17 de novembro de 2011

REGRAS GERAIS DA ARTE DA GUERRA - Niccolo Maquiavel

Niccolo Maquiavel
Estou consciente de vos ter falado de muitas coisas que por vós mesmos haveis podido aprender e ponderar. Não obstante, fi-lo, como ainda hoje vos disse, para melhor vos poder mostrar, através delas, os aspectos formais desta matéria,e, ainda, para satisfazer aqueles - se fosse esse o caso - que não tivessem tido, como vós, a oportunidade de sobre elas tomar conhecimento. Parece-me que, agora, já só me resta falar-vos de algumas regras gerais, com as quais deveis estar perfeitamente identificados. São as seguintes: 
- Tudo o que é útil ao inimigo é prejudicial para ti, e, tudo o que te é útil prejudica o inimigo. 
- Aquele que, na guerra, for mais vigilante a observar as intenções do inimigo e mais empenho puser na preparação do seu exército, menos perigos correrá e mais poderá aspirar à vitória. 
- Nunca leves os teus soldados para o campo de batalha sem, previamente, estares seguro do seu ânimo e sem teres a certeza de que não têm medo e estão disciplinados e convictos de que vão vencer. 
- É preferível vencer o inimigo pela fome do que pelas armas. A vitória pelas armas depende muito mais da fortuna do que da virtude. 
- Nenhuma decisão é melhor do que aquela que permanece em segredo até ao momento da sua execução. 
- Nada há de maior utilidade na guerra do que saber reconhecer uma oportunidade e não a deixar fugir. 
- A natureza produz poucos homens valentes; em contrapartida, a astúcia e o treino fornecem bastantes. 
- Na guerra, a disciplina vale bem mais do que a exaltação. 
- Quando do exército inimigo saem homens para vir para o teu serviço, se forem fiéis tratar-se-á sempre de uma boa aquisição, porque as forças do adversário enfraquecem muito mais com a perda dos que desertam do que com a dos que morrem, ainda que a designação de desertor seja suspeita para os novos amigos e odiosa para os antigos. 
- Na organização para uma batalha, é preferível constituir, atrás da primeira frente, uma reserva, que possa prestar auxílio, do que, para tornar a frente maior, dispersar as suas tropas. 
- Dificilmente é derrotado todo aquele que consegue avaliar corretamente as suas forças e as do inimigo. 
- Vale mais a virtude dos soldados do que o seu número; algumas vezes, porém, o valor da posição ocupada supera a virtude dos combatentes. 
- As coisas inesperadas e repentinas perturbam os exércitos; as coisas habituais e graduais impressionam muito menos; por conseguinte, antes de travar batalha com um inimigo desconhecido, farás o teu exército habituar-se a ele através de pequenas escaramuças. 
- Perseguir desordenadamente um inimigo já derrotado é correr o risco de passar de vencedor a vencido. 
- Aquele que não prepara devidamente os abastecimentos necessários à vida do exército é derrotado sem o recurso às armas. 
- Quem confia mais na cavalaria do que na infantaria, ou mais na infantaria do que na cavalaria, que saiba escolher o terreno em conformidade. 
- Quando, durante o dia, quiseres verificar se algum espião se introduziu no acampamento, faz com que cada soldado recolha ao seu alojamento. 
- Muda o plano de operações quando te aperceberes de que o inimigo foi capaz de o prever. 
- Antes de tomares uma decisão, aconselha-te com muitos; quando souberes o que vais fazer, partilha a decisão com poucos. 
- Quando estão aquartelados, os soldados dominam-se com o temor e as punições; depois, quando se conduzem ao combate, com a esperança e as recompensas. 
- Os grandes capitães nunca vão para uma batalha senão quando a isso são constrangidos ou quando a oportunidade o impõe. 
- Esforça-te para que os teus inimigos não saibam como vais organizar o teu exército para o combate. Seja qual for essa organização, faz com que as primeiras linhas possam ser recolhidas pelas segundas e pelas terceiras. 
- Se não queres criar confusão, não atribuas a uma batalha, durante o combate, uma missão diferente daquela que inicialmente lhe estava atribuída. 
- Enquanto os incidentes imprevistos com dificuldade se remedeiam, os esperados com facilidade se resolvem. 
- Os homens, o ferro, o dinheiro e o pão constituem o nervo da guerra, mas, destes quatro, os dois primeiros são os mais necessários, porque os homens e o ferro, juntos, encontram o dinheiro e o pão, mas dinheiro e pão, somados, não encontram os homens e o ferro. 
- Um rico desarmado é o premio do soldado pobre. 
- Acostumai os vossos soldados a desprezar o viver delicado e o vestir luxuoso. 

Nicolo Maquiavel, in 'A Arte da Guerra'


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Extraído do sítio Citador.pt

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