5 de novembro de 2011

DICA: EL CUADERNO DE MAYA

Formato: LIVRO
Autor: ISABEL ALLENDE
Idioma: Espanhol
Editora: SULAMERICANA
1ª edição - 2011
544 p
Assunto: LITERATURA ESTRANGEIRA - ROMANCE


Sinopse: O mais recente livro da chilena Isabel Allende, ainda não publicado no Brasil, toca em um tema que preocupa o mundo: a drogadição. O personagem principal, uma jovem que se envolve com drogas e traficantes, após a morte do avô que a criou e com quem tinha uma grande identificação, anota em seu diário os dias felizes, sofridos, perigosos, de fuga e reabilitação, que viveu nas cidades de Berkeley e Las Vegas, nos Estados Unidos, e Chiloé, no Chile. A história de El Cuaderno de Maya transcorre no período de um ano, de janeiro a dezembro. El Cuaderno de Maya, editado pela Editorial Sudamericana S.A., de Buenos Aires, Argentina, é de fácil leitura, como seus outros 17 livros. O texto flui e prende o leitor. Mais uma vez, Isabel trata da ditadura que esmagou o povo chileno. Através dos personagens, a autora diz o que pensa sobre políticos como Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, e da vida de tentações oferecida por Las Vegas. Isabel conquista os leitores, porque escreve com alegria. Ela ama o que faz. Em seu site, afirma: “Nada me alegra mais do que escrever. Faz com que eu me sinta jovem, forte, poderosa, feliz”. E tem mais. Segundo ela, escrever “é tão estimulante como fazer amor com um amante perfeito”. Neste ponto, faz uma ressalva: encontrar o amante perfeito “é quase impossível na minha idade”. Ela nasceu em 2 de agosto de 1942, no Peru, onde seu pai, o diplomata chileno Tomás Allende, primo do ex-presidente Salvador Allende, estava baseado. (texto de Nubia Teixeira em Sul21)

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Atualmente, a escritora vive nos Estados Unidos com o segundo marido, o norte-americano Willie Gordon, com quem está casada desde 1988. De sua casa, na Califórnia, onde vive e trabalha, ela falou, por e-mail, ao Sul21 sobre El Cuaderno de Maya.

Sul21 — Por que você escolheu Berkeley e Las Vegas, nos Estados Unidos, e Chiloé, no Chile? Quais as cidades mais importantes na sua vida?
Isabel Allende – Gosto muito de Berkeley, que é uma cidade universitária, hippie, liberal, intelectual, ecológica, jovem, com uma população muito diversificada. Las Vegas é o lugar dos jogos de azar, sexo, entretenimento, drogas e álcool, o oposto de Berkely. E Chiloé é uma comunidade rural que oferece um contraste muito interessante com o mundo de Las Vegas. Na minha vida, dois lugares são importantes: Bay Área, no norte da Califórnia, e o Chile.

Sul21 – Os habitantes de Chiloé acreditam que Michelle Bachelet foi o melhor presidente que o Chile já teve. Você também acredita nisso? Mulheres são melhores políticos do que homens?
Isabel Allende — Também acredito que Michelle Bachelet foi uma grande presidente. Ela é uma líder extraordinária. Acho que as mulheres, em geral, são boas políticas, porque são boas administradoras, trabalham em equipe, ouvem, não são tão arrogantes e gananciosas como alguns homens tendem a ser quando estão no poder. Contudo, houve mulheres que foram péssimas líderes e homens que foram excelentes políticos.

Sul21 – Maya, o personagem central, é uma jovem drogada. Ela representa a juventude norte-americana de hoje? Ou a drogadição é um problema que atinge os jovens de todo o mundo?
Isabel Allende - Infelizmente, as drogas estão em todos os lugares do mundo. Elas afetam os jovens, independente da nacionalidade, raça, sexo ou classe social.

Sul21 — Maya descobre que os chilenos ainda vivem divididos entre os que apoiaram o regime militar e os que lutaram contra o golpe. Você acredita que esta divisão terminará alguma dia?
Isabel Allende — Sim, o tempo é o grande curador. Quando a última geração que viveu o golpe militar falecer, as pessoas não se lembrarão da dor, apenas dos fatos. Então, a ditadura será parte da nossa história e não mais uma ferida aberta.

Sul21 — Você diria que El Cuaderno de Maya é um romance policial?
Isabel Allende – O livro tem a estrutura de uma novela policial: crime, investigação, resolução final; tem suspense e violência. Mas a personagem é o que importa como em todas as minhas novelas. Para mim, o enredo é menos importante dos que os personagens.

Sul21 – Quando El Cuaderno de Maya será traduzido para o português?
Isabel Allende – O livro já foi publicado em Portugal e espero que saia logo no Brasil.

Sul21 – Você já começou a pensar no próximo livro? Pode antecipar sobre o que ele tratará?
Isabel Allende — Ainda não tenho nada pensado para o próximo ano. Tentarei começar um novo livro no dia 8 de janeiro, como usualmente faço, mas não tenho ideia de que tipo de livro será.  (texto de Nubia Teixeira em Sul21)

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A história de Maya

Neta de uma chilena que fugiu da ditadura militar para o Canadá com o filho ainda pequeno, Maya Vidal sabe muito pouco sobre o país de origem da avó e do pai e sobre o passado deles em terras tão distantes de Berkeley, onde nasceu. Foi entregue pela própria mãe, Marta Otter, uma aeromoça dinamarquesa, ao segundo marido de Nidia Vidal, a Nini, sua avó paterna, para que a criassem. Ela não conheceu outro avô a não ser Paul Ditson II, Popo, com quem tinha profundos laços de carinho, mas não de sangue.
A pequena Maya viveu anos sem se dar conta que Popo, astrônomo e professor universitário, era negro e sofria com a discriminação racial. Ele e Nini se conheceram no Canadá. Ela falante, hippie, supersticiosa, fã de histórias policiais. Ele um professor quieto, voltado para o estudo das estrelas, do universo. Maya sentia-se privilegiada. Era a única com licença para entrar no local de trabalho do avô e com ele buscar novas estrelas no céu. Gostava de brincar de “perguntas idiotas” com ele: “por que a chuva cai para baixo, Popo? Porque se caísse para cima molharia as calças, Maya. Por que o vidro é transparente? Para confundir as moscas. Por que tuas mãos são negras em cima e rosadas embaixo? Porque não havia tinta suficiente”.
Este mundo de alegria e inocência acabou com a morte de Popo. Maya, uma adolescente, tornou-se rebelde. Não conseguia entender-se nem com a avó nem com o pai. Envolveu-se com drogas. Foi levada para uma clínica, de onde fugiu. Seu inferno apenas começara. Acabou em Las Vegas, onde passou a trabalhar para um traficante. Ali, na cidade dos jogos, desceu ao fundo do poço. Sabia que corria risco de morte. Reuniu forças para pedir ajuda a avó que foi buscá-la e decidiu tirá-la dos Estados Unidos, enviando-a para as Ilhas Chiloé, onde seria recebida por um amigo de Nini, o antropólogo Manuel Arías. Chiloé, segundo Nini, é mágica. Maya não tardou a descobrir que a avó tinha razão.
Com os chilotes, aprendeu a falar bem o espanhol e a conviver com a magia. Interessou-se pela história da terra de seu pai e também ficou obcecada por descobrir o que havia no passado de Manuel Arías, um homem benquisto pelos chilotes e que falava pouco sobre sua vida. As aventuras se sucedem, num ritmo de suspense e descobertas inesperadas.

Uma ilha mágica

Chiloé: casas coloridas e sobre palafitas para fugir das maréas altas l Foto: smh.com.au
Maya e os leitores vão descobrindo aos poucos a beleza de Chiloé – a terra das gaivotas –, no Sul do Chile, na região dos Lagos, próximo de Puerto Montt. O arquipélago tem cerca de 200 mil habitantes. As casas são construídas sobre palafitas, para tentar escapar da invasão do mar. O povo, humilde, vive com poucos recursos, mas com uma grande imaginação. Não há quem não tenha uma história de bruxa para contar.

Beleza natural de Chiloé atrai chilenos e estrangeiros l Foto: Flickr.com
Algumas das lendas, descobre a jovem fugitiva, servem para encobrir problemas enfrentados pelas famílias, como a do trauco, um duende que atrai as meninas. Os homens são hipnotizados por pincoya, uma sereia.

Baía de Castro, em Chiloé l Foto: Flickr.com
No pequeno território de aproximadamente 180 quilômetros de comprimento e 50 de largura, sobrevivem 16 igrejas de madeira, construídas por missionários jesuítas. Maya registra que elas foram construídas sem um prego sequer e “os tetos abobadados são botes invertidos”. Os templos foram declarados patrimônio da humanidade pela Unesco. Os barcos, em especial os modestos, se encarregam de transportar moradores, visitantes, suprimentos e todo o tipo de carga.

As Igrejas são uma das grandes atrações de Chiloé l Foto: Flickr.com
Castro, a capital de Chiloé, é para onde Maya viaja em busca de informações sobre o passado de Manual Arías. A outra “grande” cidade é Ancud, na Ilha Grande, onde a jovem chegou. Dali, seguiu viagem para o povoado em que vive o antropólogo, um dos mais antigos do arquipélago, fundado pelos espanhóis, em 1567, onde hoje vivem 2 mil pessoas. Em seu diário, Maya escreve: “Além da Ilha Grande, onde estão as cidades mais povoadas, existem muitas ilhas pequenas, várias delas desabitadas. Há grupos de três ou quatro ilhas, que, de tão próximas uma das outras, acabam unidas por terra, na maré baixa”.

As belezas naturais do arquipélago, suas tradições e lendas têm atraído turistas nacionais e internacionais. Entre os leitores de El Cuaderno de Maya, muitos, certamente, escolherão a ilha como seu destino nas próximas férias. (texto de Nubia Teixeira em Sul21)