30 de maio de 2012

A CULTURA ÀS VOLTAS COM UM NOVO CONSUMIDOR - Monica Lucas

Nas últimas duas décadas, quase 40 milhões de pessoas ingressaram na classe C, que se tornou o maior segmento econômico do País - detendo mais de 46% do poder de compra do Brasil. Com renda familiar média entre quatro e dez salários mínimos mensais, a classe C deve ser a maior impulsionadora do consumo do país nos próximos anos.

Enquanto o mercado de bens de consumo corre atrás da classe C e comemora a expansão de seus negócios, o que se pode dizer dos produtores culturais? Será que buscam maneiras de atrair esse público? Será que já entendem e respondem a contento às demandas desses segmento? Ou será que mantêm essa parcela à margem do consumo cultural?

Ainda há mais perguntas do que respostas. Desde a década de 90, o Brasil vê a redução do tamanho das famílias e o avanço do nível de escolaridade da população. O início do novo milênio veio acompanhado de aquecimento do mercado de trabalho e aumento da renda média do trabalhador, em especial o de classe C.

Maior acesso

Mudanças que implicam em um maior acesso também a bens culturais. "São pessoas cujos pais geralmente não tiveram acesso a estudo e cultura, e que agora são estimulados por eles a buscar isso", diz o gerente de Cultura do Sesc-CE (Serviço Social do Comércio no Ceará), Paulo Leitão, mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo ele, é perceptível o aumento da demanda de produtos culturais por parte deste segmento econômico da população. Com mais estudo e acesso a informação, o público está cada vez mais exigente, não só em relação ao que está consumindo, mas também às condições em que se dá esse consumo. "Eles querem bons equipamentos, boa estrutura, organização das filas. Não veem mais isso como um favor", comenta Paulo Leitão.

Responsável por uma programação prioritariamente gratuita ou subsidiada, o Sesc tem ações de formação de plateia em diversas áreas, como audiovisual, música, teatro e circo - muitas delas itinerantes, com bons resultados. "Agora mesmo, no projeto Palco Giratório (dedicado às artes cênicas), as pessoas já pedem que seja uma ação permanente, porque têm curiosidade, não querem a mesmice".

Essa procura por ampliação de repertório cultural, muitas vezes, passa despercebida pela indústria cultural. "Os processos midiáticos tradicionais caem no reducionismo para a massa, mas é um erro achar que a audiência quer só entretenimento. Há uma heterogeneidade muito grande e públicos refinados em todas as classes", argumenta.

Descompasso

Um levantamento sobre os hábitos culturais da classe C divulgado pela Data Popular em 2011 indica um "descompasso entre a oferta tradicional de bens culturais e a nova demanda". Em muitas cidades, é deficiente o número de cinemas, teatros e livrarias nos bairros. Ou seja, ao custo do programa cultural, há que se incluir ainda os gastos de tempo e dinheiro com deslocamentos.

Isolando da pesquisa as atividades com cobrança de ingresso, a classe média é maioria em números absolutos, mas proporcionalmente as classes A e B ainda frequentam mais cinemas do que a classe C (são 73%, contra 63%, respectivamente), assim como acontece com exposições de arte (43% e 22%) e peças de teatro (51% e 32%).

Entretanto, o mesmo levantamento mostra que as estatísticas se invertem quando se destacam as atividades culturais gratuitas. No cinema, a classe C representa 37%, contra 29% das classes A e B. Também são maioria em espetáculos de teatro (32%) e exposições de arte (28%). Um indício de que existe uma busca por consumo cultural que o mercado pode preencher com preços mais baixos.

Iniciativas públicas

Por enquanto, a maior parte das iniciativas ainda está na esfera pública, como o primeiro Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca Che Guevara), construído pela gestão municipal na Barra do Ceará. Ou ainda projetos específicos, como o programa "Cinema perto de Você", desenvolvido pelo governo federal, por meio da Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Esse programa tem o objetivo de instalar cinemas em áreas carentes, criando um mercado e desenvolvendo condições para a autossustentabilidade. Para isso, conta com uma linha de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social). As primeiras salas foram inauguradas, em 2010, dentro de um supermercado na zona oeste do Rio de Janeiro.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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