21 de maio de 2012

MOÇAMBIQUE NÃO ESCONDE "FRUSTRAÇÃO"

Dalton Trevisan foi galardoado com o Prémio Camões de 2012. Veja as reações.

Opção dignifica jurados

A Academia Brasileira de Letras felicitou o júri do Prémio Camões, pela escolha de Dalton Trevisan como vencedor, e afirmou em comunicado que a opção "dignifica os jurados".

A nota, escrita pelo membro da Academia Ana Maria Machado, apontou também que o escritor curitibano é um dos grandes autores contemporâneos da língua portuguesa e "merecedor de um reconhecimento internacional, com a ressonância que esse prémio agora lhe confere".

Ana Maria Machado definiu a trajetória de Trevisan pela marca de uma "intensidade condensada", que tende ao minimalismo, e realçou a sua característica de autor "obsessivamente focado na escrita, sem concessões a modismos ou às celebrações mediáticas".

"Em seus dolorosos e irónicos relatos dos miúdos dramas afetivos do quotidiano, Dalton Trevisan retraça de modo pungente e amargo as delícias e tormentos humanos, numa linguagem coloquial impercetivelmente burilada e enxugada até surgir com força em toda sua espontaneidade", opinou Machado.

Obras revelam relevam poder do imaginário

O presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE) aplaudiu a atribuição do Prémio Camões a Dalton Trevisan, autor de uma escrita "de grande vitalidade".

José Manuel Mendes disse ter ficado "muito satisfeito" com a escolha desta edição, porque Trevisan "faz parte do importante e fecundíssimo acervo da literatura brasileira".

"Por vezes não estou de acordo com as escolhas do júri do Prémio Camões, mas este ano fico contente com esta opção", apontou.

Para José Manuel Mendes, as obras de Dalton Trevisan "relevam o poder do imaginário, a fantasia e uma escrita de grande vitalidade, seja na tentativa de apreender universos humanos muitas vezes flagelados, seja quando procura, na textura formal, soluções que o tornam único".

Um grande e invulgar contista que nunca teve repercussão

Francisco Vale, editor da Relógio d'Água, prevê publicar de novo, em breve, o único livro em Portugal de Dalton Trevisan, o escritor brasileiro a quem foi atribuído o Prémio Camões de 2012, "Cemitério de elefantes".

"Vamos editá-lo, até porque tem um prefácio do Fernando Assis Pacheco, que é qualquer coisa que não se pode reproduzir", afirmou Francisco Vale à agência Lusa, a propósito da obra "Cemitério de Elefantes", editada em 1984, um ano depois da formação da Relógio d'Água.

"Na altura, trabalhava com o Assis Pacheco, no semanário "O Jornal", e pude conversar com ele sobre Dalton Trevisan, e foi a partir do interesse e da admiração que ele tinha pela obra [do escritor] que lhe pedi esse prefácio", lembrou Francisco Vale, que considera o brasileiro "um excelente autor, um grande e invulgar contista que nunca teve repercussão [em Portugal], mas que agora, com o prémio, talvez venha a ter".

O "Cemitério de Elefantes", segundo o seu editor, "foi dos primeiros livros escolhidos para sair na Relógio d'Água, mas como teve uma saída muito discreta, mesmo com o prefácio [de Assis Pacheco] e com uma capa do João Botelho, muito bonita, não insistimos".

Francisco Vale nunca teve nenhum contacto com Dalton Trevisan, conhecido por ser pouco dado à exposição pública e a contactos exteriores, apesar de ter a ideia de que o escritor e jornalista Fernando Assis Pacheco "o conhecia pessoalmente", o que não evitou que também ele o descrevesse como "o anacoreta que vivia na Emiliano Perneta, em Curitiba".

É com muita pena que este prémio não passe por Moçambique

O ministro moçambicano da Cultura e também escritor, Armando Artur, saudou o premiado, que afirmou desconhecer, exprimindo "pena por o Prémio não passar por Moçambique".

"Embora não conheça o vencedor, é sempre motivo de alegria quando o maior prémio da nossa comunidade linguística é anunciado. Por outro lado, é com muita pena que este prémio não passe mais vezes por África e, particularmente, por Moçambique, onde temos um naipe de escritores com crédito para ganhar o Camões", enfatizou Armando Artur.

Há uma enorme frustração por Moçambique nunca ter ganho desde 1991

O secretário-geral da Associação de Escritores Moçambicanos, Jorge Oliveira, também manifestou frustração por Moçambique ter ganho apenas uma vez o Prémio Camões, pelo falecido José Craveirinha, em 1991, mas congratulou-se com "regularidade do Prémio".

"Estamos satisfeitos porque o Prémio Camões é um momento maior da literatura lusófona, mas há também uma enorme frustração por Moçambique nunca ter ganho desde 1991, apesar do grande contributo que tem dado à literatura da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa]", observou Jorge Oliveira.

Prémio merecido

Para o escritor português Pedro Tamen a atribuição do Prémio Camões ao autor brasileiro Dalton Trevisan, "é merecida, porque se trata de um grande escritor".

Pedro Tamen disse que "conhece mal" a obra de Trevisan, e leu alguns livros, "há muito tempo". "Os prémios são sempre uma boa oportunidade para reler alguns autores, e este é um deles", comentou ainda o ex-editor.

Extraído do sítio Expresso.pt

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