31 de maio de 2012

LIVRO CONTA DRAMA DE IRANIANA CONFUNDIDA COM JOVEM MORTA EM PROTESTOS - Marcio Damasceno



Neda Soltani teve seu rosto confundido com o de uma estudante assassinada em protestos no Irã. Em livro, lançado na Alemanha, ela conta o drama que viveu após virar, por engano, um símbolo da luta por democracia no Irã.

No dia 20 de junho de 2009, a estudante Neda Agha-Soltan foi assassinada com um tiro na cabeça durante uma manifestação contra a manipulação das eleições presidenciais iranianas. Alguém filmou a dramática cena em que a jovem caiu na rua, morta e ensanguentada, e colocou as imagens na plataforma de vídeos Youtube.

Depois disso, as mídias do mundo inteiro reproduziram não só as imagens do crime, como também uma foto da suposta vítima, que se transformou da noite para o dia no símbolo dos protestos iranianos por democracia.

Mas o retrato que percorreu o mundo inteiro, virou capa de jornais, revistas e estampou placares de ativistas pela liberdade política no Irã era de outra mulher com nome parecido: a professora universitária Neda Soltani, então com 32 anos.

"Foi como assistir a meu próprio funeral", afirma, ao se lembrar do momento em que viu na televisão sua fotografia sendo carregada por pessoas chorando, portando velas e flores. Neda Soltani acabou de lançar na Alemanha um livro sobre o pesadelo em que sua vida se transformou depois daquele dia.

Clique de mouse

Capa do livro "Mein
gestohlenes Gesicht"
Mein gestohlenes Gesicht (Meu rosto roubado, em tradução livre) conta como um simples clique de mouse pode virar um destino pelo avesso. "Acho que alguém simplesmente digitou meu nome ou um nome parecido no Facebook e encontrou minha foto", diz a autora, em entrevista ao jornal Die Welt. "Colocar meu retrato no Facebook destruiu minha vida."

A foto havia sido disponibilizada por ela mesma na rede social. Embora sua conta não fosse aberta ao público, o retrato do seu perfil era disponível a qualquer um. Soltani tentou desfazer o mal-entendido, entrando em contato com a mídia estrangeira. Em vão.

Ela chegou a enviar uma foto sua à emissora Voice of America como prova de que estava viva e de que tudo não passava de um mal-entendido. "Voice of America simplesmente usou o retrato como uma foto exclusiva da universitária assassinada", contou Soltani à TV alemã. "Foi o momento mais repugnante de toda essa história."

Após ter sua identidade confundida com a da estudante assassinada, a professora universitária entrou na mira das autoridades do país. Agentes do serviço secreto iraniano começaram a pressionar a acadêmica para que ela fosse a público contar uma versão da história imposta pelo regime, de que o assassinato da estudante era algo inventado pela mídia ocidental.

"O regime iraniano queria usar aquele erro para alegar que toda a história de Neda Agha Soltan era falsa, inventada pela propaganda ocidental contra o regime iraniano", afirma Soltani, hoje vivendo nos arredores de Frankfurt, em entrevista à emissora de rádio alemã Deutschlandradio. "Mas depois que me neguei a cooperar, eles passaram a me acusar de espionagem e alta traição."

Neda Soltani e Neda Agha-Soltan: identidades confundidas
Fuga para Alemanha

Com a ajuda de amigos, em julho de 2009, ela conseguiu fugir do Irã através da Grécia e chegou à Alemanha, onde pediu asilo político. Ela se diz uma pessoa desinteressada pela política, que tinha um bom emprego e uma vida feliz em Teerã. A autora acredita que a mídia é a grande responsável por tudo que passou.

"Aqui na Alemanha, alguns veículos se desculparam pelo erro", lembra, em depoimento à agência de notícias DAPD. Mas os grandes nomes da mídia internacional, como CNN, Fox News, The Guardian, na minha opinião, os grandes responsáveis pelo abuso em relação ao meu retrato, esses não entraram em contato."

A internet, entretanto, não esquece. Quem digitar o nome da autora na grande rede ainda encontra um grande número de páginas em homenagem póstuma à estudante morta. O retrato que ilustra esses sites ainda é o de uma mulher viva. E que luta para recuperar a identidade roubada.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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