22 de outubro de 2011

AS CORES DA BANDEIRA RIO-GRANDENSE - Alcy Cheuíche

Eleito patrono dos Festejos Farroupilhas de 2011, uma das primeiras perguntas que a imprensa me fez foi: O que o senhor pretende fazer durante as comemorações? Pregar idéias, respondi. A primeira delas sobre o verdadeiro significado da Guerra dos Farrapos.

Depois de muitos anos convivendo com o tema, não tenho a menor dúvida de que os farroupilhas lutaram contra o Império e não contra o Brasil. Já no primeiro manifesto após a tomada pacífica de Porto Alegre, publicado no dia 25 de setembro de 1835, Bento Gonçalves deixa bem clara essa posição. A luta era conta o arbítrio dos prepostos imperiais, que haviam fechado pelas armas a nossa Assembléia Legislativa (instalada há apenas três meses), contra a corrupção, contra o abandono do Rio Grande do Sul do ponto de vista administrativo: sem estradas, sem escolas, sem poder judiciário. É preciso também não esquecer que a nossa independência tinha apenas treze anos e estava ameaçada pelos restauradores, por aqueles que desejavam a volta dos portugueses e eram chamados de “caramurus”. Tanto isso é verdade, que o barco que levou Fernandes Braga, o presidente da província, em sua fuga para Rio Grande foi escoltado por navios de guerra de Portugal.

A palavra farroupilha, ao contrário da crença geral, não surgiu no Rio Grande do Sul e sim no Rio de Janeiro. Chamava-se “A Trombeta Farroupilha” um jornal que defendia os excluídos e lutou pela queda de D. Pedro I, em 1831. Esses liberais, que pregavam a República, eram geralmente maçons e atuaram em diversas províncias brasileiras. Foram eles que tentaram tirar Bento Gonçalves da Fortaleza da Laje, na entrada da Baía da Guanabara e conseguiram sua evasão na Bahia. Foram eles que agitaram também Minas Gerais e São Paulo, dentro do projeto de criar repúblicas nas diversas províncias brasileiras e uni-las numa federação chamada Brasil. 

Quando os farroupilhas mandaram tropas para Santa Catarina (leia-se os lanceiros negros de Teixeira Nunes e os marinheiros de Garibaldi), em julho de 1839, Bento Gonçalves escreveu um artigo no jornal “O Povo” explicando que o plano era subir o mapa e apoiar todas as novas repúblicas brasileiras. Se não fosse assim, o certo era fechar as fronteiras e só pensar na República Rio-Grandense, tão carente de recursos para sua própria sobrevivência. 

Do ponto de vista simbólico, porém, basta olhar as cores da Bandeira Rio-Grandense para entender que os farroupilhas não eram separatistas. Se o fossem, por que manteriam as cores verde e amarela? A faixa vermelha é a cor republicana tradicional. Nada mais simples de entender. O verde-amarelo do Brasil, mas com o vermelho da República. 

Essa é a verdade histórica. Que deve ser ensinada em todas as escolas brasileiras. Com a derrota dos farroupilhas, o projeto republicano foi adiando por meio século. E já chegou exaurido em 1889. Que foi mais um golpe de estado do que uma conquista popular. 

Extraído de: Sítio de Alcy Cheuíche