19 de janeiro de 2012

CIRCO VOADOR COMPLETA 30 ANOS COM O MESMO ESPÍRITO QUESTIONADOR

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A trupe eclética que ajudou a criar o Circo Voador, em 15 de janeiro de 1982, dificilmente apostaria que ele duraria muito tempo. Se é verdade que a casa enfrentou dificuldades ao longo de sua história, sua reabertura e vitalidade até hoje mostram que o espírito daquela época continua presente. Na turma que participou da fundação, a partir da Surpreendamental Parada Voadora, que arrastou 500 pessoas por Ipanema, se misturavam atores como Regina Casé e Evandro Mesquita, cantores como Cazuza e Bebel Gilberto, além de escritores e artistas plásticos sufocados pela Ditadura Militar que ainda insistia em calar as vozes da abertura. Capitaneados por Perfeito Fortuna, a turma ergueu o espaço na base da vontade e da venda de seis mil camisetas-ingresso. Fortuna lembra que o combustível era a vontade de todos de mostrarem os seus trabalhos. 

"O que a gente queria naquela época era mostrar a nossa arte e foi com o Circo que isso tornou-se possível. Não éramos movidos pelo ódio contra a ditadura. Vivíamos uma falta de espaços para dar vazão à efervescente produção que acontecia naquele momento", lembra o atual diretor da Fundição Progresso. "Não tínhamos a ilusão de o Circo funcionaria ali no Arpoador por muito tempo, mas tudo que aconteceu deu tão certo, era tão sensacional para nós, que ninguém queria sair". 

Se a lona no Arpoador durou só dois meses, ela rodou boa parte do Rio de Janeiro, e do Brasil, até se fixar na Lapa com mais uma parada artística apoteótica de todos que ajudavam na construção do projeto. Ali, o que parecia apenas um sonho de verão ganhava forma definitiva e se credenciava para ser um dos maiores celeiros que a música brasileira já teve. Bandas como Barão Vermelho, Blitz, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Capital Inicial, Lobão, e muitas outras, batiam ponto na casa. Enquanto o país assistia à abertura política, o rock nacional se consolidava. O Circo Voador constituía, junto com a Rádio Fluminense, uma espécie de rede que fisgava tudo o que acontecia de novo no país. Muito antes de alguém pensar em internet, Twitter ou Facebook. 

Varredura na cena nacional do rock 

Maria Juçá, criadora do Rock Voador, o grande evento do BRock na casa nos anos 1980, e diretora do espaço até hoje, diz que a troca de informações musicais era constante."Quando assumi o Circo Voador, criando o Rock Voador, programa pelo qual passaram todas as bandas do Rock Brasil, imediatamente estabeleci uma ligação direta com a Fluminense. Ora mandávamos as bandas para a programação da rádio, ora recebíamos deles a sugestão de bandas que estavam tocando na Fluminense para serem programadas no Rock Voador. Nesse período, de 82/84, fizemos uma verdadeira varredura na cena nacional do rock em todas as suas vertentes: rock’roll, new wave, heavy metal, punk rock, trash metal", conta Juçá. A importância do espaço para o rock atravessa gerações, mesmo com os oito anos de fechamento, entre 1996 e 2004, devido a uma polêmica decisão da prefeitura. A cantora Pitty, que gravou seu último DVD no Circo Voador, diz que sempre teve vontade de tocar lá e que guarda as melhores lembranças tanto de shows seus quanto das vezes em que estava na plateia e viu grandes apresentações. Toda a energia que parece correr pelo público é exatamente o que ela queria registrar. 

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"Sempre tive muita vontade de tocar lá, e, quando fui morar no Rio, o Circo estava fechado. Presenciei a reabertura da casa e a comoção na cena por conta disso. Nossos shows no Circo sempre foram antológicos, quentes, intensos; e eu queria captar isso no vídeo. Tenho várias lembranças ótimas, não só de estar palco, mas também na plateia, assistindo a algum show. O backstage é sempre um caso especial à parte; é onde encontramos os amigos e confraternizamos, comemoramos depois de uma apresentação de lavar a alma", afirma a cantora. 

Patrimônio da cidade e das artes do país, o Circo não para no tempo nem se prende ao seu passado de glórias. A todo momento, a casa se reinventa com novos projetos, parcerias, trazendo sons, festas e animando a noite carioca. Sonho de consumo de quem está começando no universo artístico, o palco do Circo Voador continua a impulsionar artistas em qualquer fase da carreira. Para Juçá, o que permanece desde aquela época e fará o espaço seguir pelos próximos 30 anos é a sua atitude, sempre questionadora e antenada no tempo presente. 

A julgar pela programação de aniversário, a noite da casa mantém o espírito de três décadas atrás: no dia 20, Teresa Cristina se apresenta ao lado da banda Os Outros para tocarem canções do Rei Roberto Carlos. No dia seguinte, a roqueira Rita Lee sobe, pela primeira vez, no palco da casa. Dias 27 e 28 de janeiro, chega a vez dos gringos do The Rapture e de Lobão, respectivamente. Já no início de fevereiro, o cantor Mayer Hawthorne leva seu soul para Lapa, no dia 3. Dia 4, o rapper Criolo, que virou sensação após ter seus versos cantados por Chico Buarque em sua nova turnê, apresenta o seu trabalho. E nos dias 24 e 25 do mesmo mês, Jorge Ben Jor faz uma dobradinha no Circo. É, não dá para duvidar do fôlego da casa para os próximos 30 anos.

* Colaboração de Leonardo Faria


Extraído do sítio da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro

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