26 de novembro de 2011

DICA: O COFRE DO DR. RUI

Formato: Livro
Autor: TOM CARDOSO
Editora: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
1ª ed. - 2011
176 p
Assunto: BIOGRAFIA


Sinopse: O jornalista Tom Cardoso lança o livro mais explosivo sobre o lendário roubo do cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. “O Cofre do Dr. Rui” reúne informações exclusivas sobre o assalto de 2,5 milhões de dólares. O dinheiro estava num cofre na casa de uma amante de Adhemar, Ana Capriglione, o “Dr. Rui”, no Rio de Janeiro. Tom Cardoso revela que, quando Dilma Rousseff, Antônio Roberto Espinosa e Carlos Araújo (ex-marido da presidente) estavam num apartamento da Rua Barata Ribeiro, no Rio, um contato da organização guerrilheira VAR-Palmares bateu à porta e disse: “Um gerente do Bradesco aceitou trocar todo o dinheiro por moeda nacional. E diz que vai pagar bem acima do câmbio”.

Uma história espantosa, certamente, mas Tom Cardoso frisa que é verdadeira: “O contato da VAR-Palmares garantira que o intermediário trabalhava mesmo como gerente do Bradesco e que a decisão pela troca partira da direção do banco. As duas partes lucrariam com o negócio. O Bra­desco colocaria as mãos em dólares, numa época em que apenas o governo podia lidar com a moeda dentro de certos limites. Já a VAR-Palmares negociaria a grana acima dos valores oferecidos pelas casas de câmbio”.

Apesar do receio de que fosse uma armadilha, a guerrilha negociou com o Bradesco. Carlos Araújo conta: “Levamos três dias para trocar o dinheiro. Não lembro a quantia exata, mas era uma parte significativa do 1,2 milhão de dólares”. As regionais da VAR-Palmares receberam dinheiro do cofre de Adhemar. “Cada um dos seis dirigentes recebeu cerca de 12 mil dólares. Duas malas com milhares de cruzeiros novos foram guardadas no apartamento de Araújo e Dilma, na Barata Ribeiro.”

Antes da permuta com o Bradesco, Dilma Rousseff e Maria Auxiliadora trocaram mil dólares na casa de câmbio do Copacabana Palace. As guerrilheiras fingiram que eram estrangeiras. A VAR-Palmares montou forte esquema para protegê-las, mas o regime militar nada percebeu.

Organizada e disciplinada, Dilma Rousseff distribuía armas, munição, documentos e dinheiros aos guerrilheiros. Por seu estilo de “gerentona”, o capitão Carlos Lamarca a apelidou de Mônica (a personagem de Maurício de Sousa). Para vingar-se de Lamarca, Dilma escreveu, com Carlos Alberto Soares de Freitas, uma paródia de “País Tropical”, a música de Jorge Ben, que fazia sucesso com Wilson Simonal. O samba ganhou o título de “Congresso Tropical”, e citava dois guerrilheiros, Lamarca (o capitão) e Juarez Guimarães de Brito (Juvenal): “Esse é um congresso tropical/Abençoado por Lênin/Embananado por natureza/Em agosto (em agosto)/Tem Juvenal (tem Juvenal)/E um capitão chamado Lamarca”. Dilma Rousseff fazia a primeira voz. (“O COFRE DO DR. RUI”, de Tom Cardoso, biografia, 176 págs, Civilização Brasileira - 2011). (Blog Comendo Livros)


Duas moças bem arrumadas entram no Copacabana Palace, vão ao guichê de câmbio, trocam US$ 1 mil e desaparecem. Uma hora depois, as duas – as guerrilheiras Dilma Vana Rousseff e Maria Auxiliadora, da VAR-Palmares – comemoram com seus companheiros, em um apartamento perto dali, o sucesso da operação. Os US$ 1 mil eram só o tira-gosto de uma fortuna de US$ 2,59 milhões (hoje, cerca de R$ 28 milhões) capturados, na véspera, de uma casa no bairro de Santa Teresa. Dinheiro guardado em um enorme baú de 150 quilos, o célebre “cofre do Adhemar” – cujo roubo foi festejado pelo grupo como “a maior vitória da esquerda armada contra o capitalismo no continente”.

O episódio é uma das muitas histórias dos tempos de Wanda da hoje presidente da República: o período entre 1968, quando aderiu à resistência à ditadura, e 1973, ano em que deixou a prisão em São Paulo, sepultou o codinome e foi estudar economia em Porto Alegre. É um dos bons capítulos do livro O Cofre do Dr. Rui, recém-lançado pelo jornalista e escritor Tom Cardoso. “Dr. Rui” era o apelido de Ana Capriglione, amante de Adhemar de Barros, governador paulista que, diz a lenda, encheu o baú praticando o “rouba mas faz”.

“O que eu tento, no livro, é mostrar o papel real de cada um e o destino do dinheiro”, avisa o autor. E o papel real de Dilma, ouvidos mais de 30 depoimentos, fica mais claro. Segundo o livro, não partiram dela nem a ideia do roubo nem da organização do ataque. Dilma sequer teria participado do grupo de 11 pessoas que, sob o comando de Juarez de Brito, o Juvenal, invadiu em julho de 1969 a casa do irmão de Ana Capriglione para pegar o famoso cofre. “Mas Wanda tinha, sim, grande importância no grupo. Cuidava de planejar, distribuir armas e munição, documentos. Tomou conta de várias malas com os dólares e ajudou a definir sua distribuição”, explica Cardoso.

A militante já era famosa pelas broncas e pela coragem. Defendia a ala “massista”, que sonhava organizar as massas e vivia às turras com os “foquistas”, a turma pesada de Carlos Lamarca, ansiosa por iniciar logo a luta armada. Em um congresso em Teresópolis, ela surpreendeu os camaradas ao encarar o poderoso Lamarca “chamando a atenção para a fragilidade de suas ideias”, segundo Cardoso. Lamarca a apelidara de Mônica, “porque era dentuça e mandona”, como a personagem dos quadrinhos. Ela deu o troco compondo um plágio de País Tropical, de Jorge Ben: “Este é um congresso tropical / Abençoado por Lenin / E confuso por natureza… / Em agosto (em agosto) / Tem Juvenal (tem Juvenal) / E também um capitão chamado Lamarca…”

Mas O Cofre não é um livro sobre Dilma: ela aparece porque estava no caminho da história. O eixo principal das 170 páginas é o tortuoso sumiço do dinheiro pelo qual grupelhos internos pelejavam, às vezes armados e gritando uns com outros. Ao final, o que vem à luz é a rápida caminhada da esquerda armada rumo ao seu fim. Que o autor não cravou em 1971, com a morte de Lamarca, mas em 1985, quando o militante Gustavo Schiller pulou de um oitavo andar em Copacabana. Schiller era o jovem carioca que, nos idos de 1969, havia contado a alguns amigos que no porão de sua própria casa, em Santa Teresa, havia um cofre abarrotado de dólares. (Gabriel Manzano, O Estado de S. Paulo)

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