8 de janeiro de 2012

VOYNICH - O MANUSCRITO QUE NÃO PODE SER LIDO - Eugênio Mira

Vários são os códigos que têm intrigado os lingüistas e criptógrafos através dos tempos - como o Livro de Soyga, com passagens sobre magia e fenômenos paranormais, e o Codex Giga, um livro que apresenta textos bíblicos e pagãos juntamente com uma gigantesca imagem demoníaca na página central. Os mistérios guardados por esses livros, no entanto, não se aproximam do mistério que envolve o Manuscrito Voynich, ou “o livro que ninguém consegue ler”.

© Wikicommons. Fonte: Beinecke Rare Book & Manuscript Library, Yale University.
Wilfrid Michael Voynich (Michal Habdank-Wojnicz) nasceu na Bielorrússia, em 1865. Depois de uma vida revolucionária, lutando contra os desmandos do Czar Alexandre II do império Russo, fugiu da Sibéria, onde cumpria pena, para refugiar-se na Inglaterra. Mais tarde casou-se com Ethel Boole (filha do eminente George Boole, criador da lógica booleana sem a qual os computadores de hoje simplesmente não existiriam). Apesar de seu movimentado passado revolucionário, Voynich jamais imaginaria que seu maior feito em vida seria abrir uma pequena livraria em Londres, no fim do século XIX.

Em 1912, em um colégio Jesuíta na região de Villa Mondragone, na Itália, Voynich adquiriu um misterioso livro. Escrito em pergaminho, era um livro relativamente pequeno (com a metade do tamanho de uma folha de papel comum de impressão). Com 122 folhas escritas e ilustradas, à primeira vista parecia tratar-se apenas de um exemplar a ser traduzido. O pequeno volume tinha uma história imponente e nobre. Fora enviado pelo reitor da Universidade de Praga em 1665 para um tradutor romano. O reitor dizia em uma carta encontrada junto do livro que o mesmo havia sido adquirido por Rodolfo II do Sacro Império Romano por um valor altíssimo.

No entanto, ao apresentá-lo em público em 1915, Voynich descobriu não haver especialista ou criptógrafo capaz de decifrar a língua ou o alfabeto utilizado no livro. Anos se passaram e os caracteres enigmáticos intrigaram gerações de tradutores, lingüistas e especialistas em códigos. Composto de cinco sessões, nomeadas de acordo com a natureza de suas ilustrações, o manuscrito continha diversos diagramas e desenhos relacionados com botânica, astronomia ou astrologia, biologia e farmacologia. Apesar das denominações, nunca chegou a estar muito claro o que cada uma das ilustrações devia representar. De fato, mais misterioso que as ilustrações, apenas o seu código. A obra tem de cerca de 170 mil caracteres, com uma média de 20 a 30 letras diferentes, sendo que outras dez aparecem pouquíssimas vezes nos textos. Os espaços parecem indicar a existência de 35 mil palavras. Análises estatísticas mostraram que a freqüência de caracteres tem boa distribuição, assim como nas línguas conhecidas. Chama a atenção o fato de não existirem, em toda a extensão do texto, erros ou borrões.




Com o passar dos anos, a tradução ou ao menos a desmistificação do Manuscrito Voynich se tornou o Santo Graal de muitos estudiosos. Enquanto criptógrafos acadêmicos e militares tentavam emprestar significado aos milhares de caracteres durante a década de 40, outros simplesmente torciam o nariz para o livro, que diziam ser uma farsa. Alguns estudiosos chegaram a publicar artigos em que atribuíam a autoria do manuscrito a Roger Bacon, cientista franciscano e notório estudioso da natureza da ótica. Embora Bacon fosse conhecido por suas pesquisas botânicas e alquímicas, uma análise de Carbono 14 conduzida por uma universidade americana concluiu que o Manuscrito Voynich datava do século XV. Bacon morrera muito antes, no século XIII.

Outras pesquisas levaram a conclusões interessantes, embora a tradução final sempre pareça um beco sem saída. Uma das hipóteses mais aceitas diz que o livro havia sido escrito pelo astrólogo e matemático John Dee e pelo mago e falsário Edward Kelley. Dee servia a corte de Rodolfo II e teria criado o livro para vendê-lo ao monarca como uma obra misteriosa e mística. Essa hipótese é reforçada por uma excessiva repetição de caracteres e palavras que poderiam indicar uma tentativa de falsificação. Apesar de essas e outras evidências, muitos cientistas são céticos quanto a essa abordagem e dizem que um documento de tamanha complexidade não poderia ser simplesmente inventado. Obra de homens ou de deuses? Tratado de alquimia ou apenas um bem sucedido golpe? Nunca saberemos. O que sabemos é que o Manuscrito Voynich continuará a intrigar as próximas gerações com suas letras desconhecidas e seus diagramas misteriosos.


Extraído da Revista Obvious

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