30 de novembro de 2011

DIA 2 DE DEZEMBRO: DIA NACIONAL DO SAMBA - PARTE II

O Dia Nacional do Samba, em Porto Alegre, foi antecipado do dia 2 de dezembro para o domingo último (27), e comemorado na Usina do Gasômetro, a partir das 16 h, com shows de Monarco e Guaracy Sete Cordas, da Velha Guarda da Portela, além de atrações locais, como Roda de Choro de Porto Alegre, Coletivo Turucutá, DJ Fausto e Samba da Umbigada. O evento foi promovido pelo Instituto Brasilidades. {Instituto Brasilidades e Portal Vermelho}

Em Belém, o 2 de dezembro será comemorado, como acontece há muitos anos, com um show realizado por Yuri Guedelha & Sarau Brasil e convidados no "African Bar". A partir das 22 h, além desses, Sombra (compositor, cantor e instrumentista carioca) e Pedro da Flor (cantor e compositor carioca), mais a "nata do samba paraense": Bilão, Gigi Furtado, João Lopes, Júnior Bambo, Mariza Black, Marquinho Melodia, Muka, Pedrão Frade e Tony Melodia estarão comemorando a data com o show intitulado "Viva o samba", que será uma grande homenagem a este gênero musical genuinamente brasileiro e que se tornou um dos principais símbolos da identidade nacional. {Diário do Pará Online, 30/11/2011}

No Dia Nacional do Samba o Brasil inteiro celebra a data com shows, festas e é claro, muito samba no pé. O Arrumadinho, um dos principais grupos que levanta a bandeira do samba em Teresina, não podia ficar fora dessa e realiza um show com o melhor do gênero e várias participações nesta sexta, (02), no Bossa Nova, a partir das 22h.

De acordo com pesquisadores, a escolha do dia 02 de dezembro para comemorar o Dia Nacional do Samba foi inspirada na primeira vez em que o compositor mineiro Ary Barroso pisou na Bahia e foi homenageado pelo vereador Luis Monteiro da Costa com a instauração da data. O motivo da homenagem foi o samba "Na Baixa do Sapateiro", de 1938, em que Barroso reverencia a capital baiana.

Grupo Arrumadinho
O samba "Na Baixa do Sapateiro", de 1938, em que Ary Barroso homenageia a capital baiana, e vários outros memoráveis sambas estarão no repertório do Grupo Arrumadinho que recebe no palco do Bossa Nova a participação do cantor Walber Júnior e do Grupo Sambasoulto. Clássicos do samba, passando pelos sucessos da nova geração e variações desse ritmo genuinamente brasileiro, como o samba rock e o samba duro, vão fazer todo mundo balançar e se divertir nesta sexta com o Grupo Arrumadinho, comemorando o Dia Nacional do Samba. {Cidadeverde.com, 29/11/1961}

A Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias vai comemorar o Dia Nacional do Samba, na sexta-feira (2 de dezembro), dentro do projeto “Estação do Samba - Parada Obrigatória”, que acontece toda sexta-feira a partir das 17h no Centro de Cultura Nordestina Jackson do Pandeiro, no Mergulhão.

A festa será animada pelo intérprete Wantuir, da Grande Rio, que fará o lançamento do CD “Simplicidade”. Contará também com a participação da bateria show da escola de samba Acadêmicos do Grande Rio e do Grupo Tudo a Ver. A entrada é franca.

O projeto Estação do Samba foi lançado oficialmente em dezembro de 2010, com um grande show de Monarco e Mauro Diniz e da bateria da Grande Rio e vários blocos e artistas da cidade, que empolgaram as cerca de 8 mil pessoas que lá estiveram. No mesmo espaço funciona aos sábados e domigos, o projeto Forró na Feira, que atrai cerca de 5 mil pessoas a cada final de semana. O evento também tem entrada franca. {Diário Democrático Online, 29/11/2011}

Vitória vai comemorar o Dia Nacional do Samba com diversas atividades nesta sexta.  Numa ação inédita na capital, logo cedo (às 7 h da manhã), passageiros das linhas de ônibus municipais 103 e 172, que passam por redutos do samba capixaba, ganharão a companhia de músicos com cavaquinho e pandeiro - Rogerinho do Cavaco e Tunico do Cavaco -, além de 'clowns' vestidos de personagens como o malandro e a mulata.

No repertório, grandes sucessos de compositores como Noel Rosa, Cartola, Adoniran Barbora e tantos outros autores de clássicos do gênero. Às 12 horas, os 'clowns' estarão na praça Costa Pereira interagindo com os passantes.

"O samba está na alma dos capixabas. Temos um sem número de artistas, instrumentistas, músicos e intérpretes que se dedicam a cantar e a perpetuar esse gênero musical tão nosso, tão brasileiro. Poder comemorar esse dia e oferecer à cidade uma programação voltada para o samba é uma alegria muito grande. Espero que as pessoas possam curtir a data e não deixar nunca o samba morrer", sublinha o secretário municipal de Cultura, Alcione Pinheiro.

Às 13:30 h, Roda de Samba nas Caieiras: tem cavaquinho pra ver, sambar, batuque pra galera cantarolar. E quem quiser chegar, pode trazer as vozes para acompanhar. Esse é o espírito de uma boa roda de samba! E, para celebrar o Dia Nacional do Samba, o píer da Ilha das Caieiras será palco de uma roda de samba com mais de 40 músicos.

Eles chegarão à ilha numa escuna. O passeio pela baía de Vitória, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura para os sambistas, é uma forma de homenagear aqueles que mantém viva a tradição do samba na cidade. Quem estará capitaneando a escuna é o sambista Lajota.

À noite, a partir das 19h30, o Mercado São Sebastião, em Jucutuquara, se transforma em Mercado do Samba com shows de Tonico e Rogerinho do Cavaco.
Autodidata do samba capixaba, Tonico do Cavaco é autor e compositor de várias obras. Já fez sambas para escolas de samba de Vitória, Guarapari e também escolas do Rio de Janeiro, como as agremiações de Valença e Itaperuna.

Entre seus parceiros estão: Mancha, Cláudio, Dílson de Farias, Attilio Juffo, Fernando Monteiro, Marquinhos Gente Bamba, Zinho Furão, Costa Pereira, Fefeu, Rogerinho do Cavaco e outros.

Tonico do Cavaco é um dos baluartes do samba capixaba. Em seu show, interpreta clássicos de nossa terra e também do cenário nacional, sempre acompanhado por músico de renome no Estado.

Rogerinho do Cavaco, que se apresenta logo em seguida é jornalista, cantor e compositor e músico. Nascido em família festeira, já atuou em diversos grupos de samba e agremiações carnavalescas. Fez a abertura e fechamento de shows de grandes nomes da música brasileira como Zeca Pagodinho, Emílio Santiago e Grupo Revelação.

Em 2010, lançou o seu primeiro CD, "Rogerinho do Cavaco" tem a proposta de divulgação do samba autêntico. Este ano, com apoio da Lei Rubem Braga, apresentou seu segundo disco, "Samba do Povo", mesclando composições próprias e de outros autores, o disco do sambista tem a produção de Milton Manhães. {Blog Ritmo Carioca, 29/11/2011}

Uma grande roda de samba marca o início das comemorações pelo Dia Nacional do Samba, em Campinas, nesta sexta (2), a partir das 17:30 h. A festa será na plataforma da Estação Cultura "Prefeito Antônio da Costa Santos", com entrada gratuita.
O evento é realizado pela Liga Campineira das Escolas de Samba (Lesca) e pelo grupo Papo de Samba, com apoio da prefeitura. Segundo Adilson Garcia, um dos organizadores, o objetivo é comemorar a data promovendo uma roda de samba "para entrar no Guiness Book".

A festa terá a participação de grandes nomes do samba campineiro, como Ido Luiz, Niva (do Partido Alto), Rinaldo (Rina), Fernando Revelação, Leandro Marçal e Alex, além de sambistas de Jundiaí e da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, de São Paulo. Os grupos Ariá e Amizade também vão integrar a roda. {Campinas.com, 29/11/2011}

Fundo de Quintal e Jorge Aragão - Lucidez

29 de novembro de 2011

LANÇADA NO RIO OBRA INÉDITA COM TEXTOS DE AUTORES NEGROS DO SÉCULO XVIII ATÉ OS DIAS DE HOJE

Coletânea Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica é resultado de dez anos de pesquisas.

Lima Barreto
O Ano Internacional da Afrodescendência e o Dia da Consciência Negra tiveram uma dupla comemoração nesta segunda-feira (28), na Biblioteca Nacional. Além da assinatura de acordos de cooperação com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), foi lançada, em solenidade no início da noite, uma coletânea inédita sobre a literatura de afrodescendentes no Brasil. A obra é resultado de dez anos de pesquisas. O evento também contou com uma homenagem póstuma ao ativista, professor, escritor e poeta Abdias Nascimento, que morreu este ano.

De autoria dos professores de literatura Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Maria Nazareth Soares Fonseca, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, a coletânea Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica reúne, em quatro volumes, textos de 100 escritores negros, do século 18 aos dias atuais. Cada um dos textos é acompanhado de um estudo crítico feito por 61 pesquisadores de 21 universidades brasileiras, além de seis estrangeiras.

O primeiro volume é dedicado aos chamados precursores, abrangendo o período que vai do século 18 aos nascidos até à década de 1920 do século 20. O segundo, Consolidação, abrange os escritores nascidos nas décadas de 30 e 40; e o terceiro, Contemporaneidade, é dedicado aos que nasceram a partir de 1950 e publicaram seus primeiros textos nas últimas décadas do século passado e na primeira do século 21. O quarto volume da antologia contém depoimentos de Abdias Nascimento e outros escritores, além de artigos em que se discute a pertinência do conceito de literatura afro-brasileira.

“É a primeira vez que é feito esse levantamento e, desses 100 escritores, aproximadamente dez são os mais conhecidos, como Machado de Assis, Cruz e Souza e Lima Barreto, e, entre os contemporâneos, Nei Lopes, Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré”, relata o professor Eduardo de Assis Duarte. “A grande maioria, no entanto, são autores pouco divulgados, pouco conhecidos, principalmente dentro dos manuais de história da literatura brasileira”, acrescenta.

Segundo Duarte, a expectativa é a de que a publicação da antologia “jogue uma luz sobre autores até agora desconhecidos, como Maria Firmina dos Reis, do século 19”. Ele considera que há um ponto comum entre vários autores de diferentes épocas, que é a necessidade de recuperar a história do negro no Brasil.

Novo sítio da Biblioteca Nacional
Entre os acordos firmados com a Seppir está a previsão de coedição, em formato eletrônico, de obras do acervo da Biblioteca Nacional, em domínio público, escritas por autores negros. Outro acordo prevê a divulgação da literatura de autores afro-brasileiros por meio de mostras, envio de livros para bibliotecas e ações de incentivo à leitura.

Serão implantados cinco pontos de leitura em áreas habitadas por povos e comunidades tradicionais afro-brasileiras. Para isto, a Fundação Biblioteca Nacional vai oferecer mais de 600 obras voltadas para o tema a cada um dos grupos contemplados, além de material de informática e outros, como estantes e almofadas.


Extraído do sítio Panorama Brasil

DIA 2 DE DEZEMBRO: DIA NACIONAL DO SAMBA

O Dia Nacional do Samba foi instituído pelo vereador baiano Luís Monteiro da Costa para homenagear o compositor mineiro Ary Barroso, que criou o samba “Na Baixa do Sapateiro”, um tributo à Bahia, sem nunca ter ido até lá. Quando Ary Barroso pisou em solo baiano pela primeira vez, em 2 de dezembro de 1940, o vereador aprovou uma lei que estabelecia que aquele seria o Dia Nacional do Samba. De acordo com o Ministério da Cultura, a data foi instituída em 1963. No ano seguinte, ela foi proclamado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como “Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade”.


Vamos acompanhar até domingo, dia 4, as atividades em todo o país.


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Em Salvador, o Dia Nacional do Samba foi antecipado para o domingo 27 passado, quando houve uma caminhada que reuniu nove trios elétricos que desfilaram do Campo Grande à Praça Castro Alves. 

Uma multidão de apaixonados pelo ritmo compareceu ao centro da cidade, fazendo uma prévia do carnaval – que no próximo ano acontece entre os dias 16 e 21 de fevereiro e fará uma homenagem ao escritor baiano Jorge Amado, quando ele completaria 100 anos de vida, com o tema “O País do Carnaval”.

A sexta edição da Caminhada do Samba reuniu mais de 300 mil pessoas e contou com a participação dos maiores blocos de samba da Bahia: Alvorada (Grupo Bambeia), Alerta Geral (Fora da Mídia), Pagode Total (É o tchan), Reduto do Samba (banda de mesmo nome), Proibido proibir (Pagode Versato), Vem Sambar (Movimento), Amor e Paixão (Batifun e Nelson Rufino), Samba Popular (Rito Negão) e Que Felicidade (Filosofia).

Os blocos fizeram o mesmo percurso do Circuito Osmar (Campo Grande), do carnaval de Salvador, sem cordas, tocando clássicos de grandes sambistas baianos como Riachão, Batatinha, Ederaldo Gentil e sambas de todas as épocas. 

De acordo com o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Claudio Tinoco, o número expressivo de pessoas demonstra que as raízes do samba estão em Salvador, cuja efervescência artística e cultural encanta turistas de todo o planeta. “E, como nos últimos anos, não poderíamos deixar de apoiar esta grande manifestação popular. Como na caminhada do samba, estamos reunindo com todos os órgãos envolvidos para que todas as festas populares ocorram de forma ordenada, alegre e pacífica”. {Bahia Todo Dia, 28/11/2011}


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No Rio de Janeiro, as comemorações pelo Dia Nacional do Samba, começam no início da noite de hoje (29) e vão até o próximo sábado (3). No sábado, pelo décimo sexto ano consecutivo, partirá da Central do Brasil, com destino ao subúrbio de Oswaldo Cruz, na zona norte da cidade, o tradicional Trem do Samba. A festa vem crescendo a cada ano e o trem, na verdade, já não é mais um. Nesta edição, serão cinco composições, cada uma com capacidade para mil passageiros, com saídas sucessivas entre 16h e 19h de sábado.

Trem do Samba
“A festa cresceu tanto que acho que seria o caso de pensar, para a cidade do Rio de Janeiro, em um feriado municipal para comemorar o Dia Nacional do Samba”, defende o sambista Marquinhos Diniz, um dos responsáveis pela organização do evento. Com o Trem do Samba atraindo um público cada vez maior, a concessionária SuperVia foi obrigada, desde o ano passado, a deslocar a saída das composições para o sábado seguinte ao dia 2, para não prejudicar o tráfego ferroviário em um dia de semana. Ver programação do Trem do Samba 2011 aqui.

Os shows que antecedem a festa serão realizados de hoje a sexta-feira (2), a partir das 18h30, em um palco montado ao lado da estação Central do Brasil. Lá, vão se apresentar grandes nomes do samba, como Nelson Sargento, Wilson Moreira, Monarco, Mauro Diniz, Marquinhos de Oswaldo Cruz e as velhas guardas da Portela e do Império Serrano. Na sexta-feira, a dose será dupla, com apresentações também em Oswaldo Cruz, a partir das 21h.

No sábado (3), o show começa ao meio-dia, na Central do Brasil, reunindo nomes como Delcio Carvalho, Noca da Portela e cinco velhas guardas de escolas de samba, além das da Portela e do Império Serrano, também as do Salgueiro, Vila Isabel e Mangueira. Fora da programação oficial, durante o trajeto do trem, há mais de 100 rodas de samba formadas pelos próprios passageiros, que levam seus instrumentos para as composições. “Esse é o grande barato da festa”, garante Marquinhos Diniz.

A programação termina na noite de sábado, com três palcos em Oswaldo Cruz, que receberão, a partir das 20h, shows de Mart’nália, Arlindo Cruz e do grupo Fundo de Quintal. Para Marquinhos Diniz, o Trem do Samba contribui para ressaltar a importância dos bairros percorridos pela linha férrea na geografia da música popular. “A função maior do trem é seguir os trilhos da memória do samba, que passam pelo subúrbio carioca. Assim como Copacabana e Ipanema foram cantadas pela bossa nova, o subúrbio sempre foi cantado pelo samba”, destaca.

O embarque nas composições do Trem do Samba será feito mediante a troca de 1 quilo de alimento não perecível pelo bilhete, na estação da Central do Brasil. Os alimentos arrecadados serão doados para o Programa Fome Zero. {Paulo Virgílio, Agência Brasil, 29/11/2011}




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Já em São Paulo, no dia 2 de dezembro, sexta-feira, o Dia Nacional do Samba, a União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) fará uma série de encontros e homenagens, com direito a um grande encontro de sambistas no encerramento.



As comemorações começam na quinta-feira (1º), com Encontro de Sambistas, às 12h, no Marco Zero do Samba, entroncamento das ruas Glória, Lavapés, Tamandaré e do Glicério, na zona sul da cidade. No mesmo dia, haverá também uma mostra de filmes sobre samba e Carnaval, que vai das 18h até às 6h de sexta-feira, na sede da Uesp.

Uma grande festa está marcada para começar às 21h do dia 2, na quadra da escola de samba Império de Casa Verde, onde haverá uma roda de pavilhões com participação das escolas Amizade Zona Leste, Nenê de Vila Matilde, Império de Casa Verde e Vai-Vai.

Na ocasião, será anunciado o casal cidadão e cidadã samba 2012 e os novos embaixadores do samba, grupo formado por sambistas com mais de 30 anos de dedicação e trabalhos ligados ao Carnaval Paulistano. A organização da festa promete uma surpresa para o encerramento.

O Museu Índia Vanuíre, da Secretaria de Estado da Cultura, realiza uma palestra na sexta-feira (2), às 15h, Dia do Samba, que abordará as relações entre o ritmo e a construção da identidade nacional, sua importância enquanto patrimônio imaterial brasileiro, além de destacar os principais sambistas que marcaram época, como: Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo e Pixinguinha. A atividade é gratuita e faz parte do Ano Internacional dos Afrodescendentes – celebrado pela Unesco em 2011. {Portal Vermelho, 29/11/2011}


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Samba na Gamboa: Martinho da Vila, 
Nelson Sargento e Diogo Nogueira

UMA CONVERSA SOBRE O DESEJO - Viviane Moreira


Dois sertanejos caminhando, cada um com sua matula rasa, que mal dá para um dia inteiro no roçado, o filho pergunta ao pai:

- Que qui é desejo?

O pai responde:

- Êta palaivra bunita, fio, qui ardi dentru da genti, qui nem fagúia das fuguêra de São João. Às veiz, um quenturão bão, traz veiz né bão não. Mais ardi, ardi, ardi…

- Iguar pimenta di revirá os zói?

- Ô fio, a gente é qui tem qui sabê cumé qui vai ardê…

- Êta, mar cumé qui nóis fica sabeno?

- Cum o vivê.

- Hmmm.

Gente do sertão. Da lida com a terra. Gente que conhece bem as sovinices da vida. Gente reverenciada por Guimarães Rosa, e que cedo aprende que “viver é perigoso”. Gente com olhar pra dentro, por vezes esquecido pelas gentes da cidade. Este diálogo poderia ser a primeira conversa entre pais e filhos. Entre namorados. Entre irmãos. Entre sócios. Um pacto a se renovar entre marido e mulher.

Seguindo a linguagem do pai sertanejo, poderíamos chamar o desejo de calor da vida. “Fogo” que nos movimenta em busca de um saber, de um fazer, do amor… Fazemos escolhas, mesmo quando não queremos, e mesmo sem sabermos por quê. Prosseguimos pelo caminho certo, bem-sucedido e, mais tarde, descobrimos que não estamos felizes, apesar de estarmos “bem”. Até quando pensamos que viver não custa tanto, a vida nos dá uma rasteira e, na marra, temos que nos reinventar. E qualquer postura que adotamos na dinâmica da vida, em seus altos e baixos, não nos livramos da teimosia do desejo, nem da sua sombra, quando ele, o desejo, nos falta – e sabe-se lá como a falta de desejo cobra de nós sua fatura…

Poderíamos aceitar mais o desejo como algo próprio da condição humana — estruturante — e talvez assim pudéssemos suavizar a angústia do existir. Poderíamos caminhar com mais leveza… Quem sabe, poderíamos até nos interessar mais pelo o que nos torna, desde o nascimento, “iguais”? Todavia, aceitaríamos com mais serenidade que o desejo de um nem sempre corresponde ao desejo do outro?

São tantos autoenganos pelo caminho… Tantos conflitos que surgem a partir do que nos escapa, ou do que foge do nosso controle. Sem falar dos conflitos que vêm da diferença…

Se nos rendêssemos à nossa condição de seres desejantes e “simplesmente” nos constituíssemos como tal, ainda assim precisaríamos inventar tanta moda pra suportar a diferença? Tantos rótulos, categorias e padrões? Quem sabe, poderíamos exorcizar nossos fantasmas em relação ao desejo? Nele ordenados e estruturados pra viver em liberdade, poderíamos nos tornar mulheres e homens capazes de aceitar o desejo – o nosso e o do outro – sem tanta doideira travestida de normalidade. De bem com a vida, pra valer, festejaríamos o desejo com alegria. E também, a diversidade. Talvez assim, homens e mulheres, mais resolvidos com seus próprios seres desejantes, pudessem dar alguma consistência à liberdade. E à alteridade.

Mas parece que nos distanciamos da liberdade. E com a violência cada vez mais grave e banal, parece que formamos uma sociedade pouco afeita com a diferença. Uma sociedade ameaçada pelo desejo? Hostil com a diferença e, cada dia, mais violenta.

Onde nos perdemos na liberdade? Sobretudo na liberdade como início de promessas? Liberdade como “autocomeço” – “porque existe um começo que o homem pode começar; e, começando por nascer, ele se destina a nascimentos renováveis que são também atos de liberdade” (Kant citado por Julia Kristeva em O gênio feminino: A vida, a loucura, as palavras – Hannah Arendt). Liberdade para (re)começar, para (re)nascer. Liberdade preservada pelo nascimento – este como possibilidade de começo para a promessa de “singularidade de cada existência”, como argumenta Hannah Arendt em A condição humana. Nascimento. Começo. Liberdade. Renascimento. Recomeço. Liberdade.

Como diz a personagem Godofredo (Rodolfo Vaz) do conto “Os três nomes de Godofredo”, de Murilo Rubião (adaptado por Silvia Gomez para o teatro – na peça O amor e outros estranhos rumores): “Todo mundo tem direito de mudar de lugar”. Que lugar? O lugar da falta de desejo. Mas é preciso abandonar o conforto do tédio, do ressentimento, da rotina massacrante, da vida em que falta sentido.

Desejo. Igualdade. Liberdade. Em algum ponto dessa história, nos desviamos. E nos tornamos fraternos – no medo?
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Crônica publicada originalmente no Amálgama.

Também publicada no Mucury Cultural.

Extraído do blog Balaio da Vivi, de Viviane Moreira

DICA: SOBRE A CHINA

Formato: LIVRO
Título original: On China
Editora: OBJETIVA
1ª ed. - 2011
576 p
Assunto: RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Sinopse: Em 'Sobre a China', Henry Kissinger escreve a respeito de um país que conhece intimamente e cujas relações modernas com o Ocidente ajudou a moldar. Lançando mão de relatos históricos e de suas conversas com diversos líderes chineses durante um período de quarenta anos, o autor examina como a China abordou a diplomacia, a estratégia e a negociação através de sua História, e busca refletir sobre as consequências do seu crescimento acelerado para a balança do poder no século XXI. (Livraria Cultura)

Secretário de Estado e Assessor de Segurança Nacional de dois presidentes (Richard Nixon e Gerald Ford, 1969-1977), o cientista político Henry Kissinger foi o principal arquiteto da aproximação entre os Estados Unidos e a China comunista, como uma maneira de pressionar a União Soviética, contra a qual os dois países tinham interesses comuns. Em seu livro mais recente, Sobre a China, Kissinger conta os bastidores dessa diplomacia triangular e procura traçar o panorama da história das relações internacionais chineses do século XIX aos dias atuais. Contudo, o resultado é decepcionante, pois Kissinger está preso a um formato de reflexão intelectual que leva em conta somente as intenções dos principais líderes políticos e dá pouca ou nenhuma atenção às grandes transformações das sociedades, ao desenvolvimento econômico e a temas como democracia e direitos humanos.

As primeiras 200 páginas do livro são dedicadas à análise histórica do período de declínio da China, com as guerras do Ópio, as concessões feitas às potências ocidentais, ao Japão e à Rússia e, finalmente, o turbulento período da primeira metade do século XX, com o colapso do império, a proclamação da República, a ocupação japonesa, a guerra civil entre nacionalistas e comunistas e a Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung na década de 1960. É uma história fascinante, mas foi narrada e analisada de modo mais competente do que aquele feito por Kissinger por autores como o historiador britânico Jonathan Spence, em seu Em busca da China moderna, e o economista italiano Giovanni Arrighi em Adam Smith em Pequim.

O foco de Kissinger é no modo como o imperador e os principais mandarins (altos funcionários) da China precisaram abandonar a ideia de que eram o centro das relações internacionais e se inserir no sistema de Estados liderados pelas potêncas ocidentais. Esse processo ocorreu pela força e, após derrotas em guerras para os britânicos, os chineses “convidaram outros países europeus [a estabelecer postos comerciais na China] com o propósito de primeiro estimular e depois manipular a rivalidade entre eles”. Para Kissinger, é parte do “princípio de derrotar os bárbaros próximos com o auxílio dos bárbaros distantes”.

O cientista político afirma que o paradigma chinês de pensar a diplomacia é bastante diferente do Ocidental. Enquanto este se baseia na vitória total e tem no xadrez seu principal modelo, a maneira da China seria melhor ilustrada pelo jogo tradicional Wei qi, uma espécie de gamão que “implica um conceito de cerco estratégico” e no pensamento de Sun Tzu com sua “ênfase nos elementos psicológicos e políticos acima dos puramente militares”. A metáfora é bonita, mas, com ligeiras adaptações, o que o autor classifica como tradição oriental poderia ser igualmente usado para descrever certas medidas dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, como o Plano Marshall e a criação da OTAN.

– Negociando com os Comunistas –

O livro torna-se mais interessante quando aborda a China após a Revolução Comunista de 1949. Kissinger examina os erros cometidos pela liderança dos Estados Unidos naquela época, mostrando como a rigidez ideológica do período os cegou para as possibilidades de explorar as divergências crescentes entre Pequim e Moscou, e atrelou Washington a uma aliança ineficaz com o regime nacionalista em Taiwan. Medos e desconfianças fizeram com que os Estados Unidos creditassem ao governo comunista chinês intenções agressivas com relação à Coréia, numa escalada que culminou com a guerra de 1950-2, que terminou num surpreendente impasse militar – ninguém esperava tal desempenho do exército chinês, desgastado após o longo embate contra japoneses e nacionalistas.

Kissinger enumera as razões pelas quais a União Soviética e a China divergiram entre si, apesar do regime comunista comum – disputas ideológicas por influência no Terceiro Mundo, conflitos regionais na Ásia, problemas de fronteira. Novamente, o cisma é melhor narrado por outros autores, como The Sino-Soviet Split, de Lorenz Luthi.

O que Kissinger tem a oferecer são anedotas – algumas delas saborosas – sobre suas negociações com líderes chineses como Mao, Zhou Enlai e Deng Xiaoping. Ele vê o primeiro como um filósofo camponês desconfiado e astuto, o segundo como um diplomata refinado, um mandarim cortês como os que serviram os imperadores. Claramente foi seu interlocutor favorito: “Mao era ávido por acelerar a história: Zhou se satisfazia em explorar suas correntes”. O terceiro é elogiado como pragmático e direto: “Ele incubia seus subordinados de inovar, depois endossava o que funcionava.” Há bons perfis dos líderes chineses da era de Deng, como o reformador heterodoxo Zhao Zyiang, o presidente Jiang Zemin e o chanceler Qian Quichen (“um dos ministros das Relações Exteriores mais habilidosos que já conheci”).

Henry Kissinger encontra-se com Mao Tsé-Tung (Pequim, 1973)

O livro traz boa narrativa da aproximação entre Estados Unidos e China, afirmando que “o que Nixon buscou durante toda a Guerra Fria foi uma ordem internacional estável para um mundo repleto de armas nucleares”. Isso significava inserir o governo comunista chinês no sistema das organizações internacionais, com Pequim assumindo sua cadeira no Conselho de Segurança da ONU, e chegar a acordos em temas espinhosos como Taiwan e Vietnã, onde os chineses apoiavam o norte comunista na guerra contra os americanos e o regime capitalista do sul.

Ironicamente, a China lutou uma breve guerra de seis semanas contra o Vietnã reunificado sob os comunistas, em 1979. Kissinger não estava mais no governo, mas faz brilhante análise do conflito, argumentando que se tratou da contenção de Pequim ao desejo vietnamita de montar um bloco sub-regional que incluiria também Camboja e Laos. O autor afirma que os Estados Unidos (então na presidência de Jimmy Carter) apoiaram implicitamente o regime genocida cambojano, que então lutava contra os vietnamitas. É das poucas referências aos direitos humanos no livro, junto com capítulo sobre o massacre da Praça da Paz Celestial.

As últimas 100 páginas englobam uma análise da China após a Guerra Fria e os conselhos de Kissinger para os Estados Unidos — deixar de lado temas como promoção da democracia e a soberania de Taiwan e continuar o processo de tornar o governo chinês um “stakeholder responsável” do sistema internacional, com o reconhecimento de suas demandas por respeito e da legitimidade de seu papel na ordem global. O desafio, para o autor, é garantir que a ascensão chinesa ao status de grande potência seja pacífica. (Maurício Santoro, Amalgama)

28 de novembro de 2011

DICA: CRIME DE IMPRENSA - Um Retrato da Mídia Brasileira

Formato: LIVRO
Editora: PLENA
1ª ed. - 2011
144 p
Assunto: JORNALISMO

Sinopse: Crime de Imprensa é o primeiro livro a mostrar, na história das eleições, como se comporta a mídia corporativa antipopular e atrelada a interesses que não coincidem com a vontade do nosso povo. Uma mídia que não hesita em usar os mesmos métodos do inescrupuloso magnata das comunicações Rudolph Murdoch. Em tom de sátira, os autores transmitem a perplexidade das pessoas lúcidas deste País não só com a cobertura jornalística falsamente “isenta” das campanhas eleitorais, mas também com a posição dos grandes veículos de comunicação diante de outros episódios da vida brasileira.

Autores: Os autores de Crime de Imprensa se conheceram no início da década de 1970 ao colaborar num número especial sobre Amazônia para Realidade, da Editora Abril – o paraense de Santarém Palmério Dória como repórter; e o paulista de Marília Mylton Severiano, o Myltainho, como editor de texto, função que já havia exercido ali ao participar da equipe fundadora daquela revista mensal que virou “cult”. Ficaram amigos nas redações da família Mesquita, Palmério no Estadão, Myltainho no Jornal da Tarde. Juntos, formando “dupla de criação”, ou separados, passaram por inúmeras outras redações, dentre elas TV Cultura, O Bondinho (bimensal de contracultura), Rede Globo, Aqui São Paulo (semanário de política e comportamento), TV Record, Canja (semanário dedicado à MPB), Folha de S. Paulo, Interview, Extra-Realidade Brasileira (série de livros-reportagem), e o mensário ex- (único a publicar reportagem sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, hoje nome de prêmio para quem defende os direitos humanos). Por coincidência, um trabalho de que se orgulham deu-se justamente em Londrina (1974-1975). Estavam na equipe que, a convite de Paulo Pimentel, criou Panorama, sob a direção de Narciso Kalili, Délio Cezar e Nacib Jabur. A turma pretendia tocar um diário que rivalizasse com Estadão e Jornal do Brasil, então mais importantes periódicos do país. A intenção foi frustrada por razões alheias à vontade do grupo, formado por profissionais de fora e da cidade – os locais em sua maioria jovens que se tornariam grandes nomes do jornalismo e da cultura paranaenses. Crime de Imprensa é o segundo volume de uma trilogia dedicada a expor mazelas do comportamento brasileiro (o terceiro está em preparo). O primeiro, Honoráveis Bandidos, “um retrato do Brasil na Era Sarney”, tornou-se inédito sucesso do jornalismo político: vendeu mais de 100 mil exemplares só nos três primeiros meses após o lançamento (setembro de 2009, Geração Editorial); Crime de Imprensa, pela editora Plena, mostra agora como boa parte dos empresários da mídia usa seus veículos mais como pontas-de-lança para fazer negócios do que para defender os interesses de nossa gente. Diziam os latinos que o riso corrige os costumes. Os dois jornalistas não perdem o bom humor e, amparados em fatos, não mais que fatos, da narrativa fazem divertido meio para você se informar melhor sobre bandalheiras midiáticas nacionais. Eis como um crime pode compensar: Crime de Imprensa, o livro. (Plena Editorial)

Ralph Peter apresenta o programa "Livros em Revista" e recebeu Palmério Dória, jornalista e escritor do livro "Crime de Imprensa". O programa vai ao ar toda quinta-feira ao vivo às 17h pela ClicTV (www.clictv.com.br) - Atualizado em 03/11/2011 às 18h37

MEDO - Charles Kiefer


O que vejo, ao retrovisor, são imagens invertidas: a cicatriz que estava no lado direito do rosto vai para o esquerdo. O rosto, aprendi no táxi, não é a soma de testa, nariz, bochechas e queixo, o rosto é outra coisa. Tem gente com feição furiosa que é mansa como cordeiro, tem gente com jeito de passarinho que é jararacuçu. Aqui, saber interpretar o rosto é uma questão de sobrevivência. Tive companheiros de profissão que cometeram o último erro, leram delicadeza onde só havia mágoa funda, ódio bruto. Hoje, os tais, os que não souberam ler, soletram vermes e terra, no Campo Santo. Eu, sobrevivo, sem tirar os olhos dos que se aboletam no banco traseiro. Entrou no carro, está registrado. Pelos espelhos, vejo além do rosto. Da prática, quase posso dizer a profissão, o estado civil, o bairro em que o vivente mora. É como se as pessoas fossem incorporando, na cara, o que fazem, o que são. Ontem, o casalzinho não me enganou. Ela, num vestido florido, cabelo de francesinha; ele, num camisão xadrez, melenudo. Ainda antes de apanhá-los na esquina da Oswaldo Aranha com a Santo Antônio, enfiei o trinta e oito embaixo da perna esquerda. Estavam muito longe de um supermercado, a sacolinha com as compras era disfarce, só podia ser. Entraram, sem cumprimentar. Boa tarde, eu disse. Ela respondeu, ele continuou quieto. Fixei-me nos olhos dela, ansiosos, e na boca dele, cheia de trejeitos e dentes saudáveis. Cafungadores. São os mais perigosos. Quem tem fome, não mata. Ou muito raramente. Quase sempre na primeira vez, que o nervosismo dispara o gatilho. Quem cheira, já atravessou o Rubicão, sabe que não tem volta. Matam, que já estão mortos. Segui rodando, o mais lento possível, queria tirá-los da toca. Atravessei o Túnel da Conceição, peguei a Farrapos, em direção à Zona Norte, conforme o solicitado. Não demorou cinco minutos, o magrão reclamou. Tudo bem, eu disse, e apertei o acelerador. Eu já ia recolher, provoquei. Pelo retrovisor não deu para ver, mas tenho certeza que as pupilas dela dilataram. Desde quando na luta? Ela quis saber. Cinco anos, eu disse. Na luta de hoje, ela continuou. Fiquei calado, à espreita. Desde que hora na rua? Ela insistiu. Seis da matina, rodo doze horas. Meu filho roda as outras doze, na noite. Somos sócios. Encurtei caminho, não valia a pena ficar toureando a novilha. O dia foi gordo, eu continuei, como que satisfeito. Assim que largar vocês, vou comprar um vestido, Dona Encrenca merece. Dona o quê?, ela perguntou. Minha mulher, expliquei. Riram, os dois. Aproveitei a distração deles, meti o pé no freio. Antes que se recuperassem, saltei do carro, abri a porta traseira e calcei a mulher no revólver. Mãos na cabeça, que arrebento os miolos dessa puta. Medo, nessa hora não se pode ter medo. Já me livrei de várias, porque aprendi a não ter medo. Nunca tive medo. Minto, uma vez sim, há trinta anos. O cheirador obedeceu, que ainda não estava em síndrome de abstinência. Na sacola de compras, a loira oxigenada trazia o trinta e dois niquelado. Ele, tinha no bolso um canivete de pressão. Formou uma fila de carros atrás do meu, na avenida, e um coral de buzinas. Seus merdas, não vêem que é um assalto? Demoraram pra perceber que era, e que o assaltante não era eu. Mantive os dois com as mãos espalmadas sobre o capô, até que chegasse uma viatura. Nem fui à DP, os praças me conhecem, me aposentei como delegado. Quando o Marcos, que era funcionário concursado do Banco do Estado, entrou no Plano de Demissão Voluntária, compramos o carro e a licença. Ia ficar fazendo o que, em casa? Vendo bundas na televisão? Eu rodo de dia, ele roda de noite. Temos ponto na frente da Assembléia Legislativa. Ele tem clientela fixa, transporta essa gurizada rica para as boates, as festas de formatura, os casamentos, leva as madames perfumadas para casa, depois das sessões do Theatro São Pedro. De vez em quando, ele me conta depois, acaba em cama de cetim. Eu, de dia, ando com gente fina, deputados, prefeitos, a mulherada que vem saracotear no parlamento, essa gente do Piratini, subversivos de paletó e gravata. Ainda há pouco, levei um deles ao Centro Administrativo. Um velho conhecido. Vez que outra, a moira coloca a gente no mesmo barco. Ou no mesmo carro. No mesmo porão. O que vi, ao retrovisor, na primeira vez em que ele entrou no meu táxi, foi o olhar suave, quase doce, o mesmo olhar sereno, de pomba enamorada, que tinha aos dezoito anos. Envelheceu. Está careca, mais gordo, a barba branca. Com certeza, nas horas de folga, nos finais de semana, continua a escrever poesia. Eu confiscava, na prisão, tudo o que ele punha no papel. Examinava verso a verso, à procura de mensagens cifradas. Poemas para a namorada, ele dizia no pau-de-arara, poemas para Alice. Medo, o poetinha me fez sentir medo. Nem em tiroteio, com as balas zunindo perto dos ouvidos, senti tanto medo como naquele sábado, há trinta anos. Ele entrou no táxi, afrouxou o nó da gravata. Pra onde vamos, doutor? Eu indaguei, antes de reconhecê-lo pelo espelho central. Senti que seu corpo se contraía, como que atingido por uma corrente elétrica. Ele ainda não sabia de onde vinha o medo, a ansiedade, o desconforto que o assaltava sob o efeito da minha voz. Minhas mãos grudaram no volante, molhadas de suor, meu intestino se contorceu, os músculos das pernas se retesaram. Eu sabia que ele andava por ali, no Palácio, secretário, assessor especial, coisa assim. A revolução deles deu no que deu, mas chegaram ao poder pelo voto, quem diria. Justo eles, que zombavam da democracia burguesa. Era impossível que eu o esquecesse. O único homem que me fez sentir medo. Pelo retrovisor, vi seus olhos verdes, tensos, quase suplicantes, como que em busca de um registro, um detalhe, que conectasse a voz que o angustiara a um rosto, a um episódio. Dos porões do Palácio da Polícia, eu disse. Nos conhecemos lá, na fossa, como vocês chamavam aquele buraco. O rosto crispado se descontraiu, o olhar ficou vago. Mirou, de viés, a multidão atravessando a faixa de segurança. Eu podia ver seu ar de beato, satisfeito consigo mesmo, vaidoso com o prazer que extraía de sua ridícula superioridade moral. Olho por olho, dente por dente, julgo eu. Por isso, gosto dos árabes, eles não perdoam. Depois, durante toda a viagem, evitou me encarar, mergulhado na sua atitude plácida, quase bovina, budista. Eu conhecia bem esse alheamento, essa fuga da realidade. Naquele sábado, tentei de todas as formas arrancá-lo desse pântano, fazê-lo abrir a boca, confessar o assalto, entregar a célula. Arranquei chumaços de cabelos, pedaços de carne, mas nenhuma palavra que incriminasse outros agitadores. Era sábado, e para que eu pudesse conviver um pouco com o meu filho, levara-o comigo, ao trabalho. Enquanto ele brincava no andar de cima, sob os cuidados de algum agente, eu apertava o poeta, no de baixo. Pedro, codinome, é claro, era franzino, barba rala, cabelo comprido e sujo, mas de uma resistência admirável, é preciso reconhecer. Naquele sábado, cansei de bater, apertar, eletrocutar. Antes que eu o matasse, o ódio contra aquela arrogância estúpida podia me levar ao desatino, entreguei-o ao cabo Esteves, um maricas humanitário, para que o lavasse, estava mijado e cagado, e para que o reanimasse, era o dia da primeira visita da família dos presos. Tomei uma ducha, subi ao escritório, brinquei um pouco com o Marcos, deitei-me no sofá e adormeci. Acordei com a gritaria do soldado Alfeu, o menino sumira. Marcos tinha nove, quase dez anos. Vasculhei cada sala, nos andares de cima. Conferi o relógio, passava das seis. Eu tinha dormido mais de quatro horas. Ao chegar às celas, nos porões, o coração disparou. Vi, no fundo do corredor, à luz baça, uma sombra à porta do banheiro, e ouvi um murmúrio. Avancei com dificuldade, meio que escorado à parede, sem coragem de enfrentar o que viria, o que eu pressentia. Medo, eu senti medo, como nunca tinha sentido. Marcos, carne da minha carne, não tinha nada a ver com aquela miséria, com aquele horror, eu cumpria ordens, ele era apenas um menino. Meu filho, meu filho, eu murmurava a cada passo. Parei na porta do cubículo, sem fôlego. Pedro, barbeado, já recuperado da sessão da tarde, um olho quase fechado pelo inchaço do rosto, estava trocando os curativos diante de um espelho manchado pela umidade, com o auxílio de Marcos. Sobre a pia, o jovem revolucionário deitara a navalha inocente, recém-lavada, com a lâmina aberta. A seu lado, prestativo e diligente, meu filho estendia-lhe uma gaze limpa, imaculada. Pedro virou o rosto e me encarou, com seu olhar suave, quase doce, sereno, de pomba enamorada. Ao seu dispor, eu disse, mas ele desceu do táxi em silêncio.

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Extraído do sítio Releituras



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Material fonográfico da Rádio Senado FM sobre o conto "Medo" de Charles Kiefer:

DICA: CLARABOIA

Formato: Livro
1ª ed. - 2011
384 p
Assunto: LITERATURA ESTRANGEIRA - ROMANCE

Sinopse: Primavera de 1952. Um prédio de seis apartamentos numa rua modesta de Lisboa é o cenário principal das histórias simultâneas que compõem este romance da juventude de José Saramago. Os dramas cotidianos dos moradores - donas de casa, funcionários remediados, trabalhadores manuais - tecem uma trama multifacetada, repleta de elementos do consagrado estilo da maturidade do escritor, em especial a maestria dos diálogos e o poder de observação psicológica.

As janelas, paredes e corredores do velho edifício lisboeta são testemunhas privilegiadas das pequenas tragédias e comédias representadas pelos personagens. As peripécias de Lídia, uma bela mulher sustentada pelo amante misterioso, e Abel, um jovem outsider à procura de um sentido para a vida, se contrapõem ao árduo cotidiano dos outros moradores. As narrativas paralelas do livro são organizadas segundo as divisões internas do prédio, do térreo ao segundo andar. (Livraria da  Folha)

O escritor português José Saramago (1922-2010) escreveu "Claraboia" (Companhia das Letras, 2011) no início dos anos 1950. Era pouco conhecido e tinha apenas um romance publicado. A editora para a qual mandou os originais nunca o respondeu ou devolveu o texto. O volume ficou parado no tempo.

Nos anos 1980, a cena se inverteu e o futuro prêmio Nobel de Literatura (recebido em 1998), já famoso e prestigiado, foi procurado pelos mesmos editores. Eles encontraram o livro, até então perdido, e tinham enorme interesse em levá-lo ao prelo.

Seja por achar que o romance não correspondia à maneira atual como enxergava o mundo e a literatura ou por mágoa pelo descuido da editora, o português decidiu deixar a publicação guardada para que seus herdeiros decidissem o que fazer com ela.

Pouco mais de um ano após sua morte, seus parentes resolveram compartilhar com o mundo o provável último gostinho de novidade literária vindo de Saramago. O volume chegou dia 4/11 às prateleiras brasileiras pela editora Companhia das Letras. (Livraria da Folha)


100 ANOS DE MÁRIO LAGO III - INTELECTUAL, POLÍTICO E BOÊMIO - Antonio Capistrano

Ator, compositor, radialista, poeta, militante político, comunista de carteirinha, formado em ciências jurídicas, ofício que nunca exerceu. Mário Lago se estivesse vivo, neste ano da graça de 2011, exatamente no dia 26 de novembro, completaria 100 anos de vida.

Ele faz parte de uma geração de intelectuais que se engajou na luta política ao lado da classe trabalhadora em defesa de um mundo democrático. Como muitos outros intelectuais da sua época, era ligado ao Partido Comunista do Brasil, motivo pelo qual foi preso diversas vezes. Amigo e admirador de Luiz Carlos Prestes, a quem homenageou colocando o nome de um dos seus filhos de Luiz Carlos. Durante toda a sua vida manteve uma solida amizade com Oscar Niemeyer, outro grande nome da cultura brasileira, seu companheiro das letras, camarada do PCdoB e da boêmia.

Mário Lago marcou o seu nome na MPB, era um grande letrista, com canções que até hoje fazem sucesso, entre tantas, podemos citar: “Atire a primeira pedra” e “Ai que saudade de Amélia”, as duas em parceria com outro grande bamba da MPB, Ataulfo Alves. Quem não cantarolou “Aurora”? Grande sucesso dos velhos carnavais, música de sua autoria em parceria Roberto Roberti. Outro grande sucesso de sua autoria foi “Nada Além”, esse em parceria com Custodio Mesquita, uma bela canção, que até hoje escuto maravilhado, com a letra e com a interpretação do cantor das multidões, Orlando Silva. Muitos outros sucessos de Mario Lago foram gravados na voz de Mário Reis, Carmem Miranda, Nora Ney, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Ney Matogrosso, Noite Ilustrada, Gal Costa, Nelson Gonçalves e tantos outros cantores das novas gerações.

Mário Lago teve, também, importante participação nas radionovelas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emissora da qual foi diretor, sendo demitido e preso com o golpe militar de 1964. Ele ficou nacionalmente conhecido através da sua atuação nas telenovelas da rede Globo, aonde trabalhou até o final da sua vida. Mário Lago fez parte do elenco de novelas de grande sucesso dessa poderosa rede de tevê, tais como: “Selva de Pedra”, “O Casarão”, “Nina”, “Brilhante”, “Elas por Elas”, “Barriga de Aluguel”, “Dancing Day”, “Pecado Capital”.

Na sua longa trajetória de vida, 91 anos, sempre foi ligado às manifestações artísticas e culturais, principalmente, a música, a poesia e a arte da interpretação, por isso relegou a sua formação acadêmica, a advocacia, a um mero diploma sem nenhuma utilização prática. Mário foi um grande ator, letrista, compositor e militante comunista.

Outro aspecto da sua vida foi a sua luta em defesa das riquezas nacionais, especialmente, a luta pela criação da Petrobras. Na campanha “O Petróleo é nosso”, ele teve uma participação efetiva, por esse motivo recebeu diversas homenagens nas comemorações dos 50 anos da Petrobras, entre elas a publicação do fac-similar do livreto “O povo escreve a história nas paredes”, em anexo, a edição de um livro do jornalista Sérgio Augusto e da historiadora Mônica Veloso sobre Mario Lago. Um belo livro. Tenho um exemplar que me foi presenteado pela Petrobras.

Outra significativa e justa homenagem feita pela Petrobras foi à denominação da usina termelétrica em Macaé de Usina Termelétrica Mário Lago.

No mês em curso, novembro de 2011, nas comemorações do seu centenário, 26 de novembro, está programado uma série de homenagem ao nosso grande Mario Lago, que por coincidência nasceu no Rio de Janeiro e foi criado no bairro da Lapa, centro boêmio da Cidade Maravilhosa. 

Mario Lago era um frasista dos bons, por isso finalizo esse simples registro transcrevendo duas das suas famosas frases: a primeira aonde ele diz, “Fiz um acordo de coexistência pacifica com o tempo, nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia, a gente se encontra”, a outra, na mesma linha de pensamento - “Eu não sou saudosista. Não fico lamentando: ‘ah, o meu tempo’. Meu tempo é hoje. Não fico na calçada vendo o desfile passar. Eu vou junto”.

Realmente ele foi junto, participou ativamente da vida do nosso país em diversas frentes: como ator, dramaturgo, escritor, poeta, radialista, militante comunista, foi um grande boêmio. Mário Lago faz parte da galeria dos grandes nomes da Pátria Brasileira e, especialmente, do Partido Comunista, aqui do Brasil. Portanto, saudemos Mário Lago, nos 100 anos do seu nascimento.

* Antonio Capistrano – ex-reitor da Uern é filiado ao PCdoB

Extraído do Portal Vermelho