24 de novembro de 2011

10 BÁSICOS DE PORTO ALEGRE - Parte II

Por do sol no rio Guaíba
6 – Insólito e Alegre

Porto Alegre não é uma cidade óbvia. Podemos até, com algum atrevimento, compará-la ao prato culinário brasileiro Escondidinho: “nunca se sabe o que há por baixo”. Comecemos pelo Solar dos Câmara, um dos edifícios mais antigos da cidade, onde funciona actualmente a Assembleia Legislativa do Estado. Aqui viveu o primeiro governador do Rio Grande do Sul e aqui pernoitou o imperador Dom Pedro II quando visitou a cidade. Hoje, funciona no espaço um centro cultural, com biblioteca, exposições e saraus musicais. Outro caso do insólito é que a Rua da Praia já não existe, embora o seu nome permaneça na boca de toda gente. A placa toponímica chama-lhe actualmente Rua dos Andradas. Acontece que o Rio Guaíba também não é rio, mas sim um lago onde confluem cinco rios. E, como esclarece Luís Fernando Veríssimo em Traçando Porto Alegre, a Praça da Matriz, onde se ergue a catedral metropolitana, já não é da Matriz, mas sim Marechal Deodoro. Razão tem o escritor quando diz que “ao contrário de cidades previsíveis como Paris, Roma etc. (…) você precisará de tempo para decifrar Porto Alegre”.

Parque Moinhos de Vento - by Alfonso Abraham
7 – Bairros Emblemáticos

O Bairro dos Moinhos de Vento é uma espécie de Soho porto-alegrense com as suas lojas trendy, restaurantes e bares. Quem se detiver a olhar as montras e os casarões restaurados do século passado espantar-se-á se dissermos que tudo começou em 1995. Na época, o miolo do bairro era essencialmente residencial, mas o estabelecimento do Café do Porto na Rua Padre Chagas deu ideias a outras casas comerciais. Hoje, esta rua em linha recta e a sua perpendicular, a Rua Fernando Gomes, são consideradas das mais “gostosas” da cidade. Entre a loja Coisas de Maria ou Casa de la Madre, será difícil a escolha, sendo que nesta última é possível almoçar ou tomar chá com o bolo do dia. Se preferir fazer este passeio de bicicleta pergunte pelas Bicicletas no Pátio e vai ver que não se arrepende. Já a comunidade judaica assentou arraiais no Bairro do Bonfim. As interferências são visíveis nas sinagogas, nas associações ou em produtos como a shoarma. Chegaram também a “bom porto” pessoas de outros credos ou sem credo nenhum. O bairro foi ainda povoado por pensadores e artistas que abraçaram um estilo de vida alternativo. Este universo boémio e democrático encontra-se nos poemas cantados pelos músicos gaúchos Nei Lisboa e Vitor Ramil. Na Cidade Baixa encontra não só a paragem do autocarro que faz o Citytour como uma concentração significativa de património histórico, caso da Travessa dos Venezianos – refúgio de escravos –, e do casario das ruas João Alfredo e Lopo Gonçalves onde se misturam casas de habitação com ateliers artísticos. A primeira é bastante abundante em termos de vida nocturna. Destaque para o Ossip, bar que, dizem os entendidos, foi bastante apreciado por Caetano Veloso. Na zona sul, nas margens do lago Guaiba, fica Ipanema, área residencial nobre de Porto Alegre, onde se multiplicam clubes náuticos, bares e restaurantes. É no centro histórico que se encontra o maior conjunto patrimonial da cidade. Destaque especial para as praças da Matriz e da Alfândega. Na primeira, além da estátua que celebra Júlio de Castilhos – patrono do Partido Republicano que trouxe o positivismo para o Brasil – demore-se na fachada da biblioteca pública e noutros edifícios positivistas à volta da praça.

Café do Porto: www.cafedoporto.com.br

City Tour Central de Atendimento: www2.portoalegre.rs.gov.br/turismo/

8 – Casas com histórias

Não deixe de espreitar algumas casas guardiãs da história do Estado mais austral do Brasil. Comece pelo Memorial do Rio Grande do Sul, instalado no antigo prédio dos Correios e Telégrafos. A exposição “Linha do Tempo” conta a história do Estado. Ao lado fica o MARGS – Museu de Arte de Rio Grande do Sul, cujo acervo conta com mais de 3000 peças. Siga depois até ao Paço dos Açorianos – antiga Prefeitura – que aloja a Pinacoteca Aldo Locatelli, com obras de artistas gaúchos. Não muito longe, fica o Museu Júlio de Castilhos, o mais antigo do Rio Grande do Sul, fundado em 1903. Considerada um museu ao ar livre, a Praça da Matriz alberga a Catedral Metropolitana e o Palácio Piratini, cujos frescos valem a pena. Na Cidade Baixa encontra-se o Museu José Joaquim Felizardo, que fica num antigo solar de arquitectura luso-brasileira. A casa é guardiã de 1300 objectos porto-alegrenses do século XIX e XX e o acervo fotográfico tem 40 mil fotografias que mostram a evolução da cidade. Virado para o futuro, o Museu de Ciências e Tecnologia é um dos mais importantes da América Latina, apresentando exposições interactivas.

Memorial de Rio Grande do Sul: www.memorial.rs.gov.br


Paço dos Açorianos: www2.portoalegre.rs.gov.br

Museu Julio de Castilhos: www.museujuliodecastilhos.rs.gov.br


Museu de Ciências e Tecnologia: www.pucrs.br/mct

Chimarrão, bebida típica dos gaúchos - by Alfonso Abraham
9 – Aquele abraço

Desde tempos remotos que os índios Guarani seguem o ritual de beber infusões das folhas de erva-mate, uma árvore que cresce no meio das florestas de Rio Grande do Sul. O hábito permanece até à actualidade e os brasileiros do Sul chamam-lhe chimarrão. Para beber o chá são precisas: uma cúia (cabaça), uma bomba, água quente e erva-mate. Comparada com o cachimbo da paz, a cerimónia tornou-se símbolo da hospitalidade gaúcha, cuja generosidade transborda mal pomos o pé em Porto Alegre. É na despedida, no entanto, que este acolhimento tão particular se acentua, com um abraço apertado. A ideia de partilha não é exclusiva do chá, revelando-se igualmente no churrasco, agendado para os domingos como uma espécie de Natal familiar. O acontecimento é de tal forma sério que a maior parte dos gaúchos tem churrasqueira em casa. Mas o exemplo mais óbvio de encontro é o magnífico mercado público. Fundado em 1869, o espaço é muito importante para as religiões africanas, por se acreditar que no centro da casa está assente o Orixá Bará que no panteão africano é a entidade que abre os caminhos. No mercado poderá adquirir produtos italianos e alemães típicos do Rio Grande. Não deixe de experimentar a salada de fruta da banca 40 ou experimentar o “bife enrolado” do Gambrinus.



Museu Iberê Camargo
10 – Porto Cale

De todos os vestígios deixados pelos portugueses a Fundação Iberê Camargo é a mais monumental e valeu ao autor do projecto arquitectónico, o português Álvaro Siza Vieira, o Leão de Ouro na Bienal de Veneza de 2002. Na fundação está a obra do pintor gaúcho Iberê Camargo, mas o edifício em si proporciona uma viagem visual inesquecível, onde a paisagem urbana se funde com o brilho do seu lago. Construída há dois séculos, a Ponte dos Açorianos, que ligava o centro às chácaras do sul da cidade, foi transformada em monumento histórico e declarada património histórico em 1979. Nalgumas partes da cidade conseguimos pisar ainda a típica calçada portuguesa. É o caso da Praça da Alfândega ou da Praça da Matriz. No restaurante Pampulhinha poderá saborear pratos de raiz portuguesa que Jaime Pinheiro trouxe de Aveiro e onde não falta o bacalhau.

Fundação Iberê Camargo: www.iberecamargo.org.br

Pampulhinha: www.pampulhinha.com.br

Calçada portuguesa 
Extraído da Revista Up - Revista de bordo da TAP - Edição de novembro/2011

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