22 de outubro de 2011

A NOITE DOS CRISTAIS DE TIM MAIA - Nelson Motta


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Tim era réu confesso de ter " mandado o Lima " (faltado, na gíria dos músicos) a diversos shows. E por causa dessa fama também foi vítima inúmeras vezes de empresários e produtores trapalhões e trambiqueiros. Tim até criara uma senha com a banda para dar o sinal de retirada caso o empresário não aparecesse com 50% do "levado" em dinheiro vivo antes de começar o show. Bastava Tim falar " estratégia " que o pessoal nem tirava os instrumentos das caixas e começava a se dirigir para o ônibus. Mas não foi o caso no ginásio do Guarani, em Campinas. Foi pior. Tim estava ansioso para cantar e fazer um show legal para o povão que lotaria o ginásio e cantaria seus sucessos com ele e a Vitória Régia. Tim era a atração principal, entraria por volta de meia-noite, depois de várias bandas locais. Onze horas o empresário os pegaria no hotel. Uma da manhã e nada. Tim pronto, a banda inquieta, tensão no hotel. As duas da madrugada finalmente o homem apareceu, transtornado. Alguma coisa dera muito errado, menos público que o esperado, roubo da bilheteria, calote de um patrocinador, o empresário tentou ser correto e ofereceu pagar 50% do cachê a Tim - para não fazer o show. Tinha seus motivos, mas Tim insistiu, já que tinha feito a viagem e estava esperando até aquela hora, louco para cantar, concordou em receber metade do "levado" - mas faria o show inteiro. Uma ilusão perigosa. No ginásio, os ânimos estavam exaltados. Por volta de uma da manhã, como Tim Maia não aparecia, o público começou a vaiar e a gritar pelo dinheiro de volta, choveram garrafas, brigas estouraram, a policia interviu várias vezes, mas os mais furiosos resistiam. Quando Tim e a Vitória Régia chegaram, o chão estava coberto por cacos de vidro, o povo gritava furioso, o empresário implorou que ele não entrasse no palco. Tim mandou ligar o som e que a banda atacasse a introdução de "Sossego", sua música acalmaria as feras. Entrou sob uma gritaria infernal e, mal começou a cantar, uma garrafa jogada da arquibancada explodiu a seus pés. Outras se seguiram, sobre os músicos, os instrumentos e equipamentos, nem foi preciso gritar " estratégia ". Fugiram para o camarim aterrorizados, choviam garrafas sobre o palco, a turba gritava "quebra!", "mata!", "bota fogo!". Enquanto os bombeiros tentavam esfriar a massa enfurecida com jatos de água, protegidos por um batalhão de choque da PM, Tim e os músicos embarcaram num camburão, o meio mais seguro de levá-los vivos de volta ao hotel. Foi a única vez que Tim ganhou para não fazer um show e andou no banco da frente de um camburão.

Extraído de: Sítio Sintonia Fina com Nelson Motta.