 1937, quando o escritor mineiro revisitou os seus primeiros poemas, os comentários, segundo Secchin, são a prova de que Drummond não queria ver o seu "quase-livro" destruído.

"Ele não o publicou, mas também não o destruiu. Os comentários que ele deixou serviram como um álibi para o livro permanecer. Se ele não quisesse a permanência do livro porque escreveu os comentários, então? Provavelmente, ele não queria a publicação do livro sozinho, mas podia achar interessante a ideia de ter os poemas junto com os seus apontamentos", argumenta Secchin.

História

O que aconteceu com a antologia a partir da década de 1930 ainda é uma parte nebulosa da história da literatura brasileira. De acordo com Secchin, nos últimos três anos daquela década Drummond havia dado o esboço de um livro com encadernação, índice e datilografia caprichosa ao amigo e escritor belo-horizontino Rodrigo Mello Franco de Andrade. Como Rodrigo parece não ter se entusiasmado muito com os textos, Drummond pediu o volume emprestado de volta, endereçando-o, em seguida, a Mário de Andrade. Para o paulista, o livro serviu de tema para uma crônica. Depois disso, especula-se que a coletânea teria voltado à posse de Drummond, mas ele afirmava ter devolvido ao primeiro destinatário.

"Como os comentários dele são de 1937, eu suponho que Drummond não gostava do livro, mas tinha um carinho grande por ele. É possível que tenha feito os comentários para se distanciar um pouco, para mostrar que não era mais assim, aquela era a sua fase inicial", observa o bibliófilo.

Interessado não apenas nos traços que se tornaram conhecidos na dicção poética de Drummond, a partir dali, como o uso do verso livre, o pesquisador afirma que o livro se mostra relevante justamente por mostrar os caminhos revistos por Drummond e evitados por ele posteriormente.

"Independentemente do valor dos poemas, que é moderado, temos um Drummond iniciante. O livro tem enorme importância por mostrar esse diálogo do poeta consigo mesmo. Quando ele volta aos próprios textos, notamos como ele amadureceu e como já tinha outra visão naquele momento. Esse acaba sendo um livro que valoriza Drummond por essa consciência que ele teve dos próprios limites da sua poesia inicial e como ele superou aquilo logo depois".

Outra contribuição citada por ele é a possibilidade de, a partir da edição, se repensar Drummond antes do autor se consagrar como poeta modernista.

Extraído do sítio De Fato Online

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