1 de junho de 2012

O LIVRO DE PELÉ - José Inácio Werneck


Bristol (EUA) – Volta e meia recebo, através de outros órgãos de imprensa onde trabalho, consultas sobre o livro “Pelé – The Official Biography”, que escrevi para uma editora inglesa chamada Gloria Books que é, por sua vez, uma subsidiária de uma imensa e famosa editora internacional, a Simon & Schuster.

A história deste livro é, para mim, uma pequena lição das complexidades do mundo editorial. Minhas experiências no mesmo tem deixado algo a desejar, para usarmos de uma linguagem educada.

Tudo começou quando recebi um telefonema de um velho amigo meu, o jornalista escocês radicado na Inglaterra, Hugh McIlvanney. Diga-se de passagem, excelente e premiadíssimo jornalista.

Ele me falou em nome dos editores. Seria um livro praticamente a quatro mãos, eu e ele, com a colaboração de alguns outros jornalistas internacionais, entre os quais meu velho amigo João Máximo.

Conversei com os editores (editores no caso são os publishers, isto é, quem publica o livro), acertei quanto iam me pagar e mandei a minha parte, em inglês, relembrando velhas histórias de Pelé, como no dia em que o vi estrear pela Seleção Brasileira, no Maracanã, ao entrar no segundo tempo de uma partida contra a Argentina, como substituto de Del Vecchio. Também, entre outras, a do dia em que João Saldanha me deixou entrar escondido na concentração do Retiro dos Padres, em 1970, na manhã de um jogo (por coincidência, também contra a Argentina) para servir de intérprete em uma entrevista do já citado Hugh McIlvanney com Pelé, que naqueles tempos não falava uma única e escassa palavra de inglês.

Feita a minha parte, verti do português para o inglês a colaboração de João Máximo e fiquei à espera. Os editores, todos com complicados nomes indianos que no momento não recordo, me informaram, comunicando-se por e-mails ou telefonemas, que seria uma edição “de luxo”, de circulação “reduzida”, a ser lançada durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha.

Antes, creio que um ano antes, eu estava em Londres e fui convidado pelos tais editores a conhecê-los, em um almoço, onde estaria também Hugh McIlvanney. Saí da casa de amigos meus, onde estava hospedado, num dia em que fazia um calor de derreter os untos (sim, acontece até em Londres), fui de carro à estação de metro mais próxima (para eles, “underground” ou “tube”) e, quando afinal achei um lugar para estacionar, já estava suando em bicas, metido em meu terno e gravata, todo emperequetado.

Almoçamos, num restaurante “trendy” (isto é, da moda), perto da Bond Street. Só aí descobrimos, Hugh e eu, que nossos amigos editores eram todos muçulmanos. O regabofe transcorria lubrificado apenas por água, até que Hugh perdeu a cerimônia e tomou a iniciativa de mandar descer um bom vinho das prateleiras.

De volta aos Estados Unidos, recebo um calhamaço pelo correio. Eram as provas do livro. Não entendo de dimensões de livros, mas eram imensas. Algo assim de um metro de comprimento por uns 80 de largura. As fotos, belíssimas. Quanto ao texto, havia a colaboração de diversos outros jornalistas estrangeiros e alguns brasileiros. Entre os nomes de que me recordo, Juca Kfouri.

A mim cumpria, me informaram, fazer a revisão de tudo aquilo. Fiz e enviei o calhamaço de volta. Depois de infindáveis trocas de mensagens e esclarecimentos quanto a “routing numbers”, consegui afinal receber, por meios eletrônicos, o que me era devido. Àquela altura, já me considerava mais do que insuficientemente pago, pois a labuta tinha sido imensa.

Não sei se as demais pessoas que trabalharam no livro foram pagas ou não. Mas quanto à tal “Official Biography”, nunca vi. Não soube de nenhuma noite de autógrafos, nenhum lançamento, nenhuma solenidade, nada. Se houve, não me avisaram nem me convidaram.

O livro existe? Não sei. Se existe, é em edição tão limitada que chega a ser secreta.O que a Simon & Schuster disse a respeito? Nada. Quanto aos simpáticos indianos muçulmanos, nunca mais ouvi falar, nem sei se estão vivos e se ainda trabalham na Inglaterra.


Extraído do sítio Direto da Redação

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.