28 de abril de 2012

900 OBRAS CENSURADAS PELO ESTADO NOVO PORTUGUÊS - Tiago Pacheco Ribeiro


O investigador José Brandão procedeu a um levantamento de 900 livros que acabaram censurados pelo Estado Novo.

Esta investigação começou em 2003, com uma primeira listagem de 750 obras a ser disponibilizada no sítio do mesmo – Vidas Lusófonas. Entretanto, a lista já atingiu os 900 títulos, e está agora também disponível na página do semanário Expresso online, na qual o leitor pode consultar o título, o nome do autor, a editora e a data de publicação ou proibição pela Censura.

“A poucos meses do 25 de Abril de 1974, o então ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, ordenava à polícia política para «dedicar um cuidado particular ao imediato cumprimento das seguintes instruções:»

1 - Relacionar as tipografias que se dedicam à impressão de livros suspeitos – pornográficos ou subversivos;
2 - Organizar um plano de visitas regulares a essas tipografias para impedir, efectivamente, a impressão de textos susceptíveis de proibição;
(...)
5 - Organizar a visita regular às livrarias de todo o País para sequestro de livros; revistas e cartazes suspeitos e para apreensão dos que já estão proibidos pela Direcção dos Serviços de Censura;
E como se a censura não fosse suficiente, muitas vezes a Polícia assaltava as casas dos escritores, as gráficas ou os editores levando tudo o que vinha a jeito.”

Estes são apenas alguns dos factos relacionados com a censura do Estado Novo que José Brandão tem enunciados na sua página, no texto de enquadramento de uma lista onde se podem encontrar obras dos mais variados quadrantes literários.

Dentro dos autores nacionais, o humorista José Vilhena é aquele que tem mais obras censuradas pelo regime, num total de 29 títulos. A sua mordaz sátira política, aliada ao erotismo das suas ilustrações fizeram dele dos nomes mais desprezados pelos censores. Roy Harvey - pseudónimo literário de José Ferreira Marques - (15 obras), e Tomás de Fonseca (14), republicano profundamente anti-clerical que dedicou a sua escrita a atacar os (maus) costumes religiosos do país, são os outros nomes que mais vezes se repetem na lista de José Brandão. Três nomes de uma lista que inclui ainda obras de Natália Correia, Miguel Torga, Manuel da Fonseca, Luiz Pacheco, Jorge de Sena, entre muitos outros.

A esquerda internacional, como não poderia deixar de ser, foi fortemente perseguida pelos censores, com o nome do alemão Karl Marx a surgir por 15 ocasiões na listagem. Lenine, Engels, Mao Tse-Tsung, e Leon Trotsky também não escaparam ao “lápis azul”.

Os grandes nomes da literatura e do pensamento internacional não tiveram tréguas por parte do regime. Fosse o erotismo de D.H. Lawrence; a escrita revolucionária de Jorge Amado (para os censores, "Capitães da Areia", estava carregado de uma "desbragada imoralidade", sendo "antissocial e revolucionário, essencialmente pré e pró-comunista", cita o Expresso) e Vassilis Vassilikos; o pessimismo de Dostoievsky; o humanismo de Nikos Kazantzakis; ou textos de teor político como as obras anti-fascistas de Nicos Poulantzas - e isto para citar apenas alguns exemplos -, todos acabaram por cair na lista da literatura proibída.

José Brandão explica que a lista é "composta exclusivamente por títulos de edição portuguesa não incluindo obras brasileiras ou de qualquer outra proveniência", e aquelas editadas a partir de 1933, depois de publicado o Decreto nº 22469 de 11 de abril de 1993 que instituiu "a censura prévia também aos livros".

Extraído do sítio Jornal HardMúsica

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