15 de abril de 2012

A GRANDE FESTA DA LITERATURA - Narjara Carvalho

Brasília ganha sua 1ª Bienal do Livro, que promete entrar no calendário de eventos oficiais da capital. A programação une literatura contemporânea e música, com lançamentos de livros, presença de escritores nacionais e internacionais, e shows de MPB.

O escritor Wole Soyinka foi o
 primeiro negro a receber o
 Prêmio Nobel de Literatura.
Um dos eventos culturais mais aguardados do ano acaba de começar na cidade. Trata-se da 1ª Bienal do Livro de Brasília, que conta com uma megaestrutura formada por estandes de editoras, palcos para apresentações, espaços para palestras, entre outras atrações. Diversão garantida para toda a família, a programação inclui desde exibições de filmes e lançamentos literários a shows musicais com estrelas da MPB, entre eles, Caetano Veloso, que se apresentará no dia 22 de abril. E o melhor: a entrada é franca.

Durante a feira, estarão reunidos escritores de todos os continentes, educadores, editoras, distribuidoras, empresários, jornalistas, leitores de todas as idades e artistas. Mais de 50 autores estrangeiros participarão dos painéis, palestras e seminários para discutir literatura e contemporaneidade. O evento estreia homenageando as culturas do Brasil, América Latina e da África, com tributo ao nigeriano Wole Soyinka, Prêmio Nobel de Literatura de 1986 (primeiro negro a ganhar o prêmio nesta categoria), nunca antes traduzido no Brasil.

O chileno Antonio Skármeta
 participa da Jornada Literária da
 América Hispânica.
A abertura oficial acontece neste sábado, dia 14, às 10h, com entrega do Prêmio Brasília de Literatura. Para o concurso, foram inscritos mais de 600 trabalhos nas categorias biografia, contos e crônicas, literatura infantil e juvenil, poesia, romance e reportagem: textos, documentários ou obras analíticas, vistos sob a perspectiva jornalística. Serão distribuídos R$ 240 mil entre os vencedores.

Para o coordenador-geral do evento, Nilson Rodrigues, a Bienal é uma conquista de Brasília. “A cidade é patrimônio da humanidade e, por isso, precisa ter grandes projetos que atendam tanto aos turistas quanto aos moradores”, observa. Ele destaca os números do evento: “São 15 mil metros quadrados de estrutura, teremos cerca de 50 autores internacionais e 120 brasileiros. São 150 estandes das principais editoras do país. Começamos como um dos maiores eventos literários do Brasil”. E acrescenta: “Pensamos em uma programação geral, que oferece todos os gêneros e publicações de todos os continentes”, conclui.

Contato com culturas hispano-americanas

De acordo com o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, a Bienal foi pensada de forma a prestigiar as diversas culturas, especialmente as de língua portuguesa. “Essa iniciativa está em sintonia com as ações do governo federal que, na última década, realizou uma aproximação com as culturas africanas”, pontua o secretário. Os brasilienses poderão entrar em contato com a produção literária desses países e de outros que também foram convidados, como Argentina e Estados Unidos. “Com isso, pretendemos recuperar os laços com as culturas hispano-americanas”, completa.

Abdulai Sila, de
Guiné Bissau: literatura africana
 em debate
Segundo Hamilton Pereira, a Bienal é resultado de uma parceria entre o poder público e a iniciativa privada, e pode entrar para o calendário de eventos oficiais de Brasília. “Essa é a nossa intenção. Queremos fazer um evento à altura da sexta economia do mundo, que hoje é o Brasil”, ressalta.

O secretário argumenta que os brasileiros não podem se contentar apenas com o desenvolvimento econômico; a área cultural também precisa se expandir. “Temos que conhecer o que é realizado culturalmente mundo afora. Queremos recuperar para Brasília a sua vocação de capital de país de cultura aberta”, frisa.

Jornada literária

Entre os destaques da programação está o seminário A Literatura Africana Contemporânea. Durante dois dias, algumas das principais vozes da literatura da África debaterão a produção literária e o desenvolvimento da cultura do continente. Da primeira mesa participarão autores como Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe; Germano Almeida, cabo-verdiano que utiliza o humor para fazer críticas sociais; e o nigeriano Wole Soyinka. Para o segundo dia, estão confirmadas as presenças de Paulina Chiziane, a primeira romancista de Moçambique; Abdulai Sila, fundador de uma corrente ficcional original em seu país, Guiné Bissau; e o jovem angolano Ondjaki, atualmente radicado no Brasil.

Alice Walker, autora de A cor púrpura,
 confirmou presença.
Foto: Vaschelle Andra
Durante três dias, a Jornada Literária da América Hispânica também vai movimentar a Bienal. Participam autores consagrados, como o chileno Antonio Skármeta, e os argentinos Juan Gelman (mais importante poeta da Argentina atual), Mempo Giardinelli (um dos mais premiados escritores de sua geração), e a poetisa Samanta Schweblin. O objetivo é aproximar a literatura brasileira de outros países latino-americanos e refletir sobre como as culturas dessas nações se refletem em suas produções literárias.

BIENAL DO LIVRO DE BRASÍLIA
De 14 a 23 de abril, na Esplanada dos Ministérios. LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS.

Mostras de cinema

Duas mostras de cinema prometem aprofundar o diálogo entre cinema e literatura, durante a Bienal do Livro. A mostra dedicada a Jorge Amado programou três títulos brasileiros criados a partir da obra do mestre baiano, que, em 2012, estaria completando 100 anos de idade. Serão exibidos o recente Quincas Berro D’Água, dirigido por Sérgio Machado em 2010 e protagonizado por Paulo José; Jubiabá, de 1987; e Tenda dos milagres, de 1977, ambos de Nelson Pereira dos Santos.

Já a mostra A Literatura Latino-Americana no Cinema vai oferecer nove filmes que foram sucesso de bilheteria na época de seu lançamento, todos com adaptações de obras literárias. Estão na programação dois títulos do cubano Tomás Gutierrez Alea: o romântico Morango e chocolate, de 1994, de Senel Paz, e Memórias do subdesenvolvimento, de 1968, sobre a obra de Edmundo Desnoes.

A obra do autor chileno Antonio Skármeta inspirou O carteiro e o poeta, de Michael Radford, 1995. Já brasileiro de origem argentina Héctor Babenco escolheu o trabalho do autor argentino Alan Pauls para inspirar O Passado, filme de 2007. O clássico de José louzeiro, A infância dos mortos, por sua vez, serviu de base para o longa-metragem Pixote, a lei do mais fraco, de 1981. O mexicano Arturo Ripstein produziu, em 1999, uma adaptação tocante do romance Ninguém escreve ao Coronel, de Gabriel García Márquez.

Vários cineastas brasileiros também se debruçaram sobre livros para construir seus roteiros. A mostra contempla Um céu de estrelas, adaptação de Tata Amaral para a obra de Fernando Bonassi (1996); e Mutum, de João Guimarães Rosa, que chegou aos cinemas em 2007, sob a batuta de Sandra Kogut. A entrada para ambas as mostras é gratuita e estará sujeita à lotação do Auditório Jorge Amado.

Arena infantil

O cartunista e escritor
 Ziraldo recebe homenagem
 e participa de palestra
Crianças e jovens terão a chance de conhecer alguns dos mais célebres escritores da literatura infantojuvenil. As atividades acontecem na “arena infantil”, entre as 10h e 18h. Estão confirmadas as presenças de Ana Maria Machado e Ruth Rocha. Membro da seleta Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado tem reconhecimento mundial, com mais de 100 títulos publicados em cerca de 18 países. Seus livros já venderam em torno de 18 milhões de cópias.

Ruth Rocha, por sua vez, publicou seu primeiro livro, Palavras muitas palavras, em 1976, e acumula mais de 130 obras. A autora se destaca por suas posições feministas, sua tendência ao humor e por desenvolver temas como problemas sociais e políticos, tendo Monteiro Lobato como sua grande influência.

Além disso, a Bienal fará uma homenagem a Ziraldo. Artista gráfico, humorista, escritor de livros para crianças, dramaturgo, jornalista e bacharel em direito, Ziraldo foi o primeiro cartunista brasileiro a ter uma revista em quadrinhos só dele, A Turma do Pererê. O público, inclusive, pode aproveitar o momento para conferir a exposição Zeróis – Ziraldo na Tela Grande, ainda em cartaz no Museu Nacional da República. No último dia do evento, 23 de abril, o escritor receberá a homenagem oficial e participará de uma palestra.

Extraído do sítio Jornal da Comunidade

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