22 de outubro de 2011

SONHANDO COM HOMENZINHOS VERDES - Moacyr Scliar

DESDE CRIANÇA era fascinado por viagens aéreas e viagens espaciais. Representavam um verdadeiro sonho, um sonho que, de certa forma, era estimulado pelo pai, que todas as noites lia-lhe trechos de um livro: a história de um jovem que constrói uma espaçonave e desembarca no planeta Marte, onde é recebido por homenzinhos verdes que têm na cabeça curiosas antenas.

Homenzinhos verdes com antenas. Ah, se ele pudesse encontrá-los, se pudesse voar como o jovem herói! Queria ser piloto e, aos 15, 16 anos, começou a se informar a respeito.

Começaria pilotando um Boeing, mas seu objetivo mesmo eram as viagens espaciais: trataria de conseguir um lugar na Nasa.

Para sua surpresa e desapontamento, o pai não se mostrou nada favorável. Ao contrário, desaprovou a ideia de forma categórica e até ríspida. O que até certo ponto era compreensível: seu irmão tinha morrido num desastre aéreo, e ele não podia sequer ouvir falar em aviões.

O jovem tentou convencê-lo, afinal tratava-se apenas de uma coincidência, infeliz coincidência, mas coincidência de qualquer modo. O homem, porém, manteve-se irredutível: já perdi um irmão, não quero perder um filho também.

A mãe e a irmã juntaram-se ao coro, e ele acabou fazendo vestibular para engenharia. Foi aprovado, claro, era um aluno brilhante. Fez o curso, formou-se, abriu um escritório e acabou fazendo sucesso na engenharia, ganhando muito dinheiro.
Casou, teve um filho; e para o garoto ele lia o mesmo livro que encantara sua infância e que o pai, falecido, lhe deixara. E ficava horas olhando os desenhos que mostravam os homenzinhos verdes com as curiosas antenas na cabeça.
Recentemente ele leu no jornal a notícia de que duas grandes empresas, a Boeing e a Space Adventures, estão planejando entrar no ramo do turismo espacial. E isso lhe deu uma ideia, emocionante ideia: por que não fazer a mesma coisa no Brasil?
Poderia, com o dinheiro e a experiência administrativa longamente acumulada, criar sua própria empresa de viagens espaciais. Mais que isso, poderia ser se não o piloto da nave, pelo menos o copiloto. E viver, finalmente, a aventura com a qual sempre sonhara.
Mas não vai fazer isso. Por causa de um temor que tem. O temor de que um dos passageiros, no meio do voo, livre-se do capote em que está embuçado e se revele um homenzinho verde com curiosas antenas na cabeça. Em seguida, sacando sua pistola espacial anunciará: - Isto é um sequestro. Esta nave espacial vai para Marte. E de lá nunca mais retornará.